Após campanha marcada por casos de violência, eleições têm clima tranquilo no país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após uma campanha eleitoral marcada pela série de episódios de violência pelo país, a votação deste domingo (2) foi relativamente tranquila na maior parte do Brasil. Segundo governos estaduais e autoridades de segurança pública, poucas ocorrências foram registradas ao longo do dia.
O caso mais grave foi o de dois policiais militares baleados em uma seção eleitoral na zona sul de São Paulo. Eles estavam na Escola Estadual Deputado Aurélio Campos, no bairro Cidade Dutra. Uma PM foi atingida no abdômen, enquanto seu parceiro foi atingido na cabeça e no ombro. Ele está internado em estado grave no Hospital das Clínicas.
Duas pessoas foram presas no fim da tarde sob suspeita de participação no crime. Uma das hipóteses investigadas pela polícia é uma possível ligação do ataque com o aniversário de 30 anos do Massacre do Carandiru, que deixou 111 presos mortos em 2 de outubro de 1992 --ou seja, sem ligação com a eleição.
De acordo com a polícia, a dupla foi presa por um grupo especial de investigação da Corregedoria da corporação chamado PM Vítima, que atua em casos de violência contra policiais. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.
Além do ataque na região da Cidade Dutra, policiais também perseguiram um homem armado com um revólver que tentou entrar em uma escola de Mauá, na Grande São Paulo. Ele conseguiu fugir, mas deixou cair um telefone celular.
Em Ponta Grossa (PR), um homem com autorização de CAC (Caçador, Atirador e Colecionador) foi flagrado com quatro armas, na zona rural. O suspeito teria feito um disparo. "Ele não estava muito próximo de seção [eleitoral], mas foi um caso que chamou a atenção", afirmou o coronel Hudson Teixeira, comandante geral da Polícia Militar do Paraná.
Durante a campanha, o relatório "Violência Política: as violações de direitos humanos no período eleitoral 2022", da Anistia Internacional, apontou que foram 42 violações de direitos humanos em 90 dias, sendo que cinco pessoas foram assassinadas.
Antes mesmo do início oficial da campanha, casos de agressão já se acumulavam. Em julho, um policial bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros um militante petista em Foz do Iguaçu (PR).
Neste domingo, um homem foi preso por suspeita de injúria racial contra uma mesária em uma seção eleitoral em uma faculdade particular no bairro do Stiep, em Salvador.
De acordo com a Polícia Civil da Bahia, o homem, de 65 anos, ofendeu uma mesária, chamando ela de tirana e incompetente. Na sequência, teria alegado que a mesária o favoreceria se ele fosse negro ou homossexual.
Também em Salvador, um homem foi preso sob acusação de agredir eleitores em uma seção eleitoral em uma faculdade particular no bairro do Stiep. Ele foi levado por policiais militares e saiu da faculdade sob vaias e gritos de "racista" dos demais eleitores.
Em Cerro Grande (RS), um eleitor foi preso após ferir um policial militar que tentou impedir que ele entrasse com uma faca na escola onde vota.
Em Cajazeiras, sertão da Paraíba, um eleitor do presidente Jair Bolsonaro (PL) acabou preso após dar murros na urna no momento da votação.
De acordo com a PM, o eleitor disse que estava digitando o número do candidato e aparecendo a foto de outro e por isso, teria perdido o controle.
Em Goiânia, um homem foi preso suspeito de quebrar uma urna eletrônica. A ação foi filmada por outros eleitores, e a Polícia Federal abriu uma ocorrência contra o suspeito.
Em Jundiaí, no interior paulista, a Justiça Eleitoral tenta descobrir quem é o eleitor que colou as teclas 1 e 3 de uma urna eletrônica, o que impedia a votação em candidatos do PT. O equipamento foi substituído.
No Mato Grosso do Sul, um rapaz de 22 anos é procurado pelo mesmo motivo: colocar cola em teclas da urna eletrônica.
Uma mulher de 45 anos foi presa em flagrante após ter tirado duas fotos de uma urna eletrônica em Macapá, capital no Amapá.
Até o início da noite deste domingo, o Ministério da Justiça e Segurança Pública havia registrado 245 prisões por supostos crimes eleitorais neste domingo (2). O número é sete vezes maior que os 34 casos observados entre os dias 26 de setembro e 1º de outubro, quando começou a Operação Eleições.
Na Escola Estadual Professor Fidelino, em Santa Cecília, no centro de São Paulo, a produtora de cinema Paula Garcia, 38, bateu boca diversas vezes com o eleitor que estava imediatamente atrás dela em uma apartada fila para acesso à seção eleitoral. O motivo é que ela estava com óculos em forma de estrela e vestido vermelhos, além de adesivos do PT colado na roupa.
O eleitor esbravejava para todo o corredor da escola ouvir que a mulher estava fazendo boca de urna, por causa dos adesivos. "Não vão me intimidar", disse ela. Eleitores que estavam próximos tiveram de intervir para acalmar os ânimos.
Do lado de fora, a atriz Taiuri Muller, 33, não escondia o lenço vermelho de Filipa, sua cachorrinha de 11 meses de idade, que levava em uma bolsa.
A eleitora, que estava de roupa e batom vermelho por causa do PT, admitiu que só foi votar assim porque conhece o bairro e porque mora perto da escola. "Em outro lugar, acho que não teria coragem", afirmou.
O clima de tranquilidade na região fez com que bares e restaurantes ficassem lotados durante toda a tarde. No Sotero, na rua Barão de Tatuí, a fila de espera chegava a meia hora. O que não desanimou o médico Rodrigo Paulino, 37. Com um adesivo do PT na roupa, disse não ter sido importunado nem no local de votação nem no caminho.
No interior do estabelecimento, o sócio do restaurante Sotero, Nagib Dahia, disse que a eleição não impediu que o local lotasse no meio da tarde, como normalmente acontece aos domingos.
"Até pensei que iria ter mais movimento, porque aqui é um reduto petista", disse ele, contando que no horário de pico a fila de espera chegou a meia hora.
Perto dali, em um bar na alameda Barros, a comerciante Mônica Aparecida Cavalcante, 53, avisava que na sua mesa, com oito amigos, não havia eleitor de esquerda.
"As pessoas têm o direito de se expressar como quiserem, mas aqui não tem petista, não", afirmou ela, que usava uma camisa da seleção brasileira.