Transição de Lula adia nomes da Defesa para não criar atrito com Forças Armadas

Por JULIANA BRAGA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Dos 31 grupos de trabalho da transição de governo, 2 foram deixados, intencionalmente, para o fim: os de Defesa e Inteligência. Ainda não há previsão de anúncio de seus componentes para a equipe de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Quando o relatório do Ministério da Defesa sobre o funcionamento das urnas eletrônicas sobre o sistema brasileiro de votação foi divulgado, aliados do petista defenderam que ele fizesse logo as nomeações para já indicar qual deve ser a sua política para a pasta.

Com um nome posto, apostavam, a tendência seria esvaziar o atual ministro, Paulo Sérgio Oliveira, e enfraquecer qualquer ação do atual comando.

O entendimento que prevaleceu, no entanto, foi o de que dada a proximidade que as Forças Armadas tiveram com o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o seu governo, o melhor seria evitar açodamento nessas indicações.

Os conselheiros de Lula avaliaram que o gesto poderia ser interpretado como afronta e, pelo contrário, acabar aglutinando o generalato em torno dos auxiliares de Bolsonaro.

Com mais tempo, a ideia é ampliar o diálogo com as forças e ir pavimentando uma boa relação para os próximos quatro anos da gestão petista. Integrantes da transição também afirmam que há dificuldade de encontrar um nome capaz e disposto a assumir o desafio.

Ao longo da semana, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas fizeram três manifestações públicas por escrito. Os assuntos não eram segurança ou soberania nacional, mas a fiscalização das urnas eletrônicas e os atos antidemocráticos que ocorrem pelo país desde o segundo turno da eleição.

Os documentos são ambíguos e flertam com o discurso propagado nos últimos meses por Bolsonaro e emulado por uma parcela de seus apoiadores que não aceitam a derrota eleitoral e pedem, em frente a quartéis, por um golpe militar.