Campanha de Lula resiste em rever tom sobre corrupção, mas reavalia participação em debates
SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A resposta tímida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à ofensiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o tema corrupção durante o debate de domingo (28) provocou apreensão no comando da campanha do petista.
Integrantes da equipe avaliam que Lula perdeu o timing ao ser questionado sobre corrupção na Petrobras pelo chefe do Executivo, seu principal adversário na corrida eleitoral. Militantes do partido cobraram nas redes uma reação mais enfática do ex-presidente.
Apesar disso, a cúpula da campanha resiste à mudança na estratégia definida até o momento --de não dar enfoque ao tema.
Nas palavras de um integrante da cúpula petista, Lula não pretende levar o debate "ao pântano" que, na opinião dele, seria uma zona de conforto para Bolsonaro. A campanha, dizem aliados, segue pautada por temas da economia.
A ideia, segundo interlocutores de Lula, é fazer com que o tema seja abordado em peças divulgadas nas redes sociais e durante entrevistas concedidas pelo ex-presidente --e, a princípio, não levar o assunto ao horário eleitoral em rádio e TV.
"Só interessa a quem não tem propostas ficar falando do passado", diz o advogado Cristiano Zanin, que integra a coordenação jurídica da campanha. Segundo ele, o tema já foi exaustivamente tratado pelo ex-presidente.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a cúpula da campanha avalia que Lula errou na primeira resposta sobre corrupção --após pergunta feita por Bolsonaro. Ele foi orientado a não atacar o chefe do Executivo, mas acabou sendo passivo demais no embate com o presidente, avaliam.
A ideia era que ele repetisse a fórmula usada em sabatina do Jornal Nacional, na semana passada, em que chegou a admitir corrupção na Petrobras, mas ao longo da entrevista mirou o presidente ao tratar de suspeitas de desvios na gestão atual.
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), no entanto, afirmou nesta segunda-feira (29) que achou "satisfatória" a resposta que Lula deu ao ser questionado sobre corrupção no debate organizado por Folha de S.Paulo, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura.
"Ele falou sobre os seus processos, falou o que aconteceu, que foi perseguido para não ser presidente da República. Acho que foi bem satisfatório."
Ela disse ainda que a postura mais ofensiva de Bolsonaro "não surpreendeu" e que Lula não foi ao debate para "ficar se confrontando" com o chefe do Executivo. "O que foi colocado no debate ele respondeu no tempo certo, na hora certa, sem fazer esse confronto que era o que nós não queríamos."
Apesar disso, a campanha passou a reavaliar a participação de Lula nos próximos debates presidenciais, com exceção do promovido pela TV Globo, que marca o encerramento do primeiro turno das eleições.
A intenção, dizem aliados, é condicionar a presença do ex-presidente aos demais debates à definição de regras que permitam contra-ataques.
Segundo relatos, o próprio petista se queixou do formato do debate de domingo afirmando que ele não permitia respostas imediatas quando atacado.
Gleisi disse que a campanha irá "avaliar convite a convite" dos próximos debates. "Não há problema em participar. Obviamente que a gente quer discutir um pouco o formato, o desse debate é muito engessado" afirmou a petista, para quem o líder nas pesquisas "fica sempre sendo o alvo" e "muitas vezes não consegue falar".
Segundo Gleisi, no entanto, a campanha avaliou "de forma positiva" a participação do ex-presidente no debate.
"O propósito era o presidente falar para o povo brasileiro sobre o seu legado, os seus feitos, falar sobre as propostas que nós temos e ele conseguiu falar isso. Abordou vários temas, foi respeitoso, foi tranquilo e era esse o propósito desse debate."
Uma pesquisa qualitativa sobre o desempenho de Lula no Jornal Nacional apontou como positiva sua atuação, especialmente no discurso sobre o que fez e fará.
A intenção original era que o ex-presidente mantivesse o mesmo tom no debate de domingo, desde que Bolsonaro não fosse tão incisivo.
O objetivo era que Lula soasse equilibrado, porque pesquisas indicam que o eleitor, sobretudo de classe média, rechaça postura agressiva.
Na tentativa de ser ponderado, porém, o petista acabou sendo passivo demais.
Uma ala também defende que, caso Lula compareça aos próximos debates, ele redobre o treinamento, principalmente no que diz respeito ao tema corrupção, que será constantemente repisado por Bolsonaro.
Uma corrente sugere que Lula se debruce sobre o caso apelidado de "rachadinha" no Rio de Janeiro, além da evolução dos patrimônios de membros da família de Bolsonaro.
A avaliação é que, conforme a campanha avança, o ex-presidente fica com cada vez menos margem para errar. E, embora a avaliação majoritária da campanha tenha sido de que Lula ficou no empate neste domingo, ele precisa investir em avançar entre eleitores.
Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que atua na coordenação da campanha, o debate foi um "jogo para jogar mais na defesa". "As partidas para jogar mais no ataque serão mais perto da data da eleição", diz.
De acordo com aliados, Lula foi ao debate a contragosto porque tendia a concordar com uma ala da coordenação da campanha que defendia que ele não fosse, porque, como líder das pesquisas, seria alvo de ataques. O ex-presidente parecia cansado também.
Uma outra preocupação entre aliados do ex-presidente é a rouquidão de Lula. Eles ponderam qual imagem que se pode passar, porque o petista está fazendo esforço e isso pode parecer agressividade no discurso.
Integrantes da cúpula do PT afirmam que Lula está bem de saúde. O excesso de rouquidão na voz, dizem, tem a ver com os eventos de campanha e com um refluxo gástrico adquirido pelo ex-presidente. O petista tem tomado bastante água, feito tratamento caseiro com mel e exercícios com fonoaudiólogo.