Lula diz que 'depois' falará sobre uso de jato de empresário para viagem à COP

Por ANA CAROLINA AMARAL E PHILLIPPE WATANABE

SHARM EL-SHEIKH, EGITO (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi questionado nesta quarta-feira (16) sobre ter viajado à COP27, no Egito, no jato do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

"Depois", limitou-se a dizer Lula, quando questionado pela Folha se poderia falar sobre o caso.

A resposta aconteceu em meio ao empurra-empurra de apoiadores que aproveitavam a saída de Lula da reunião com governadores da Amazônia, na manhã desta quarta-feira (16) na COP27 do Clima, em Sharm El- Sheikh.

O presidente eleito cumprimentou rapidamente as pessoas mais próximas -entre centenas que acompanhavam o evento do lado de fora do pavilhão amazônico-- mas evitou responder perguntas.

Aliados de Lula reconhecem desgaste com favores de empresários aceitos pelo petista após as eleições, mas saem em defesa do presidente eleito sob a alegação de que não há desvio ético nem ilegalidade jurídica.

O constrangimento é exposto pela necessidade de ter que dar explicações públicas e pelas críticas de opositores, embora auxiliares de Lula digam ser uma "crise artificial".

A fonte de desconforto está nessa viagem de Lula à COP27. O petista embarcou na segunda-feira (14) para participar da conferência da ONU sobre mudanças climáticas.

Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a aeronave em que viaja Lula é do modelo Gulfstream, com capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao país africano.

Lula e Seripieri são amigos há cerca de dez anos. Durante a campanha eleitoral deste ano, o empresário foi um dos primeiros com quem o petista concordou em se reunir para tratar de suas propostas de governo.

O empresário firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).

Seripieri Filho, conhecido como Júnior, ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.

Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.

No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.

Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.