Jerônimo reforça aposta em Lula no 2º turno na Bahia após virada contra ACM Neto

Por JOÃO PEDRO PITOMBO

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O PT deve reforçar a aposta na nacionalização da campanha pelo Governo da Bahia e intensificar, no segundo turno, a associação entre o candidato Jerônimo Rodrigues e Luiz Inácio Lula da Silva.

Ex-secretário estadual de Educação, Jerônimo teve 49,45% dos votos válidos, contra 40,8% de seu rival, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). O bolsonarista João Roma (PL) conquistou 9,08%.

Por uma margem de cerca de 45 mil votos, Jerônimo não conseguiu repetir os feitos do governador Rui Costa e do antecessor dele, Jaques Wagner, ambos do PT, que venceram a eleição para o governo no primeiro turno. Trata-se da primeira vez desde 1994 que o pleito estadual da Bahia terá duas rodadas.

Os resultados nas urnas cristalizaram um clima de otimismo na campanha petista. Após o fim da contagem dos votos, no domingo (2), Jerônimo não escondeu o entusiasmo.

"É um clima de vitória, clima de festa, porque, para todos os efeitos, a eleição estaria morta hoje, segundo o outro lado. E não foi isso, nós colocamos quase dez pontos sobre aquele que seria, nas pesquisas, o preferido", afirmou.

Escolhido candidato a governador em março, após Jaques Wagner desistir de concorrer, decisão que abriu uma crise no PT baiano, Jerônimo fez a campanha com o desafio de se tornar conhecido do eleitorado.

Ele iniciou a campanha com 16% das intenções de voto na primeira pesquisa Datafolha, de 24 de agosto. Mas seguiu em rota de alta e chegou à véspera da votação com 37%. Nas urnas, extrapolou a previsão.

Para Rui Costa, Jerônimo vai "ampliar bastante" a votação no segundo turno, pois, segundo ele, ACM Neto deve perder parte da capilaridade que tinha com as candidaturas a deputado estadual e federal.

Também aproveitou para criticar deputados, prefeitos e líderes políticos que trocaram de lado e passaram a apoiar o adversário: "A eleição deixou a lição de que o povo gosta da lealdade. Isso é nítido".

A despeito do otimismo, a ordem é manter um discurso de pés no chão, mesmo com a diferença de 700 mil votos para o adversário.

A estratégia é criar um ambiente de plebiscito e nacionalizar o pleito para buscar uma fatia dos 1,8 milhão de eleitores que votaram em Lula, mas não votaram em Jerônimo. Nesta terça-feira (4), o candidato derrotado a governador Kleber Rosa (PSOL) anunciou apoio ao petista.

Entre os aliados de ACM Neto, o clima é de cautela, e a avaliação é a de que o ex-prefeito de Salvador terá que reforçar suas bases. Em entrevista coletiva após o fim da contagem dos votos, no domingo, ele afirmou que não há frustração em seu grupo político e que o segundo turno é uma nova eleição.

"Se você somar os votos de quem não deseja a manutenção deste grupo que está aí há 16 anos no poder, nós somos maioria. Não vamos diminuir nem um pouco a nossa energia e vamos buscar essa maioria."

ACM Neto também disse considerar prematuro falar sobre apoios no segundo turno presidencial, mas indicou que deve manter o discurso de neutralidade que, embora tenha lhe rendido críticas, também lhe deu votos de petistas e bolsonaristas.

"Temos uma linha que não vou, de maneira nenhuma, modificar. Vou mostrar aos baianos que estamos prontos para governar com o presidente que o Brasil escolher."

Aliados do ex-prefeito estimam que metade dos 3,3 milhões de votos obtidos por ACM Neto no primeiro turno foram de eleitores de Lula, motivo que torna improvável um movimento em apoio a Bolsonaro. Em Salvador, tanto o ex-presidente quanto o ex-prefeito venceram em todas as zonas eleitorais da cidade.

O candidato da União Brasil defende no partido que os diretórios estaduais sejam liberados para tomar suas decisões sobre o pleito presidencial.

Ao analisar os resultados, aliados afirmam que a votação de Jerônimo foi empurrada pela força de Lula e pela cristalização do número do PT no eleitorado baiano. Também dizem que faltou mobilização maior, sobretudo nas grandes cidades, na véspera da eleição.

ACM Neto teve mais votos em 7 das 10 maiores cidades da Bahia. Mas a diferença em relação a Jerônimo ficou aquém do que era projetado, sobretudo em Salvador, onde a vantagem foi de cerca de 225 mil votos, equivalente a 16 pontos percentuais.

Para o segundo turno, a campanha do ex-prefeito aposta nos embates diretos com o petista nos debates e na comparação de currículos e de realizações.

Em 2022, a disputa eleitoral na Bahia repete um quadro de polarização entre grupos que se enfrentam desde 1998.

De um lado, a tradição do carlismo iniciada pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), avô de ACM Neto, cujo grupo comandou a Bahia entre 1990 e 2006. Do outro, as candidaturas do PT, que mantém hegemonia no estado desde 2007, com quatro mandatos consecutivos.