Superlotação e empurra-empurra criam mal-estar nos blocos em São Paulo
A multidão em abadás e acessórios azulados andou espremida nas ruas e calçadas. O empurra-empurra também se agravou e algumas pessoas, incluindo a reportagem, caíram em razão de trancos.
SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, E SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - Assim como no domingo (11), a segunda-feira (12) de Carnaval foi marcada por sol escaldante, calor e muito aperto nas ruas e avenidas durante os desfiles de blocos nos principais palcos da folia brasileira.
Em São Paulo, o centro da capital recebeu alguns dos principais cortejos de foliões. A travessia da Espetacular Charanga do França pelo bairro da Santa Cecília, por exemplo, ganhou ares de megabloco. O desfile de instrumentistas liderados por Thiago França ficou grande demais para as ruas estreitas de sua rota.
A multidão em abadás e acessórios azulados andou espremida nas ruas e calçadas. O empurra-empurra também se agravou e algumas pessoas, incluindo a reportagem, caíram em razão de trancos.
A situação piorava quando a banda parava para tocar ou o cortejo enfrentava curvas -são muitas. A cada uma delas, grupos desistiam do bloco e buscavam novos destinos. Algumas pessoas, porém, ficavam presas na multidão. "Não dá, isso tem que migrar para um espaço maior. Alguém vai morrer na situação atual", disse a psicóloga Helena Caldas, 45.
Durante a manhã, os foliões também tiveram a companhia do calor. Às 9h, os termômetros já marcaram 30ºC em São Paulo, e a aglomeração só aumentava a sensação térmica. Moradores da Santa Cecília até tentaram ajudar, jogando água de seus prédios através de mangueiras. Era, porém, batalha perdida contra o sol. "Tá muito abafado, tem muita gente e pouco espaço, ninguém curte assim. Nem os braços dá pra levantar", declarou o fisioterapeuta Gabriel Luz, 27.
Houve relatos de pessoas passando mal devido ao combo de temperatura e aperto.
Perto dali, Mariana Aydar levou o bloco Forrozin à avenida Ipiranga para homenagear o aniversário do músico Dominguinhos. O bloco de forró, que já é tradicional no centro da cidade, iniciou seu desfile entoando "Sampa", de Caetano Veloso. Depois, Mariana levantou o coro do bloco com "Lamento Sertanejo". Foliões e famosos, como Rita Cadillac, acompanharam a homenagem ao mestre de cima do trio.
Na avenida Faria Lima, na zona oeste, uma massa de rostos jovens se uniu ao bloco Dre Tarde, organizado pelo DJ Dre Guazzarelli. Nas mãos dele, sucessos da música brasileira ganharam novas mixagens que fizeram sucesso entre os presentes. A atração, comemorando sua sexta edição, ainda recebeu o celebrado DJ britânico Jonas Blue.
No Ibirapuera, na zona sul, o bloco Vou de Táxi começou o dia com sucessos nacionais e internacionais dos anos 90 e 2000, de Jota Quest e Sandy & Júnior a Backstreet Boys e Michael Jackson. À tarde, porém, o espaço deu lugar à música sertaneja no bloco Villa Country Pinga Ni Mim. O ápice foi a apresentação da dupla João Bosco & Vinícius, que escolheram o sucesso "Chora, Me Liga" para abrir a apresentação e logo alguns foliões se juntaram para dançar a dois.
Para os foliões que acompanharam os blocos no Ibirapuera, um lanche vendido no local chamou a atenção: a coxinha burguer. Ao preço de R$ 40, ele prometia repor as energias dos foliões, o que foi comprovado pela dona de casa Sílvia Macedo, 59, que voltou ao parque do Ibirapuera nesta segunda (12) para repetir a guloseima.
Ela provou a coxinha no sábado (10) e ficou com vontade de quero mais. "É diferente, maravilhosa", elogiou.
Sílvia provou a versão em que a coxinha gigante é cortada ao meio e ganha um generoso hambúrguer, acompanhado de tiras de bacon. Ela e a filha pagaram os R$ 40, mas, como dividiram o prato, não acharam o valor alto. "Provamos outras opções de lanche nos últimos dias e esse foi o melhor", garantiu a nora de Sílvia, a vendedora Aline Garcia, 34.
São Luiz do Paraitinga
No interior paulista, São Luiz do Paraitinga (SP) voltou a arrastar multidões com seu original Carnaval de marchinhas após três anos sem realizar a festa entre os seus casarões históricos. As edições de 2021 e 2022 não rolaram por causa da pandemia de Covid-19. Já a edição 23 foi cancelada por causa das chuvas que atingiram o distrito de Catuçaba, localizado a cerca de 20 km dali. Mesmo assim, teve bloco desfilando, só que no chão.
Pessoas de todas as idades, sedentas de cair na festa e se esbaldar no meio dos cortejos de um dos Carnavais mais tradicionais do país, enfrentavam o calorão, que, no meio da multidão, era ainda mais intenso: 32°C à sombra. Havia uma espécie de energia represada, doida para ser liberada.
