Pais devem controlar excesso de chocolate na P?scoa
Pais devem controlar excesso de chocolate na PáscoaEmbora seja difícil convencer os pequeninos, consumo deve ser de no máximo dois bombons por dia. Preocupação é com a sobrecarga de gordura hidrogenada
Repórter
15/3/2010
Embora seja difícil convencer as crianças, o consumo de chocolate pelos pequeninos deve ser controlado pelos pais, mesmo diante da grande oferta de ovos de Páscoa. De acordo com a nutricionista Soraia Campos, o excesso deve ser evitado em qualquer ocasião. "Adultos também precisam controlar o consumo, mas as crianças são mais sensíveis à sobrecarga de gordura hidrogenada causada pela ingestão de muito chocolate", alerta.
Segundo Soraia, o excesso de gordura hidrogenada é o principal problema no consumo de muito chocolate. "A criança pode sentir indisposição, principalmente enjoo, sensação de cansaço, diarreia e até ter alguma manifestação alérgica ou uma erupção cutânea." Se consumido diariamente, sem moderação, o chocolate pode aumentar o colesterol e a taxa de triglicérides, promovendo problemas cardiovasculares.
A recomendação é que se consuma entre 30 e 50 gramas de chocolate por dia, o que equivale a dois bombons. "Não há sentido algum em proibir a ingestão de chocolate, já que o cacau é reconhecido como alimento funcional, quando o uso é moderado." Por isso, outra sugestão é procurar por chocolates que tenham mais cacau. "A melhor forma é buscar por chocolates mais escuros. Porém esses alimentos não são tão palatáveis quanto o chocolate ao leite, que derrete na boca. Essa característica de suavidade é devido à gordura, que precisa ser evitada."
A nutricionista Wanessa Aquino lembra ainda que, além da gordura, o chocolate tem carga calórica bem elevada. "Um bombom de 30 gramas tem aproximadamente 80 kcal. O consumo deve ser controlado devido ao risco de aumento do peso e de alteração da glicemia, por causa da alta quantidade de açúcar." Wanessa recomenda que os pais busquem por ovos menores na hora de presentear as crianças na Páscoa. "A criança pode consumir um ovo 12 ou 10, em três dias, por exemplo."
É assim que a gerente de vendas Elizabeth de Oliveira faz com a pequena Laura, de 2 anos. "No dia a dia, ela come uma barrinha pequena ou vez ou outra. Agora na Páscoa, vou comprar um ovo simbólico, pequeno, para ela não comer demais. Chocolate é muito bom, mas para uma criança de 2 anos, faz mal." Se ganhar mais guloseimas dos tios e avós, o destino do alimento serão os sobrinhos. "Não tem jeito, tenho que controlar."
A assistente administrativa Andressa Sirino Mateus da Silva também pretende segurar o apetite de sua filha Raíssa, de 8 anos. "Ela quer o ovo grande, mas vou comprar um menor. Mesmo assim, não vou dar tudo de uma vez só. Ela costuma ganhar caixas de bombons dos avós, mas eu vou oferecendo devagar, para não passar mal."
Chocolate, só depois das refeições
A nutricionista Joana Kamil também defende o consumo moderado do alimento. "O chocolate é um ótimo estimulante, dando sensação de alegria e de bem-estar. É antioxidante e ajuda na prevenção de doenças cardíacas. Mas a administração em crianças tem que ser controlada." Ela defende que o alimento só seja consumido após as refeições. "O chocolate é uma sobremesa. Não pode atrapalhar o almoço e o jantar. Os pais podem comprar um ovo de 200 gramas para os filhos, mas precisam dosá-lo ao longo da semana."
Entre as complicações que podem surgir com o consumo excessivo de chocolate, ela destaca a possibilidade de intolerância ao cacau e ao leite. "Como todo nutriente, o cacau é sujeito a ser rejeitado pelo organismo. O mesmo problema pode acontecer com o leite, que é a chamada intolerância à lactose. Em crianças, os sintomas podem ser mais graves."
Nana-nina-não
Conforme a faixa etária vai diminuindo, as restrições ao alimento vão aumentando. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda a ingestão diária escalonada de apenas 29 a 58 gramas de gordura para crianças de zero a dez anos e de 750 a 1.750 kcal de energia (ver tabela abaixo). Soraia Campos é mais criteriosa quando o assunto é alimentar crianças com menos de dois anos. "O consumo de chocolate não é sugerido para essa faixa etária. Até esta idade, a recomendação é o aleitamento materno. Outra razão é que a criança está na fase de formação do paladar. Por fim, o risco de toxicidade é maior."
Referências para cálculo de valor diário para crianças
1 Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids (Macronutrients). Food and Nutrition Board – FNB, 2005.
2 Considerando como nível de atividade física – pouco ativos, dentre as opções: sedentários, pouco ativos, ativos e muito ativos.
3 Os valores para carboidratos e gorduras totais foram calculados com base na distribuição de macronutrientes em função do valor energético da dieta, obtido da publicação Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids (2002/2005).
4 Resolução-RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005, Tabela 2.
5 WHO/FAO (World Health Organization/Food and Agriculture Organization), 2003. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. Report of a joint WHO/FAO expert consultation. WHO Technical Report Series 916. Geneva.
A OMS recomenda 10% do Valor Energético Total -VET de gordura saturada como valor máximo a ser consumido e não como um valor de referência.
6 Williaams, CL, Bollella M, Wynder EL. A New Recommendation for Dietary Fiber in Childhood. Pediatrics, 1995, Vol 96, 985-988.
7 Recommended Dietary Allowances: 10th Edition/National Research Council (RNC/RDA, 1989).
Os textos são revisados por Madalena Fernandes