Lula cancela entrevista e deve deixar Egito sem explicar uso de jato de empresário

Por ANA CAROLINA AMARAL E PHILLIPPE WATANABE

SHARM EL-SHEIKH, EGITO (FOLHAPRESS) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve sua última reunião nesta quinta-feira (17) no Egito e deixará Sharm el-Sheikh sem dar explicações sobre ter viajado à COP27 no jato do empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

A assessoria de Lula não confirma quando ele deverá deixar o Egito e seguir para Portugal.

A última reunião de Lula ocorreu na noite egípcia com a ministra alemã das relações exteriores Annalena Baerbock.

Uma entrevista coletiva de Lula chegou a ser agendada para esta quinta, mas foi cancelada em cima da hora. Segundo a assessoria, a coletiva foi cancelada porque a agenda estava toda atrasada.

No mesmo dia, Lula teve reuniões com representantes da sociedade civil brasileira, com o secretário-geral da ONU António Guterres e com o Espen Barth Eide, ministro norueguês do Clima. O presidente eleito também teve uma reunião com representantes de povos indígenas.

Aliados de Lula reconhecem desgaste com favores de empresários aceitos pelo petista após as eleições, mas saem em defesa do presidente eleito sob a alegação de que não há desvio ético nem ilegalidade jurídica.

O constrangimento é exposto pela necessidade de ter que dar explicações públicas e pelas críticas de opositores, embora auxiliares de Lula digam ser uma "crise artificial".

A fonte de desconforto está nessa viagem de Lula à COP27. O petista embarcou na segunda-feira (14) para participar da conferência da ONU sobre mudanças climáticas.

Como revelou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a aeronave em que viaja Lula é do modelo Gulfstream, com capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao país africano.

Lula e Seripieri são amigos há cerca de dez anos. Durante a campanha eleitoral deste ano, o empresário foi um dos primeiros com quem o petista concordou em se reunir para tratar de suas propostas de governo.

O empresário firmou acordo de delação com o Ministério Público em 2020 e confessou o crime eleitoral de caixa dois em um caso envolvendo o senador tucano José Serra (SP).

Seripieri Filho ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de Serra ao Senado em 2014.

Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.

No fim de 2020, o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.

Os termos do acordo, assim como detalhes dos depoimentos, permanecem sigilosos até hoje.