Operação Verão da PM chega a 30 mortos no litoral de SP e só fica atrás do massacre do Carandiru

Por PAULO EDUARDO DIAS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ações policiais na Baixada Santista após o assassinato do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35, na noite do último dia 2, resultaram na morte de ao menos 30 pessoas em supostos confrontos com PMs até esta terça-feira (20).

A quantidade de óbitos torna a Operação Verão 2024 a segunda ação mais letal da história de São Paulo, atrás apenas do massacre do Carandiru, quando 111 homens foram mortos durante a invasão da Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992.

A quantidade de homicídios registrados na Baixada entre os dias 3 e 20 de fevereiro já é superior ao de 40 dias de Operação Escudo, realizada na mesma região entre 28 de julho a 5 de setembro, após a morte do também soldado da Rota Patrick Bastos Reis, 30. O PM foi baleado em uma via na periferia de Guarujá na noite de 27 de julho. Assim como Cosmo, Reis também estava em serviço ao ser atingido.

Mesmo com nomes diferentes (Verão e Escudo), as investidas dos policiais são semelhantes: ocorrem principalmente nas periferias das cidades de Santos, São Vicente e Guarujá e contam com a presença de praças e oficiais lotados na capital, por exemplo, da Rota e do 3° Batalhão de Choque, com sede na Vila Maria (zona norte).

O tipo de material apreendido e apresentado pelos policiais também são comuns às duas operações -armas, drogas e rádios comunicadores.

"Assim como na Operação Escudo, a atual [Verão] é repleta de denúncias de abuso e violência policial. Infelizmente, os relatos de familiares das vítimas e testemunhas apontam para práticas de execuções sumárias, destruição de câmeras de vigilância das ruas, não utilização de câmeras corporais por policiais de batalhões que deveriam usá-la. Sob o argumento de combater o crime organizado, a SSP tem dado margem para que maus policiais pratiquem todo o tipo de arbitrariedade", afirma a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.

Do total de 29 mortos, a reportagem teve acesso a trechos de 26 boletins de ocorrência.

A cidade de Santos, onde o soldado Cosmo foi morto, registrou 14 homicídios da Operação Verão no período, dos quais 6 ocorreram em supostos confrontos com a Rota. Somente no morro do São Bento, na zona noroeste, foram quatro mortes -uma delas nesta segunda (19).

No dia 9, outros dois homens morreram em supostos confrontos no morro. Outro caso foi registrado no dia 4.

O município de São Vicente também tem tido um cotidiano de violência. Foram cinco mortos em fevereiro, sendo um deles em confronto com policiais da Rota.

O catador de lixo José Marcos Nunes da Silva, 45, foi morto a tiros no barraco onde morava na favela de Sambaiatuba. A morte ocorreu na madrugada o dia 3, horas depois do assassinato do soldado Cosmo. Vizinhos contaram para a Folha de S.Paulo que escutaram os gritos de Silva implorando pela vida antes de ser alvejado.

Segundo a SSP, policiais teriam dado ordem de parada a um suspeito, que teria fugido e disparado contra os agentes. A pasta diz que foram encontradas porções de maconha, cocaína, crack, um frasco de lança-perfume, uma pistola 9 mm e um caderno de anotações. A família e vizinhos dizem que essas provas foram forjadas e que Silva não tinha arma de fogo nem envolvimento com o crime.

Em Guarujá, três homens foram mortos em uma mesma ação, sendo um deles o pescador Rodrigo Pires dos Santos, 40, conhecido como Danone. O secretário da Segurança, Guilherme Derrite, afirmou em uma publicação no X que Danone era uma das lideranças do tráfico na região.

A reportagem apurou, contudo, que Danone foi até o quartel da Corregedoria da PM em 1° de setembro. Ele denunciou para uma tenente e para um subtenente que sofreu perseguição de policiais militares do Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) de Piracicaba durante a Operação Escudo um dia antes. Os policiais teriam ido até um imóvel de sua propriedade, mas ocupado por outros pessoas, e mostrado um álbum com fotos suas para os moradores atuais.

Em nota, a SSP afirmou que uma apuração foi aberta, mas sem encontrar indícios que comprovassem a queixa.

Outras quatro pessoas foram mortas em supostos confrontos na Baixada Santista, sendo duas em Cubatão e outras duas em Itanhaém, mais ao sul do litoral.