Inelegível, Witzel tenta nova surpresa no Rio

Por ITALO NOGUEIRA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel recebeu de joelhos o resultado apertado que confirmou, dentro do nanico PMB (Partido da Mulher Brasileira), sua candidatura neste ano para o cargo do qual foi afastado em agosto de 2020 sob acusação de corrupção.

Com uma diferença de apenas três votos, a indicação foi o primeiro ato surpreendente do ex-juiz que surpreendeu o estado há quatro anos. Ele depende de uma sequência de surpresas ainda maiores para validar a permanência de sua candidatura e, principalmente, para retornar ao Palácio Guanabara.

Witzel foi punido com a inabilitação para o exercício de qualquer função pública por cinco anos pelo Tribunal Misto Especial, que julgou o processo de impeachment. Foi alvo de quatro denúncias sob acusação de corrupção num esquema de desvios na saúde.

O ex-governador tem dito que a ação de impeachment não transitou em julgado devido aos recursos que interpôs para tentar reverter a decisão. Ele tenta trabalhar com o ineditismo do afastamento de um governador desde a redemocratização, cujas regras tiveram de ser estabelecidas em seu processo.

Em conversa com a reportagem na semana passada, Witzel lamentou não poder participar do primeiro debate entre os candidatos, realizado na TV Bandeirantes. A lei eleitoral exige apenas a presença de candidatos de coligações que tenham representação na Câmara dos Deputados.

"A população tem o direito de ouvir minhas respostas. Vão falar no meu nome, vão me atacar. Todos se juntaram para o meu impeachment", disse ele, afastado em definitivo por unanimidade na Assembleia Legislativa e no Tribunal Misto.

Witzel conseguiu, porém, uma entrevista de oito minutos na emissora --assim como outros candidatos de siglas nanicas.

"Estamos prontos e preparados para retomar o nosso Governo do Estado do Rio de Janeiro, que foi tomado por máfias que não querem que sejamos candidatos."

Nas redes sociais, tem centrado fogo em Cláudio Castro (PL), que assumiu o governo depois do afastamento e vai tentar a reeleição. O ex-governador classificou o escândalo da "folha de pagamento secreta" da Fundação Ceperj de o "maior esquema de captação ilícita de votos".

À reportagem Witzel afirmou estar organizando a candidatura sozinho. Seus colaboradores mais próximos da época do governo se afastaram. Terá em seu palanque a mulher, Helena Witzel -também acusada numa das denúncias-, e a sogra, Arlete Jenkins, candidatas a deputada federal e estadual, respectivamente.

Após responsabilizar Jair Bolsonaro (PL) por seu afastamento, o ex-governador não descarta apoiar neste ano a reeleição do presidente. Ele também inclui entre as opções Simone Tebet (MDB), Pablo Marçal (Pros) e Roberto Jefferson (PTB).

"Se o PMB tomar essa decisão, vou apoiar o presidente. Entrei sabendo que era um partido de direita, conservador. Não há hipótese de apoiar o Lula. Sou solidário ao que aconteceu com ele [prisão], mas não comungamos dos mesmos ideais políticos. Vamos apoiar alguém de direita e pode ser Bolsonaro, Simone Tebet, Pablo Marçal ou Roberto Jefferson", afirma.

Assim que foi afastado do Palácio Guanabara, Witzel não poupou críticas ao atual chefe do Planalto.

"Bolsonaro já declarou que quer o Rio de Janeiro. Já me acusou de perseguir a família dele. Mas, diferentemente do que ele imagina, aqui a Polícia Civil é independente, o Ministério Público é independente", disse ele num irado pronunciamento à frente do Palácio Laranjeiras ao ser afastado.

Ao longo dos dois anos fora do governo, Witzel ofereceu cursos preparatórios para concursos públicos, consultoria para investidores em leilões judiciais, além dos serviços como advogado. Também se tornou evangélico. Em abril, filiou-se ao PMB para abrir espaço a uma eventual candidatura. A sigla, porém, tinha como pré-candidato o coronel Emir Larangeira, que caminhava para uma convenção tranquila.

A 20 dias do evento, porém, Witzel se apresentou como pré-candidato e venceu a votação interna por 59 a 56. Ele comparou a diferença de votos à Santíssima Trindade.

"Meu nome foi homologado na convenção do partido com uma diferença de três votos: em nome do pai, do filho e do Espírito Santo."

Preterido na disputa interna, Larangeira afirmou nas redes sociais ter sido derrotado por "um juiz sacripanta" com a "descarada ajuda da executiva do partido".

"Incluindo o presidente regional, que não conseguiu evitar e vibrou com a minha programada derrota. Foi nada mais que um cafajeste a serviço de um acusado de corrupção, afastado do governo e réu em muitos processos. Formou assim uma dupla perfeita, ambos se chafurdando na lama fétida que um dia engolirão."