Moradores da zona rural se recolhem e comércio tem prejuízo durante buscas em Mossoró

Por RAQUEL LOPES

MOSSORÓ, RN (FOLHAPRESS) - As buscas aos fugitivos do sistema penitenciário federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, chegaram ao 13º dia nesta segunda-feira (26) e continuam afetando a rotina nas comunidades rurais. Por orientação de policiais, desde que os detentos escaparam da prisão os moradores se recolhem ao anoitecer.

A população relata que a polícia está fazendo visitas domiciliares e entregando cartazes com as imagens dos fugitivos acompanhadas de números de telefone para denúncias. A polícia oferece recompensa de R$ 15 mil para cada fugitivo.

Além disso, as autoridades pedem que a população mantenha as casas trancadas ao anoitecer e não saiam.

"Eles perguntaram se a gente viu, mas ninguém viu [os foragidos]. Eles deixaram um papel mostrando a foto dos dois, dizendo para onde ligar. A gente fica em casa à noite por recomendação [da polícia], mas eu acho que esse pessoal já está no Ceará", disse o agricultor José de Arimateia, 75.

A agricultora Maria Helena Bezerra da Silva, 47, relatou que a polícia passa diariamente pela comunidade localizada na entrada da Serra Mossoró. Foi nesse ponto que os fugitivos foram avistados pela primeira vez.

"Eles não pediram para ver minha casa, mas sei que estão entrando em todas as casas abandonadas pela região", disse.

Não é somente a rotina dos moradores que tem mudado, mas também a do comércio na zona rural. O restaurante Mirante da Serra fica em uma área de mata, na entrada da Serra Mossoró, e tem enfrentado as consequências em decorrência da fuga.

Tradicionalmente, o estabelecimento recebe em torno de cem pessoas a cada fim de semana. No entanto, desde a fuga dos detentos, nenhum turista ou morador da região foi ao local para almoçar.

"Diminuiu 100% [o movimento]. No sábado passado, vieram almoçar os policiais, e foi a nossa sorte porque de turista não veio ninguém. A gente fica trabalhando com medo [na região] porque a gente chega às 6 horas", disse a funcionária Antônia Analice da Silva Rocha.

A fuga ocorreu na madrugada do último dia 14, na primeira ocorrência do tipo desde a implantação dos presídios federais, em 2006. Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho, são suspeitos de ligação com o Comando Vermelho e e haviam sido transferidos para a unidade após uma rebelião que deixou cinco pessoas mortas em julho do ano passado.

Na sexta-feira (23), a polícia identificou um endereço em que os fugitivos da penitenciária federal de Mossoró se esconderam após localizar um responsável por levar comida aos foragidos.

O sítio está situado na zona rural de Baraúna, no Rio Grande do Norte, próxima à fronteira com o Ceará, a aproximadamente 30 km do presídio federal de Mossoró.

O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, 38, dono do terreno, foi preso sob suspeita de recebeu cerca de R$ 5.000 para que os fugitivos ficassem no local. Na semana passada, ele havia afirmado à polícia que sua família tinha sido feita refém pelos criminosos.

Segundo a Polícia Federal, ele teria atuado em conjunto com outro apoiador da fuga, preso na quinta (22), que é suspeito de fornecer transporte e armamento aos foragidos.

Ao todo, quatro pessoas foram presas sob suspeita de ajudar os dois detentos. Um carro também foi apreendido pela polícia.

Cerca de 600 agentes de diversas forças de segurança atuam nas buscas dos foragidos. Esse efetivo inclui policiais e bombeiros da Força Nacional.

A área de ação envolve áreas de cavernas e matas, presença de animais peçonhentos e chuvas frequentes, o que tem desafiado as equipes. A região de Mossoró conta com mais de 300 cavernas e grutas mapeadas, que podem acomodar apenas uma pessoa e até serem aptas a ampla exploração.