Justiça nega pedido do PT para tirar bandeira gigante do Brasil na 1ª Assembleia de Deus do país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma gigantesca bandeira do Brasil, estendida na fachada da mais antiga Assembleia de Deus no país, virou uma nova pedra no caminho entre evangélicos e a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Pará negou nesta sexta (14) um pedido da Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PC do B e PV, para retirar a flâmula do prédio que abriga a chamada Igreja Mãe em Belém.
Fundada em 1911, a Assembleia de Deus se multiplicou ao longo dos anos e hoje contempla inúmeras ramificações, com lideranças distintas. Essa ala assembleiana seminal é liderada pelo pastor Samuel Câmara, que nesta eleição apoia Jair Bolsonaro (PL). Ele já esteve com Lula no passado.
Na ação derrotada na corte, a federação aponta propaganda eleitoral irregular capitaneada por simpatizantes do bolsonarismo. A bandeira, associada ao presidente que tenta se reeleger, serviria como "um outdoor de enorme dimensão". Pede-se "poder de polícia" para a "retirada imediata" da bandeira exposta na lateral do edifício, sob pena de multa de R$ 50 mil.
A legislação veda a campanha política dentro de templos religiosos por entender que eles são "bens de uso comum", numa lista que também inclui cinemas, estádios e mercados. Daí não ser permitido, ao menos na teoria, pedir votos durante um culto ou levantar cartazes em prol de um candidato.
O verde e amarelo que representa o Brasil tem sido fartamente utilizado para sinalizar simpatia a Bolsonaro dentro de igrejas evangélicas. No primeiro turno, vários pastores subiram ao púlpito com a camisa da seleção, por exemplo. Todos eram bolsonaristas convictos.
Em sua decisão, a juíza eleitoral Blenda Nery Rigon Cardoso evocou decisão do TRE gaúcho contrária ao entendimento proposto por PT e aliados: "Não há vedação para o uso de símbolos nacionais na propaganda eleitoral [...] Inviável limitar o direito à liberdade de expressão quanto à utilização de um símbolo nacional, garantia fundamental insculpida constitucionalmente".
O caso emergiu após a juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, titular de um cartório eleitoral na região das Missões, no Rio Grande do Sul, dizer em entrevista que a bandeira passou a simbolizar "um lado da política" e, portanto, deveria obedecer a regramentos eleitorais.
Na época, bolsonaristas viram uma brecha para acusar a Justiça Eleitoral de querer atacar o símbolo nacional. A primeira-dama Michelle Bolsonaro recorreu ao Instagram para atacar o comentário da juíza: "Ativismo político ou insanidade mental? Inacreditável, Senhor!"
O pastor Philipe Câmara, filho de Samuel Câmara, diz à Folha de S.Paulo que a bandeira já cobriu a sede em ocasiões passadas, como no 7 de Setembro ou no centenário da Assembleia de Deus, em 2011. Ele enviou um vídeo antigo em que ela ocupa quase todo o teto do edifício, com fiéis orando em seu entorno, para exemplificar.
A bandeira voltou à fachada agora "pela mesma razão que colocamos em momentos de festa, cívicos, de comoção e alegria nacional", afirma. "Estamos vivendo um momento importante para o Brasil. Como fazemos há muitos anos, estamos orando pelo Brasil."
Philipe também se disse "surpreso de saber que a bandeira não pode mais ser usada num país livre e democrático como o nosso" e lamentou que "o símbolo maior da nação seja tratado dessa forma".
Presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) aproveitou o episódio para chamar o PT de "partido das trevas". A expressão havia sido usada mais cedo por Michelle Bolsonaro.
A reportagem ainda não conseguiu falar com a Federação Brasil da Esperança.