Patrimônio de vice de Cláudio Castro é 4 vezes o declarado e inclui operações suspeitas

Por ITALO NOGUEIRA

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O ex-deputado Washington Reis (MDB-RJ), vice na chapa do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), tem como patrimônio real ao menos o quádruplo do declarado à Justiça Eleitoral e conta com transações imobiliárias suspeitas.

Reis também é réu sob acusação de corrupção em caso de fraude de escrituras públicas sobre terrenos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.

O emedebista é atualmente alvo de pressão de aliados de Castro para que deixe a posição de vice na chapa após ser alvo de operação da Polícia Federal sob suspeita de desvios na saúde em Duque de Caxias, cidade em que foi prefeito até março deste ano.

Ele foi escolhido para a chapa por indicação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e tem sido usado para reforçar a presença da campanha do governador na Baixada Fluminense.

Em nota, Washington Reis afirma que seu patrimônio é o declarado à Justiça Eleitoral. Ele também disse não haver provas contra ele na ação penal por corrupção.

O ex-deputado declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$ 3,4 milhões, 50% a mais do declarado há dois anos, quando se candidatou a prefeito.

Registros públicos, porém, mostram que o rol de bens do vice de Castro atinge, ao menos, R$ 14 milhões.

O patrimônio não descrito por Reis à Justiça Eleitoral está em nome da W R Participações, empresa que ele divide com a irmã. Ele detém 98% da firma, cujo capital social é de R$ 800 mil. A participação de R$ 785 mil na sociedade está descrita na declaração de bens divulgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O patrimônio da firma atinge ao menos R$ 11 milhões. A não inclusão dos bens da empresa não é ilegal, mas dificulta a transparência sobre o patrimônio do candidato, assim como ocorre com o governador paulista Rodrigo Garcia (PSDB).

O principal bem da W R Participações é um conjunto de seis terrenos contíguos de 600 mil metros quadrados em Belford Roxo.

Comprado por R$ 1 milhão em dezembro de 2016, o conjunto foi avaliado em R$ 10 milhões em junho do ano seguinte pela própria W R Participações ao usar os terrenos para integrar uma outra sociedade, a Olimpus Empreendimentos Imobiliários.

Esses terrenos ficam próximos de outros cuja tentativa de compra gerou uma denúncia de corrupção contra Washington Reis.

O ex-deputado é réu numa ação penal sob acusação de pagar R$ 150 mil a um tabelião para fraudar escrituras de compra e venda a fim de regularizar a documentação de áreas em que tinha interesse na cidade.

A W R Participações também realizou uma transação cujas características levantam suspeita de lavagem de dinheiro, de acordo com critérios do Coaf.

Em setembro de 2013, a empresa do ex-deputado adquiriu por R$ 120 mil um terreno em Duque de Caxias. Sete meses depois, a firma o revendeu por R$ 1,3 milhão, garantindo um lucro de 983%.

Além da valorização repentina, chama a atenção o fato de o mesmo imóvel ter sido avaliado em R$ 994 mil pelo governo do estado em 2011 num processo de desapropriação, posteriormente arquivado.

Reis também regularizou, como prefeito, um imóvel de sua propriedade em Xerém, bairro onde vive. Ele emitiu a própria certidão de regularização fundiária em 2020, recebendo o direito real de propriedade do terreno.

Foi a atividade imobiliária do ex-deputado que gerou sua condenação no STF (Supremo Tribunal Federal) por crime ambiental. Ele, ao lado dos irmãos Rosenverg e Gutemberg Reis, deputados federal e estadual, respectivamente, causaram danos numa área de preservação ambiental de 2003 a 2006, segundo o Ministério Público Federal.

O trio realizou um loteamento clandestino e, segundo as investigações, Washington Reis usou o cargo de prefeito para manter os atos ilegais. Ele foi condenado a sete anos de prisão. A Procuradoria Eleitoral impugnou o registro de candidatura do vice na chapa de Castro em razão dessa condenação.

Desde a confirmação da pena no STF, na última terça-feira (30), o emedebista é alvo de pressão para deixar a chapa. A movimentação aumentou após o ex-deputado ser alvo de uma operação da PF para investigar desvios na saúde no período em que Reis era prefeito de Duque de Caxias.

O emedebista, porém, afirma não haver irregularidades no caso. E conta com novo recurso no STF para tentar manter o caso em aberto e impedir a cassação de seu registro de candidatura.

Bens foram declarados à Justiça Eleitoral, diz candidato a vice A assessoria de imprensa de Washington Reis afirmou, em nota, que consta na declaração de bens do candidato a propriedade de suas quotas sociais da W R Participações Societárias.

"É importante lembrar que o valor das quotas sociais não pode ser confundido com o valor dos ativos de uma empresa. Isto não quer dizer que a WR Participações tenha em seu balanço patrimônio maior que R$ 13 milhões", diz a nota.

Em relação à acusação de corrupção por fraude de escritura pública, o ex-deputado afirmou que a ação penal não tem qualquer "comprovação inequívoca de qualquer conluio com a finalidade" de fraudes.

Reis também considera possível o lucro de 983% obtido em sete meses com a compra e venda de um terreno em Duque de Caxias.

"Quem conhece o mercado imobiliário sabe que este tipo de transação é possível, e para que isto aconteça é necessário conhecer bem a região, os preços dos imóveis e ter grande capacidade de negociação, requisitos estes que todos que me conhecem sabem que tenho, pois nunca compro nada que esteja acima do preço de mercado e sempre soube enxergar as oportunidades existentes", disse o ex-deputado, em nota.

Sobre a regularização de seu terreno em Xerém, Reis declarou que regularizou dezenas de imóveis do bairro. "A regularização não foi em benefício pessoal e sim em benefício de centenas de moradores de Duque de Caxias."