Reedição de duelos e rompimento de Ciro e PT marcam eleição no Ceará
RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - Com três candidaturas consideradas competitivas, a campanha eleitoral foi iniciada no Ceará com a esquerda dividida, após rompimento da aliança de PT e PDT. Ao mesmo tempo, o principal palanque da direita tenta se desvincular de Jair Bolsonaro (PL), temendo ser contaminado pela rejeição ao presidente no estado.
Enquanto Roberto Cláudio (PDT) e Elmano de Freitas (PT) reforçam os vínculos, respectivamente, com Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o candidato Capitão Wagner (União Brasil) evita se associar ao atual presidente.
Líder nas pesquisas de intenção de voto, Capitão Wagner tenta evitar que a elevada rejeição a Bolsonaro nas pesquisas contamine a sua campanha, mas tem feito acenos ao segmento bolsonarista, a fim de consolidar essa base de apoio.
O capitão foi protagonista das duas últimas eleições municipais da capital, Fortaleza. Perdeu no segundo turno em 2016 para Roberto Cláudio, adversário de novo neste ano, e, em 2020, para o atual prefeito, Sarto Nogueira (PDT).
Em 2018, Wagner foi o deputado federal mais votado do Ceará (308 mil votos). Ele é um dos principais opositores do ex-governador Camilo Santana (PT) e do grupo de Ciro Gomes no estado.
Já em 2020, foi um dos apoiadores do motim de policiais militares contra o governo. Na ocasião, disse que via legítima defesa de quem baleou o senador Cid Gomes (PDT-CE) após o parlamentar avançar em um batalhão da PM dirigindo uma retroescavadeira.
O vice da chapa é do PL, partido do presidente. A coligação conta ainda com outros seis partidos e deverá ter o maior tempo de propaganda de rádio e TV.
Até março, Capitão Wagner era do Pros, mas migrou para a União Brasil atraído pelo tempo de propaganda e também pelo fundo eleitoral da sigla, que possui a maior fatia entre os partidos.
No PT, Elmano de Freitas foi lançado candidato em julho após o rompimento da sigla com o grupo de Ciro, após 16 anos de parceria. Os petistas queriam que a atual governadora, Izolda Cela, disputasse a reeleição, mas ela foi preterida por Roberto Cláudio.
Após o veto à sua reeleição, Izolda deixou o PDT e está sem partido.
Nos bastidores, o PDT argumenta que Roberto Cláudio ser da confiança pessoal de Ciro foi um dos fatores decisivos na escolha. Já Izolda, avaliam integrantes do partido, teria um perfil similar ao petismo, mesmo estando filiada ao PDT na ocasião da escolha.
Izolda é ligada a Camilo Santana, que deixou o governo no início de abril para disputar o Senado.
Elmano pretende fazer a campanha ancorada nos seus principais cabos eleitorais: o ex-presidente Lula e o ex-governador Camilo Santana, que lidera pesquisas para senador.
Camilo é o principal articulador da campanha, principalmente na atração de prefeitos para o palanque de Elmano. A coligação petista também tem apoio de partidos como PP e MDB.
Mesmo tendo sido efetivada às pressas, a candidatura atraiu nove partidos. Além de Camilo, Lula esteve à frente de parte das articulações.
O MDB indicou a vice na chapa. O partido é comandado no estado pelo ex-senador Eunício Oliveira, candidato a deputado federal e um dos principais adversários de Ciro Gomes.
Apesar do estremecimento de PT e PDT, petistas dizem reservadamente que há possibilidade de apoio a Roberto Cláudio em eventual disputa contra Capitão Wagner, caso Elmano não avance ao segundo turno.
A condição seria que, em troca, o PDT apoie Lula contra Bolsonaro em eventual segundo turno na disputa pela Presidência.
Mesmo que Elmano seja deputado estadual, o PT considera que é preciso torná-lo mais conhecido e associado a Lula. O foco no começo da campanha é a região metropolitana de Fortaleza.
Elmano e Roberto Cláudio já protagonizaram uma das disputas mais acirradas da história de Fortaleza, em 2012.
Vencedor, Roberto Cláudio foi prefeito por Fortaleza por oito anos e, desde que deixou o cargo, em 2021, tem feito articulações para ser candidato a governador.
Ele cita com frequência Ciro Gomes em seus discursos e faz críticas indiretas aos adversários, inclusive a integrantes do PT.
Aliados dizem que há prefeitos no interior que querem votar em Roberto para governador e em Camilo, do outro palanque, para o Senado. Outros já migraram para o palanque de Elmano.
Para tentar enfrentar Camilo Santana na disputa do Senado, a coligação de Roberto Cláudio lançou a deputada estadual Érika Amorim (PSD). Mas o páreo é considerado difícil porque Camilo Santana é o líder nas pesquisas.
Antes de Érika, o objetivo da aliança era lançar um nome do PSDB ao Senado com aval de Tasso Jereissati, que não quer tentar a reeleição. No entanto, a Justiça Eleitoral manteve no comando do PSDB cearense a ala que defende a neutralidade na disputa estadual, em contraponto ao grupo do senador.
Com a decisão, houve uma redução no tempo previsto de propaganda de rádio e TV de Roberto Cláudio, que terá apenas PDT, PSB e PSD como partidos expressivos na aliança.
Antes disso, Camilo Santana tentou atrair o PSDB para apoiar Elmano. O ex-governador tem boa relação com Tasso Jereissati. Porém, o histórico de rusgas de PSDB e PT e a ligação de longa data do senador com Ciro pesaram contra os petistas.
A principal baixa, ao menos até o momento, na campanha do PDT no Ceará é a do senador Cid Gomes, ex-governador (2007-2014), que está afastado das agendas eleitorais. Internamente, a avaliação é de que Cid preferia a reeleição de Izolda Cela a Roberto Cláudio, diferentemente de Ciro.
Também irmão de Ciro, o prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), declarou apoio a Camilo Santana para o Senado, divergindo do próprio partido.
Outra questão tida como barreira no PDT é que esta será a primeira eleição, desde 2010, em que o grupo de Ciro não está no comando da máquina pública. O partido avalia que Izolda Cela tem mais ligações com o palanque do PT.