Lula faz nova ofensiva por agro com entrevista ao Canal Rural e viagem de Alckmin
BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em mais um esforço para ampliar apoios e tentar ganhar as eleições no primeiro turno, a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve realizar uma série de gestos ao agronegócio nesta semana -setor que representa uma das bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na terça-feira (20), o petista gravou uma entrevista para o Canal Rural e falou sobre temas sensíveis ao segmento. Pela primeira vez, Lula tratou de forma enfática sobre a questão das armas no campo.
De acordo com aliados do petista, o ex-presidente afirmou que é legítimo que o homem do campo tenha uma ou duas armas para defender sua propriedade rural e não ficar vulnerável. Também disse, por outro lado, que pretende reverter a possibilidade de compra de grandes quantidades de armamentos.
O petista já afirmou no passado que quer rever decretos armamentistas de Bolsonaro.
Ainda segundo interlocutores, o ex-presidente ainda voltou a falar sobre o papel do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) num eventual governo e rechaçou a hipótese de que o grupo invada áreas produtivas.
Lula defendeu a reforma agrária e ressaltou que o governo é obrigado a pagar pela desapropriação de terras improdutivas, destacando que, se eleito, governará para todos.
A entrevista deve ir ao ar nesta quarta-feira (21). No mesmo dia, o candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), viaja para Goiânia (GO). Na quinta (22), ele segue para Porto Velho (RO).
A ideia da campanha petista é reforçar a mensagem de que o ex-presidente reconhece a importância do setor para a economia brasileira e que, num eventual novo governo, dará total atenção ao agronegócio.
Na segunda (19), numa preparação para a entrevista, o ex-presidente conversou com três dos principais fiadores da campanha petista junto ao agro: o senador Carlos Fávaro (PSD), o deputado federal Neri Geller (PP) --candidato ao Senado-- e o empresário Carlos Ernesto Augustin.
Petistas se referiram ao encontro como "agrotraining", durante o qual Lula foi aconselhado a não fugir de nenhum assunto na entrevista e a "distensionar" a relação com o "ninho bolsonarista". O petista também pediu ao MST subsídios para elaborar as respostas na semana passada.
Lula sabe que precisa ser cuidadoso nas declarações envolvendo o movimento social, já que esse é um dos focos de ataque do presidente Bolsonaro e tema com forte apelo no agro.
Nos últimos dias, Fávaro, Geller e Augustin incentivaram o presidente a gravar a entrevista para reforçar o diálogo junto aos produtores rurais e furar a bolha da esquerda. Além disso, a avaliação é a de que a participação em um canal voltado para o setor pode ajudar a compensar a falta de agendas presenciais.
A campanha petista chegou a prever viagens de Alckmin a estados com forte presença do agronegócio, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Essas agendas, no entanto, não saíram do papel.
Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), os quatro presidenciáveis melhores colocados nas pesquisas de intenção de voto, foram convidados pelo Canal Rural para uma entrevista gravada e com duração de uma hora. A entrevista com o pedetista foi exibida no último dia 6 de setembro.
Levantamento do Datafolha divulgado no último dia 15 mostrou Lula com 45% das intenções de voto, ante 33% de Bolsonaro. Em terceiro lugar, empatados tecnicamente, apareceram Ciro, com 8%, e Tebet, com 5%.
Em Goiânia, Alckmin deve participar de reunião com o ex-deputado federal Sandro Mabel, hoje presidente da Fieg (Federação das Indústrias do Estado de Goiás), e receber apoio de integrantes do setor.
A agenda tem sofrido resistência de representantes da área em Goiás. O presidente da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), o deputado federal José Mário (MDB), publicou uma mensagem nas redes sociais repudiando o encontro.
"A Faeg tem muito interesse em dialogar sobre o desenvolvimento do nosso estado, mas não estaremos presentes em reunião [da Fieg] com o candidato a vice de esquerda. Dialogamos com quem reconhece a força do agro em todos os momentos", afirmou José Mário no Twitter.
Ainda assim, a expectativa é de reunir ao menos 50 empresários do agronegócio e do comércio goiano, entre os quais Alberto Borges Souza, da Caramuru Alimentos. Alckmin também deve participar de evento com militantes e candidatos da coligação do PT no estado.
O ex-governador do Piauí Wellington Dias, que faz parte da coordenação da campanha, afirma que a tentativa de criar pontes com representantes do agronegócio é menos uma estratégia "apenas pensando no voto" e mais um indicativo de que haverá diálogo com "todos os setores que são essenciais".
Wellington citou o encontro de Lula com oito ex-presidenciáveis na segunda como exemplo de que, em caso de vitória, o governo petista será "de coalizão".
"[Será] um governo de coalizão ampla numa conjuntura de reconstrução, em que a tônica vai ser diálogo, harmonia e estabilidade para que existam as condições de um projeto com medidas emergenciais de curto, médio e longo prazo", diz o petista.
A campanha de Lula investiu em ao menos um anúncio no Google voltado a buscas relacionadas ao agronegócio. Nele, os usuários eram direcionados a um texto no site do ex-presidente que afirma que Lula "valoriza o agronegócio" e que é mentira que "Lula vai acabar com o agro". O anúncio foi exibido de 5 a 20 de setembro e visualizado por cerca de 15 mil pessoas.
O ex-presidente foi alvo de críticas quando disse, em entrevista ao Jornal Nacional, que existe uma parcela do agro "fascista e direitista" que se opõe ao PT por ser contra políticas de preservação do ambiente.
À época, Augustin disse à Folha de S.Paulo que o ex-presidente errou ao se referir a parte do setor como "fascista" e defendeu que ele pedisse desculpas pela generalização.