Em Eldorado do Sul, Ginásio Elyseu Quinhones serve de abrigo para atingidos pelas cheias -
Bruno Peres/Agência Brasil Entre as que voltaram às aulas nesta semana está a Escola Municipal de Ensino Fundamental Rio Grande do Sul, no bairro Mato Grande, que atendia cerca de 700 alunos antes da enchente. A água chegou a 40 centímetros dentro das salas, destruindo parte da biblioteca e do material didático e literário.
Por enquanto, cerca de 60% dos alunos dessa escola voltaram a estudar no local. O diretor da instituição, Fernando Lazzaretti, explicou que muitos estudantes estão alojados em outros municípios e não puderam voltar.
Para o pedagogo, o impacto das enchentes será mais grave que o da pandemia. “Na pandemia, as pessoas tinham minimamente o conforto de suas casas, e muitos da nossa comunidade não têm mais casa, não têm para onde retornar. Então, na pandemia, por mais que tivemos que ficar isolados, o contato foi virtual. Nesse período de 45 dias aproximadamente muitos alunos não têm nem esse contato virtual. Por isso, a gente acha que, em curto e médio prazos, o impacto da enchente vai ser maior que o impacto da pandemia.”
A professora de dança Ana Paula Fagundes, de 34 anos, foi buscar a pequena Maria Luiza, de 7 anos na escola, e a menina estava feliz por poder voltar a estudar. “Saiu da rotina dela, saiu de perto dos colegas. Ela ficou bem ansiosa por isso, coitada, e demorou a entender que todo mundo tinha perdido tudo. Ontem não deu para a gente vir, e ela chorou horrores porque eu não a trouxe, [disse] que não era justo”, contou a mãe.
Sem escolas
Não tiveram a mesma sorte os três filhos da dona de casa Janete da Silva Campos, de 38 anos. As crianças, de 7, 12 e 14 anos, estão matriculadas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Assis Brasil, que está fechada e coberta de entulho.
“Mesmo que o colégio abra, hoje não tem como voltar porque eles não receberam material, nem uniforme. Eles até falam que queriam voltar para o colégio. Alguns dos amiguinhos deles já estão ali na [escola] Rio Grande do Sul. Eles ficam em casa o dia todo, perdem tempo com brincadeira, correndo na rua”, contou a mãe. Janete conta que nenhum dos três filhos sabe ler e escrever bem devido também à pandemia.
A Agência Brasil visitou ainda a maior escola de Canoas que atendia cerca de 1,3 mil alunos antes da enchente, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Thiago Würth, no popular bairro de Mathias Velho, um dos mais atingidos pelas chuvas e onde ainda é possível ver montanhas de entulho em quase todas as ruas.
Nesta sexta-feira 921), o Exército brasileiro tentava retirar o entulho e limpar a Escola Thiago Würth para retomar as atividades. O assessor pedagógico José de Jesus D’Avila trabalha há 31 anos no estabelecimento escola e se emocionou ao falar da situação.
“Fora o prejuízo econômico, é um sentimento de tristeza ver as crianças fora da sala de aula. Elas estão sendo prejudicadas pedagogicamente, mas o pessoal tem força. Nós vamos levantar a escola de novo”, afirmou.
Matemática
O bairro da professora e líder comunitária Gisele Vidal, de 35 anos, não foi atingido pelos alagamentos. Mesmo assim, a escola do seu filho, Gabriel, de 8 anos, não está funcionando porque virou abrigo para as pessoas que perderam suas casas.
“Ele pergunta quando volta quase todos os dias. Ele perguntou se a gente ia voltar antes da festa de São João. Ele estava de aniversário em maio, e a festinha ia ser na escola”, lembrou Gisele Vidal.
O pequeno Gabriel disse que sente saudade dos “temas”, que são as atividades da escola. “Estou com saudades da minha professora, dos meus amigos e de estudar os temas. Porque eu sou bom na matemática, e eu gosto de temas de matemática”, afirmou.
Governos
O secretário municipal de Educação de Canoas, Aristeu Ismailow, afirmou à Agência Brasil que espera que todas as escolas retomem as atividades até a metade do mês de julho. “Firmamos uma parceria com o Exército e também temos uma contratação para a limpeza das nossas escolas”, disse.
Ismailow acrescentou que o calendário escolar está sendo reorganizando para dar o máximo de dias letivos possível. O Ministério da Educação (MEC) flexibilizou o mínimo de 200 dias letivos para escolas do Rio Grande do Sul, mas manteve a obrigação de cumprir 800 horas/aulas no ano. “Provavelmente com o uso dos sábados, mas sabemos que teremos que usar atividades complementares para conseguir atingir as 800 horas/aulas das quais não se abre mão”, completou.
Nesta semana, o governo gaúcho iniciou a entrega de novo mobiliário para duas escolas, uma em Canoas e outra em Venâncio Aires, totalizando 352 cadeiras e carteiras e 18 mesas. “Até 26 de junho, mais 15 escolas estaduais de Canoas, São Leopoldo, São Sebastião do Caí e Montenegro receberão os novos mobiliários”, disse, em nota, a secretaria estadual de Educação.
Já o MEC abriu prazo para as escolas e redes municipais solicitarem material didático para substituir o perdido pelas chuvas. Além disso, uma medida provisória (MP) do governo federal abriu crédito extraordinário de R$ 25,8 milhões para alimentação escolar e mais R$ 46,1 milhões para limpeza e pequenas reformas no Rio Grande do Sul, entre outras ações.