Bolsonaro pede Marinha e FAB em ato com apoiadores no 7 de Setembro do Rio
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com a resistência do Alto Comando do Exército em realizar um desfile militar em Copacabana no feriado de 7 de Setembro, o presidente Jair Bolsonaro (PL) decidiu mudar o planejamento e determinou que a Marinha e a FAB (Força Aérea Brasileira) participem do ato próximo à orla carioca.
Bolsonaro pretende encontrar manifestantes favoráveis em Copacabana na tarde do Dia da Independência, em mais uma tentativa de projetar apoio popular.
Inicialmente, ele queria que um desfile militar ocorresse na avenida Atlântica, mas a ideia perdeu força após objeções da cúpula da Defesa, do Exército e da Prefeitura do Rio.
Tradicionalmente, o desfile do 7 de Setembro no Rio de Janeiro ocorre na avenida Presidente Vargas, na região central.
Sem o desfile militar, Bolsonaro comunicou ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que quer aparatos da Aeronáutica e da Marinha em Copacabana. A ideia é que navios de guerra estejam visíveis da orla durante as manifestações e que aviões da FAB façam demonstrações aéreas no local.
Interlocutores na Marinha e na FAB disseram que os respectivos comandos ainda não foram comunicados oficialmente. Procuradas, as assessorias das duas Forças não se manifestaram.
A ideia em avaliação é disponibilizar cerca de dez navios de guerra da Marinha para o ato bolsonarista.
Seguindo o roteiro tradicional realizado nos feriados da Independência, o trajeto naval deverá começar na Barra da Tijuca, zona oeste, e passar pelas praias de São Conrado, Leblon, Ipanema e Arpoador até Copacabana.
Pessoas envolvidas nos preparativos disseram que deve ser realizada uma mudança de horário para atender Bolsonaro.
Normalmente, os navios fazem demonstrações nos feriados do 7 de Setembro pelo período da manhã ?com os novos planos, as embarcações devem passar por Copacabana à tarde, para coincidir com as manifestações.
A Defesa ainda avalia levar aviões da Esquadrilha da Fumaça da FAB para realizar sobrevoos e manobras aéreas na orla.
A ordem para envolver a Marinha e a FAB no evento foi dada por Bolsonaro após generais do Alto Comando do Exército e o próprio ministro da Defesa tentarem convencê-lo a não levar o desfile militar para Copacabana.
Em conversas reservadas, os militares alegaram problemas logísticos e de segurança para tirar o evento do 7 de Setembro da Presidente Vargas e transferi-lo para Copacabana.
Segundo relatos feitos à reportagem, o objetivo principal da cúpula do Exército era evitar que as Forças Armadas fossem associadas a um evento com possíveis ataques de Bolsonaro a instituições, como o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Interlocutores militares ouvidos disseram que não há justificativa para não realizar as demonstrações da FAB e da Marinha em Copacabana, uma vez que não há dificuldades logísticas para atender a ordem presidencial.
Os eventos de comemoração do Bicentenário da Independência têm sido organizados pela Presidência da República e uma comissão interministerial, que reúne Itamaraty, Ministério do Turismo, Ministério da Defesa, Ministério da Educação, Secretaria Especial de Cultura e Secretaria de Comunicação.
Além dos desfiles em Brasília e no Rio de Janeiro, o governo prepara eventos oficiais em todas as cidades do país que possuem organizações militares da Marinha.
A orla de Copacabana é normalmente usada por apoiadores de Bolsonaro para realizar atos pró-governo. Em 30 de julho, Bolsonaro anunciou que levaria o desfile militar de 7 de Setembro para a avenida Atlântica.
"Sei que vocês [paulistas] queriam [que o ato fosse] aqui [em SP]. Queremos inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossas Forças Armadas e as forças auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana", disse durante a convenção que lançou a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Governo de São Paulo.
Posteriormente, já aconselhado a não mudar o local do desfile, Bolsonaro não mencionou a presença das Forças Armadas em Copacabana durante conversa com apoiadores em Recife, em 6 de agosto.
"Estarei 10h em Brasília, num grande desfile militar, e às 16h em Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas estarei ligado aqui. Terei uma satisfação muito grande caso tenha oportunidade de falar num telão com vocês que participarão desse movimento", afirmou Bolsonaro, na ocasião.
"Temos algo tão ou mais importante que a nossa vida, que é a nossa liberdade. A grande demonstração disso peço que seja explicitada no próximo dia 7 de setembro", completou.
O feriado de 7 de Setembro deste ano marca os 200 anos da Independência do Brasil. Em declarações públicas recentes, o presidente indicou que planeja transformar as festividades em atos bolsonaristas.
Para o desfile militar em Brasília, Bolsonaro convidou os chefes de Estado de Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Com a possível presença de altas autoridades estrangeiras, a expectativa de interlocutores ouvidos é que o desfile do 7 de Setembro em Brasília seja protocolar e que eventuais discursos inflamados de Bolsonaro para sua base mais radical fiquem reservados para o evento no Rio de Janeiro.
Nos atos do ano passado, Bolsonaro fez ameaças golpistas ao STF e atacou ministros da corte. Em discurso na avenida Paulista, em São Paulo, o presidente exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.
"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor ?Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", afirmou no ano passado.
Apesar de o cenário deste ano ser diferente, com acenos do Planalto para uma possível pacificação com o Judiciário, Bolsonaro tem feitos reiterados ataques às urnas eletrônicas, com mentiras e teorias da conspiração.
Magistrados do TSE e STF temem que o 7 de Setembro seja usado pelo presidente para inflar as bases e atacar as instituições.