Queda de roubos no centro de SP não reverte alta recorde registrada em 2022

Por MARIANA ZYLBERKAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O centro de São Paulo terminou o ano passado menos violento do que começou, de acordo com as estatísticas. Foram registrados 7,9% menos roubos do que em 2022, e os furtos se mantiveram em ritmo de queda nos quatro distritos policiais que abrangem a região.

O declínio nos índices criminais, porém, não foi suficiente para retroceder a alta recorde de furtos e roubos de 2022. Naquele ano, as áreas da Sé, Campos Elíseos e Consolação tiveram a maior quantidade de roubos da série histórica, iniciada em 2001.

Na região central, no ano passado, foram registrados 14.231 assaltos, 9% a menos do que no período anterior, quando foram contabilizados 15.653 ocorrências. Em comparação, em 2021, a região teve 9.512 roubos.

Em relação aos furtos, a retração foi menor, e esse tipo de crime se manteve estável no ano passado em comparação com 2022. Foram 34 mil ante 33 mil ocorrências.

A dispersão da cracolândia pelas ruas centrais da cidade, após operação policial que desmantelou a concentração de dependentes químicos na praça Princesa Isabel, em maio de 2022, está entre as causas do aumento da violência e degradação do centro.

Entre os moradores, a sensação de insegurança perdura, apesar da redução dos roubos. "Muita gente deixou de registrar boletins de ocorrência", diz Charles Souza, conhecido como Charles Resolve, presidente da Associação Geral do Centro de São Paulo. "O sentimento é de que ir na delegacia é uma perda de tempo", continua.

Ele conta que escuta gritos de socorro de pessoas assaltadas todos os dias em frente ao seu escritório, no centro. "A sensação de insegurança é grande, não podemos andar com celular. A gente vê idosos sendo arremessados ao chão, mulheres sendo assaltadas", diz.

No último domingo (28), usuários de drogas invadiram e saquearam uma loja de eletrônicos na Santa Ifigênia, a poucos quarteirões de onde a cracolândia está fixada. O comércio estava no mesmo ponto havia cerca de dez anos e irá encerrar as atividades diante do prejuízo avaliado em R$ 300 mil.

Em nota, a secretaria da Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a região central é prioridade nas ações de combate à violência e que reforçou o policiamento ostensivo e preventivo, com mais 120 policiais militares nas ruas.

Na segunda-feira (29), após a repercussão da ocorrência, Tarcísio prometeu ampliar o efetivo na rua com mais de 2.000 policiais militares até o fim deste ano.

"Vamos fazer a convocação de militares da reserva para assumir funções administrativas no quartel e liberar efetivo para a cidade", disse Tarcísio. "Lamentamos os crimes noticiados e, em parceria com a prefeitura, vamos investir tempo e energia para mudar a realidade do centro", declarou, ao lado do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Segundo o governador, a gestão também vai investir em câmeras de monitoramento, a serem instaladas em até dez meses. O plano está orçado em R$ 158 milhões e faz parte do Muralha Paulista, programa do governo para a segurança pública.

Maior parte do efetivo citado pela secretaria estadual se fixou na praça da Sé, onde os roubos reduziram 7,4% no ano passado e os furtos mantiveram o mesmo patamar. Em abril do ano passado, a gestão Nunes cercou a praça com gradis para impedir a permanência de moradores de rua no marco histórico. A polícia também desmantelou a feira de produtos roubados que acontecia lá.

Houve aumento do policiamento também no entorno da avenida Paulista, que teve recorde de roubos em 2022. No ano passado, foram registrados 20,9% menos roubos e 14,4% menos furtos no 78º DP (Jardins).

A sensação de segurança melhorou na Paulista, segundo Raphaela Galletti, presidente da Associação Movimento de Moradores, Prestadores de Serviço e Comerciantes da Avenida Paulista e Entornos (MovPaulista). "Não se vê mais a gangue da bike e aqueles grupos que coagiam quem passava", diz. "Mas os roubos migraram para as ruas adjacentes", relata.

Isso é visto nas estatísticas. Enquanto o distrito policial que atende o entorno da Paulista teve queda de roubos e furtos, no 4º DP (Consolação) foram registrados 11,8% mais furtos e os roubos se mantiveram estáveis com tendência de alta no ano passado.

Para Arthur Trindade, associado sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o aumento do policiamento não é eficaz para combater a sensação de insegurança na região central. "Para lidar com o medo do crime, não basta apenas ter policia. Precisa de uma política de segurança pública abrangente que inclua mais iluminação, limpeza dos terrenos baldios, revitalização de áreas públicas e o sistema de transporte", diz.

O pesquisador explica que a sensação de insegurança não tem relação direta com a queda ou a alta dos indicadores criminais, mas com a percepção de crimes com possibilidade de contato físico violento, como roubos, ameaças e agressões. "As estratégias para melhorar o medo do crime são diferentes das usadas para lidar, por exemplo, com homicídios, latrocínios e crime organizado", diz. "É humanamente impossível prender todos os ladrões de rua. É o famoso enxugar gelo", prossegue Trindade.

Para ele, a saída exige articulação entre estado e município para resolver questões de segurança, zeladoria e assistência social.

Degradado, o centro foi alvo de uma série de promessas de revitalização anunciada pelo governador e o prefeito em evento para comemorar os 470 anos de São Paulo, na última quinta-feira (25), como a criação de um distrito turístico urbano na área histórica da cidade, além do pontapé inicial para o projeto de implantar o sistema de VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), batizado de Bonde de São Paulo.

No domingo, Nunes afirmou que planeja colocar mais 500 profissionais da GCM (Guarda Civil Metropolitana) nas ruas do centro, tomadas pela cracolândia e batedores de carteira sobre bicicletas. E voltou a citar a central de monitoramento do Smart Sampa, que funcionará no Palácio dos Correios, no vale do Anhangabaú, com entrega prevista para 16 de fevereiro.