Brasileiro condenado por participar de assassinato da Yakuza em 2001 é preso em SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um brasileiro condenado por participar de um sequestro que resultou na morte de um homem no Japão em 2001, em meio a um acerto de contas da máfia japonesa Yakuza, foi preso neste domingo (10) por policiais militares em São Paulo.
Alexandre Hideaki Miura, 46, foi condenado a 30 anos de prisão pela Justiça Federal brasileira em 2022, em um processo que teve início após um pedido de cooperação do governo japonês. As informações foram publicadas inicialmente pelo site Metrópoles e confirmadas pela reportagem.
Ele recorria da sentença e liberdade, mas teve um mandado de prisão expedido na semana passada. Policiais militares o encontraram na região do Itaim Paulista, na zona leste. "Realizada abordagem, nada de ilícito foi encontrado, porém em consulta criminal, foi verificado um mandado de prisão em seu desfavor", disse a PM, em nota. Ele foi levado à superintendência regional da Polícia Federal.
Miura -também conhecido como Bu-Yan ou Jumbo, segundo o processo enviado à Justiça brasileira- é um de quatro brasileiros que teriam participado do sequestro e assassinato do empresário japonês Harumi Inagaki em 2001. Segundo documentos enviados pelo Japão às autoridades brasileiras, a vítima também tinha envolvimento com a Yakuza e seu sequestro foi planejado após desentendimentos dentro do grupo criminoso japonês.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Miura. Em depoimento à Justiça brasileira, ele afirmou que foi obrigado a participar do sequestro pelos seus patrões. Ele trabalhava em uma empreiteira no Japão em 2001, e alegou que foi levado ao local do crime e coagido a colocar a vítima no porta-malas de um carro, por um homem que apontava um revólver em sua direção.
O brasileiro, segundo a denúncia da polícia japonesa, fez parte de um grupo de nove pessoas que participou do sequestro. Inagaki foi abordado pelo grupo quando descia de um táxi na cidade de Nagoya. O empresário reagiu à abordagem e os criminosos o espancaram com tacos de beisebol e golfe para obrigá-lo a entrar no carro.
Em meio à confusão, um dos criminosos -o japonês Kazuya Kyotani- teria disparado três tiros contra o empresário. O corpo de Inagaki foi encontrado cerca de um mês após a morte, preso a um barril cheio de concreto no fundo de um rio. Ele também disparou contra a mulher de Inagaki, que ficou ferida no pescoço.
O grupo roubou 1,6 milhão de ienes (equivalente a pouco mais de R$ 47 mil em 2016, segundo o processo) e outros objetos de valor do cadáver. Depois disso, entrou em contato com a mulher de Inagaki e exigiu 50 milhões de ienes pelo resgate, sem revelar que ele já estava morto.
Após fugir do Japão pouco depois do crime, Miura chegou a ser preso no Brasil em 2017 mas respondia em liberdade desde então. Outro homem condenado pelo mesmo caso continuou preso. Os outros dois brasileiros que teriam participado do sequestro não foram identificados até hoje.
Eles foram recrutados para participar do sequestro pois trabalhavam na empreiteira de um dos mandantes do crime. Os dois brasileiros presos teriam recebido até 100 mil ienes pelo serviço, segundo três depoimentos de réus confessos japoneses.
"Os réus, em seus interrogatórios, e suas defesas respectivas sustentaram que eles não tinham conhecimento do sequestro que seria realizado. Alegaram que foram informados de que seriam convocados para um novo emprego na cidade de Nagoya, tendo recebido os uniformes correspondentes", diz a sentença que condenou Miura. "Ao chegarem ao local, foram surpreendidos com um tiro disparado por Kazuya Kyotani contra Harumi Inagaki, tendo sido coagidos, a partir de então, a colocar o corpo da vítima no porta-malas do carro, sob ameaça de Kazuya Kyotani, que lhes apontava a arma de fogo."