Federação Israelita diz ter atuado em casos de antissemitismo em cinco escolas de SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Federação Israelita de São Paulo montou um grupo de trabalho para atuar em escolas particulares após uma escalada de casos de antissemitismo desde o início da guerra Israel-Hamas. A entidade diz já ter sido acionada por cinco unidades da capital paulista, entre elas a Beacon School, no Alto de Pinheiros (zona oeste).
Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, a escola tem sofrido pressão de um grupo de pais para adotar ações mais contundentes contra seis estudantes de 15 anos que teriam ofendido um colega de turma que é de família judaica. A direção do colégio suspendeu os alunos por dois dias e abriu uma sindicância para apurar o caso.
Os estudantes estariam há pelo menos duas semanas desenhando suásticas nos cadernos do menino e fazendo a saudação nazista quando ele entrava na sala de aula. Também chegaram a reproduzir o hino da Juventude Hitlerista, grupo de jovens do partido de Adolf Hitler na Alemanha.
Parte das famílias da Beacon defende a adoção de punições mais duras e lembraram, por exemplo, do caso do colégio Porto Seguro em Valinhos, que expulsou oito alunos que criaram um grupo de WhatsApp intitulado "Fundação Anti Petismo", onde compartilhavam mensagens de cunho racista, homofóbico, nazista e gordofóbico.
"Infelizmente, esse não é o primeiro caso em escola em que tivemos que atuar. A gente lamenta muito, mas isso é um reflexo do que acontece na sociedade. Esses alunos reproduzem o discurso de ódio que escutam fora dos muros da escola", diz Marcos Knobel, presidente da federação.
Além da punição aos estudantes, a direção da Beacon School procurou a federação para ajudar na elaboração de ações educativas para a comunidade escolar. Knobel defende que a educação e a conscientização são o caminho para lidar com a discriminação.
"Algumas pessoas defendem que se devem expulsar os alunos em casos como este. Mas será que a punição trata a causa básica da violência? Eu acredito que submeter crianças e adolescentes a estudos periódicos sobre o assunto é muito mais eficaz", diz.
Há cerca de dois anos, a federação criou um grupo com educadores para atuar em escolas que registram casos antissemitismo. Além de palestras e aulas sobre o nazismo, eles promovem encontros com sobreviventes do holocausto e visitas ao Museu Judaico de São Paulo e ao Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto.
A entidade também defende que as ações educativas não sejam feitas apenas para os alunos, mas também sejam direcionadas às famílias. "Não são só as crianças e jovens que não entendem a gravidade do que foi o nazismo e o holocausto. Muita gente adulta também não sabe, muitos pais não percebem o quão grave é esse discurso de ódio e não atuam para evitar que os filhos o propaguem", afirma Knobel.
Jacques Griffel, diretor da comissão de educação da Federação Israelita, conta já ter recebido relatos de ofensas antissemitas vindas até mesmo de crianças pequenas.
"Nesses casos entendemos que as crianças de fato não têm consciência do que estão falando, apenas reproduzem um discurso que ouviram em casa. Mas, com adolescentes de 15 anos, não acredito que eles não sabiam da violência que estavam causando, talvez só não entendam a gravidade ofensiva", diz Griffel. Para ele, há uma lacuna na educação brasileira para tratar de temas sensíveis e importantes, como o nazismo.
Sobre o caso da última semana, a Beacon School disse atuar com celeridade diante de qualquer situação discriminatória.
"Apurando os fatos em detalhe e com firmeza, aplicando as sanções cabíveis, incentivando sempre a reflexão para estimular a aprendizagem com o objetivo de formar cidadãos éticos, conscientes e comprometidos com a construção de uma sociedade mais pacífica e igualitária", disse a escola, em nota.