Apoio a ditadura atinge menor patamar após reações a golpismo de Bolsonaro, diz Datafolha
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A defesa de que a ditadura é melhor do que a democracia em certas circunstâncias chegou ao seu menor índice na série histórica medida pelo Datafolha desde 1989.
Ao mesmo tempo, o apoio à democracia entre os brasileiros voltou ao seu patamar mais elevado em meio às ameaças golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e à reação da sociedade civil com as cartas de 11 de agosto.
O Datafolha mostra que 7% defendem a ditadura (eram 9% em setembro de 2021, o último levantamento). Já 75% (3 a cada 4 pessoas) concordam que a democracia é sempre melhor que qualquer outra forma de governo.
Esse mesmo recorde havia sido registrado pela primeira vez em junho de 2020. Na última pesquisa, o índice foi de 70%.
Para 12%, tanto faz se o governo é uma ditadura ou uma democracia ?eram 17% em setembro de 2021. O percentual dos que não souberam opinar chegou a 5% ?eram 4%.
O apoio à democracia como melhor forma de governo cresce conforme o grau de instrução e de renda. É de 62% para quem tem ensino fundamental e de 92% para quem tem ensino superior; de 67% para quem recebe até 2 salários mínimos e de 91% para quem recebe mais de dez salários mínimos.
Esse índice, que é de 75% na média nacional, varia para 72% entre mulheres, 78% entre quem tem de 25 a 34 anos, 84% entre moradores do Centro-Oeste, 71% entre moradores do Norte, 62% entre donas de casa, 87% entre empresários e funcionários públicos, 64% entre quem recebe Auxílio Brasil, 79% entre moradores de regiões metropolitanas e 73% entre moradores do interior.
Já a parcela para a qual tanto faz uma democracia ou uma ditadura, que é de 12%, vai a 10% entre maiores de 60 anos, 3% entre quem tem ensino superior, 17% entre quem recebe até dois salários mínimos, 2% entre quem tem recebe mais de dez salários mínimos, 14% entre pretos, 18% entre desempregados e 8% entre estudantes.
Os que veem a ditadura melhor em certas circunstâncias, que são 7%, variam para 9% entre jovens de 16 a 24 anos, 8% entre quem cursou ensino médio, 6% entre brancos, 8% entre moradores do Norte, 5% entre quem recebe de 5 a 10 salários mínimos e 10% entre quem recebe Auxílio Brasil.
Os eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se dividem entre 74% que consideram a democracia melhor, 13% que julgam que tanto faz, 6% que defendem a ditadura em algumas circunstâncias e 6% que não sabem.
Para os eleitores de Bolsonaro, os índices são 77% de apoio à democracia, 10% tanto faz, 9% de apoio à ditadura e 3% não sabem.
A pesquisa mostra ainda que os brasileiros estão divididos a respeito da chance de haver uma nova ditadura no Brasil. Uma parcela de 49% diz acreditar que não há chance nenhuma. Em setembro de 2021, eram 45%.
Hoje 20% declaram acreditar que há muita chance de uma nova ditadura, índice que se manteve. Outros 25% veem um pouco de chance (eram 31% em setembro de 2021). Não souberam opinar 7% contra 5% na pesquisa anterior.
A parcela que avalia que pode haver uma nova ditadura, que é de 44% no país, sobe entre mulheres (47%), jovens de 16 a 24 anos (51%), quem recebe até dois salários mínimos (49%), pretos (51%), evangélicos (4%) e estudantes (53%).
Mas é menor entre quem tem ensino superior (41%), entre quem recebe mais de dez salários mínimos (38%), moradores do Sul (40%), empresários (35%) e aposentados (37%).
Quem não vê chance nenhuma de uma nova ditadura, parte que soma 49% na média, chega a 55% entre homens e 61% entre quem recebe mais de dez salários mínimos. Esse índice pai para 42% entre quem recebe até dois salários mínimos, 46% entre moradores do Nordeste e 40% entre desempregados.
Há chances de uma nova ditadura para 52% (24% muita e 28% pouca) dos eleitores de Lula e para 32% (13% muita e 19% pouca) dos eleitores de Bolsonaro. Entre os lulistas, 42% dizem não haver chance alguma, índice que é de 61% entre bolsonaristas.
O levantamento foi feito num contexto de ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral e aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para acusar uma suposta fraude caso não vença as eleições.
O Datafolha mostrou que Lula lidera a corrida por 47% contra 32% do atual presidente.
O sistema eletrônico de votação foi exaltado e ovacionado na posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), na terça-feira (16).
"Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, não é liberdade de destruição da democracia, das instituições, da dignidade e da honra alheias. Não é liberdade de propagação de discursos de ódio e preconceituosos", declarou Moraes em cerimônia que mostrou o isolamento de Bolsonaro.
A retórica golpista do presidente inclui ainda o flerte com as Forças Armadas, que participam de uma comissão de transparência eleitoral e, na prática, têm sido uma das linhas de frente do questionamento do presidente às urnas. Bolsonaro fez questão de lembrar que é o comandante dos militares.
Novamente, o presidente convocou a população para ir às ruas no 7 de Setembro. Com a resistência do Alto Comando do Exército em realizar um desfile militar em Copacabana, Bolsonaro decidiu mudar o planejamento e determinou que a Marinha e a FAB (Força Aérea Brasileira) participem do ato próximo à orla carioca.
Em 18 de julho, ele chamou embaixadores estrangeiros para expor suas mentiras acerca das urnas e do processo eleitoral, repetindo argumentos já descartados após sua exposição em uma live no ano passado.
A reação veio no último dia 11, com um ato que reuniu milhares de pessoas para a leitura de duas cartas de apoio à democracia na Faculdade de Direito da USP. A primeira carta foi endossada por entidades como a Fiesp e centrais sindicais. Já a segunda, inspirada na Carta aos Brasileiros de 1977, ultrapassou 1 milhão de assinaturas.
A pesquisa Datafolha, contratada pela Folha de S.Paulo e pela TV Globo, ouviu 5.744 pessoas em 281 cidades do país entre terça-feira (16) e quinta-feira (18). A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-09404/2022.