Delator de escândalo do PT nos anos 90 troca Ciro por Lula

Por FÁBIO ZANINI

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Expulso do PT após denunciar um dos primeiros escândalos de corrupção da história do partido, o economista Paulo de Tarso Venceslau escreveu uma carta aberta declarando que mudou seu voto de Ciro Gomes (PDT) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Quando teve início a campanha eleitoral deste ano, cheguei a divulgar meu apoio a Ciro Gomes. Não conseguia engolir a possibilidade de votar em Lula. O tempo passou e a realidade começou a esmurrar a minha porta: é preciso derrotar essa insanidade política que nos governa a qualquer custo", afirmou.

Em 1997, Venceslau foi delator do chamado "caso CPEM", acusando prefeituras do partido de irregularidades na contratação de uma consultoria ligada ao advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula.

Uma comissão de ética interna avalizou as denúncias, mas foi destituída pelo diretório nacional do partido. Venceslau acabou expulso da legenda no ano seguinte.

Ex-militante contra a ditadura, o economista foi um dos fundadores do PT, mas diz que gradualmente foi se desiludindo com o partido.

"Em 1998 fui expulso do PT, a pedido de Luiz Inácio da Silva, que não acatou as conclusões de uma comissão de ética do próprio partido. Embora desanimado com os rumos, creio que me mantive fiel aos valores de um militante que passou mais de cinco anos preso pela ditadura militar".

Na carta, Venceslau mantém as críticas a Lula, dizendo que ele "não é nenhuma flor que se cheire". Mas afirma serem exageradas as críticas feitas a ele pela campanha de Jair Bolsonaro (PL).

"Longe do terrorismo que a extrema direita tenta vender quando afirma que teremos uma ditadura comunista ou que as igrejas serão fechadas, não foi isso que eu vi ao longo dos seus oito anos como presidente", diz ele, que menciona ainda os benefícios obtidos nos governos de Lula pelos bancos e o agronegócio, além do aumento do poder aquisitivo e da estabilidade política.

Uma vitória do petista, afirma Venceslau, seria importante para afastar a ameaça de interferência militar na democracia.

"Se [Lula] vencer no primeiro turno, estará criada oportunidade ímpar para pôr ordem na casa. A primeira e mais importante [medida] é convencer os militares que eles precisam assumir seu papel definido pela Constituição", afirma.

O movimento do economista atende a um desejo da campanha de Lula, de atrair o voto útil de eleitores de Ciro para garantir a vitória já no primeiro turno.

Ao Painel, Venceslau diz que mantém amigos no PT, mas que não tem pretensão de que essa carta signifique uma reaproximação com o partido. "Sigo sendo de esquerda, com meus valores", afirma.