FOLIÕES USAM REPELENTE PARA SE PROTEGER DA DENGUE NO RIO
Em estado de emergência desde o início de fevereiro, a cidade do Rio de Janeiro enfrenta um surto de dengue durante o Carnaval. Só no mês de janeiro foram registrados 10.156 casos, quase metade dos 22.959 verificados durante todo o ano de 2023. Para escapar do Aedes aegypti, transmissor da doença, a prefeitura e os próprios foliões já estão tomando medidas durante a folia.
É o caso de Julia, 26, que veio de São Paulo para o seu primeiro Carnaval no Rio de Janeiro. Ao ver os números de casos subindo, a turista garantiu um estoque de repelente para usar durante a viagem.
"Quando fiquei sabendo da situação da dengue no Rio de Janeiro, fiquei assustada. Comprei vários repelentes e trouxe comigo, aplico no hotel e reaplico na rua, no bloco, em qualquer lugar. O importante é se proteger", afirmou.
Até a última sexta-feira (9), o Brasil registrava 408.351 prováveis casos de dengue, com 62 mortes e 279 óbitos em investigação, segundo o Ministério da Saúde.
Medidas também então sendo tomadas na Marquês de Sapucaí, com a aplicação de repelentes por parte de equipes do governo do estado.
Favorito dos coroas, o megabloco Sargento Pimenta lotou o aterro do Flamengo, na altura da Glória, na capital fluminense, por mais um ano. O bloco continua provando que Beatles pode ser música de folião.
Trio de Ivete Sangalo tem defeito e fere duas pessoas
Em Salvador (BA), um defeito na mangueira do tanque de gás carbônico do trio elétrico de Ivete Sangalo deixou duas pessoas com ferimentos leves e assustou foliões, convidados e membros da equipe da cantora baiana.
O defeito fez com que a equipe técnica liberasse todo o gás, que é usado como elemento cenográfico da apresentação. Ivete desfilou nesta segunda-feira (12) o circuito Barra-Ondina com o bloco Coruja.
A cantora chegou a paralisar a apresentação e buscou tranquilizar os foliões que acompanhavam o seu trio elétrico. Por causa do incidente, a equipe decidiu retirar os convidados de cima do trio por questão de segurança.
Em outro momento do desfile, o trio elétrico ficou inclinado para o lado direito e os convidados que estavam em cima do veículo foram orientados a ir para o outro lado, para contrabalançar o peso.
A assessoria de comunicação da cantora informou que os feridos passam bem e que a situação no trio elétrico está sob controle.
No circuito do Campo Grande, a banda BaianaSystem emendou alguns de seus maiores sucessos que misturam guitarra baiana, dub e soundsystem. Em cima do trio elétrico Navio Pirata, o vocalista Russo Passapusso fez um discurso em defesa do direito à cidade.
Na sequência, a banda gê fez uma homenagem ao bloco afro Ilê Aiyê, que completou 50 anos de fundação.
Já o bloco de protestos Mudança do Garcia foi para avenida como espírito da recente operação da Polícia Federal, que teve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos alvos.
Os foliões foram para a rua vestidos de preto e usando réplicas dos distintivos da Polícia Federal. Na cabeça, usavam passadeiras com a mensagem "toc toc toc", replicando um meme popular na internet que faz às batidas na porta na chegada da PF na casa de seus alvos.
FREVO MANTÉM DOMÍNIO NO CARNAVAL DE OLINDA
Na terra do frevo, do maracatu e caboclinho, Carnaval é tradição com fortes doses de bairrismo. Pode parecer estranho ou no mínimo inusitado aos que vêm de fora, mas até o hino do estado é tocado pelas orquestras de frevo de Olinda -e não há um pernambucano que não cante a plenos pulmões ao menos o refrão.
De manhã até a noite, quem dá o tom à festa são os ritmos locais, com o frevo no comando. Não tem "Macetando", "Perna bamba" ou "Joga pra lua". Os hits do Carnaval de rua continuam sendo as músicas de Alceu Valença, Almir Rouche, Nena Queiroga, Otto, Nação Zumbi e Reginaldo Rossi, além dos frevos clássicos que há décadas compõem a trilha dos dias de folia.
Do Elefante, Pitombeira, Homem da Meia-Noite, Cariri, Eu Acho é Pouco e Ceroula, blocos mais tradicionais, até os mais novos, como o Bloco da Ema, A Troça, Mulher na Vara ou Bloco dos Sujos, não há espaço para som mecânico.
As orquestras executam tudo ao vivo, subindo e descendo ladeira, faça chuva ou faça sol. Difícil ficar longos minutos sem ouvir os acordes dobrando a esquina e os foliões cantando em coro. Quando o silêncio permanece um pouco mais, o pedido é uníssono: "eu quero freeevoooo!".