Haddad e Tarcísio minimizam estagnação, e Rodrigo mantém plano para mudar campanha

Por BRUNO B. SORAGGI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O crescimento do governador Rodrigo Garcia (PSDB) na pesquisa Datafolha desta quinta-feira (15) foi comemorado pelos tucanos no momento em que a equipe promove mudanças no time e adota um tom mais ofensivo diante dos seus principais concorrentes, Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A pesquisa mostra que Rodrigo diminuiu a sua distância de Tarcísio --agora ambos estão empatados tecnicamente, com 19% (antes eram 15%) e 22% (antes eram 21%), respectivamente. Haddad segue na liderança, com 36% ante 35% na pesquisa anterior, de 1º de setembro. A margem de erro é de dois pontos.

Ouvidos pela reportagem, aliados de Haddad e Tarcísio minimizaram a estagnação e os pontos de preocupação que a pesquisa aponta. O entorno do petista diz que não se deve escolher adversário no segundo turno, enquanto a campanha do bolsonarista acredita ter vantagem sobre Rodrigo.

De acordo com estrategistas de Rodrigo, dois fatores ajudam a explicar o avanço. Primeiro, o resultado das propagandas na TV, em que o tucano tem o dobro do tempo dos rivais, que o tornaram mais conhecido e menos rejeitado.

Em segundo lugar, o empenho da classe política na reta final de campanha. Com a máquina do estado na mão e a tradição do PSDB no estado, Rodrigo tem a grande maioria dos prefeitos ao seu lado.

Os números do Datafolha ainda desenharam para os tucanos qual deve ser seu próximo movimento na campanha, o de pregar um voto útil em Rodrigo contra o PT. Segundo o entorno do governador, o voto útil vai ocorrer de forma automática, pois o levantamento evidencia que Rodrigo tem mais chances contra Haddad do que Tarcísio.

No segundo turno contra o tucano, Haddad marca 47% a 41%. Já contra Tarcísio, a vantagem do petista é maior, 54% a 36%.

Rodrigo, que vinha de dois resultados desfavoráveis no Datafolha e aumentou a pressão sobre sua equipe de marketing, tem novas mudanças programadas na campanha --que, segundo os tucanos, ainda trarão resultado em novas pesquisas. Em levantamentos internos, eles afirmam que Rodrigo já ultrapassa Tarcísio.

Temas como a vacina contra o coronavírus, algo ignorado por Rodrigo na tentativa de se descolar do ex-governador João Doria (PSDB), o combate ao feminicídio no estado e programas voltados às mulheres, assim como associação de Tarcísio a misoginia, deverão ser mencionados com frequência a partir de agora.

Por outro lado, lemas como "paulista raíz" e o "nem direita, nem esquerda, pra frente" vão, aos poucos, sendo utilizados com menos frequência. Até mesmo a postura do tucano nos debates está sendo reavaliada. A tendência é que o governador, que tem sido o alvo dos concorrentes, reaja de maneira mais incisiva.

Para implementar essa troca de rumo, o marqueteiro da campanha Chico Mendez, que vem sendo cobrado, terá reforços. O cientista político e ex-deputado estadual Bruno Caetano, que atuou nas gestões de José Serra e Geraldo Alckmin, deverá se licenciar do cargo de diretor-executivo do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) para se concentrar na disputa eleitoral.

A postura mais ofensiva da campanha tucana já pôde ser observada no vídeo em que associa Tarcísio, de forma pejorativa, a Gilberto Kassab (PSD), Eduardo Cunha (PTB) e Frederico D´Ávila (PL), que aparece xingando o papa Francisco.

O tucano tem explorado ainda o episódio em que o deputado estadual Douglas Garcia, do mesmo partido de Tarcísio, hostilizou a jornalista Vera Magalhães. No dia seguinte à confusão, a campanha do governador veiculou uma peça enaltecendo que o estado tem a menor taxa de feminicídio no país e os programas voltados às mulheres, como a dignidade íntima.

A mira de Rodrigo em Tarcísio se explica pela disputa paralela entre eles pela segunda vaga do segundo turno. Membros da campanha do governador afirmam que Tarcísio chegou a um teto, pois ao mesmo tempo em que Jair Bolsonaro (PL) o impulsiona, também lhe impõe um limite com alta rejeição.

Rodrigo e Tarcísio são conhecidos por 56% da população, mas o primeiro tem rejeição de 17% ante 27% do segundo.

Estrategistas de Tarcísio ainda veem mais vantagem, na reta final da eleição, em apresentar o ex-ministro patrocinado pelo presidente do que em direcionar a publicidade para atacar os adversários. O foco segue no trabalho de associá-lo a Bolsonaro.

Outro mote é apresentar o ex-ministro como uma novidade para resolver São Paulo. Para membros da chapa, a ideia de Rodrigo de se apresentar como um "novo governador" não pega, já que ele ocupa cargos no governo há mais de 20 anos.

Os aliados de Tarcísio minimizam a subida de Rodrigo, já que ela se deu no limite da margem de erro, e dizem que outras pesquisas mostram o bolsonarista mais descolado do tucano. Em nota, a campanha comemora que o ex-ministro tem o voto mais convicto entre os rivais.

Entre os eleitores de Tarcísio, 70% se dizem decididos e 30% ainda podem mudar. Os índices são de 67% e 33% para Haddad e de 57% a 43% para Rodrigo.

Aliados de Tarcísio também veem pontos fracos no principal adversário. Eles acreditam que a estratégia de Rodrigo de se posicionar como nem de direita nem de esquerda é "morna" e não tem funcionado.

Um dos interlocutores do ex-ministro avalia que a situação de Rodrigo é delicada, já que essa imagem de "lobo em pele de cordeiro" pode pegar mal e que ele tem "telhado de vidro", citando o caso do irmão Marco Aurélio Garcia, que foi condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS, esquema que desviou mais de R$ 500 milhões dos cofres da Prefeitura de São Paulo.

A pesquisa, que mostra Haddad como o mais rejeitado (35%), traz dados que acendem o alerta de petistas, já que a maior parte dos aliados do ex-prefeito preferia enfrentar Tarcísio a Rodrigo no segundo turno. Isso porque a rejeição a Bolsonaro daria chances de vitória ao petista.

O discurso de integrantes da campanha, no entanto, é o de que não se escolhe adversário.

Conforme a Folha de S.Paulomostrou, Haddad tem feito ataques mais duros a Rodrigo do que a Tarcísio, com quem conversou amistosamente no último debate entre candidatos ao governo, na terça-feira (13). Na ocasião, Rodrigo foi escolhido como alvo principal por ambos.

A estratégia chegou a desagradar coordenadores da campanha do ex-presidente Lula (PT), que preferiam que Haddad mirasse em Tarcísio e não destruísse pontes com Rodrigo --na tentativa de já trazê-lo como aliado num segundo turno. A pesquisa, no entanto, mostrou que o tucano não está descartado.

Para o secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto (PT), a pesquisa teve bom resultado por mostrar Haddad consolidado à frente.

"Quem quer ganhar não pode escolher adversário. A pesquisa mostrou que Rodrigo está no jogo. Estava saindo do jogo, voltou. Acho que o levantamento preocupa mais o Tarcísio, porque o Haddad está se consolidando como primeiro colocado e está se mantendo", disse.