Lira é hostilizado por bolsonaristas ao chegar a jantar de PL com Bolsonaro

Por MARIANNA HOLANDA

MARIANNA HOLANDA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), foi hostilizado na noite desta terça-feira (29) por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) ao chegar para um jantar do PL em Brasília com a presença do mandatário.

Candidato à reeleição ao comando da Casa, Lira foi chamado de "traidor da pátria" e "omisso". O grupo, com cerca de dez pessoas, também questionava como ele dorme à noite.

O deputado chegou a olhar para trás quando os bolsonaristas começaram os xingamentos, mas entrou no local sem dizer nada.

Apoiadores do chefe do Executivo não reconhecem a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e têm liderado atos antidemocráticos em frente a quartéis pelo país.

O PL recebeu uma multa de R$ 23 milhões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na última semana, por litigância de má-fé, após apresentar uma ação golpista contestando votos em parte das urnas no segundo turno.

Embora seja aliado de Bolsonaro, Lira já conversou com Lula após a eleição, reconheceu sua vitória e obteve apoio do PT para ser reeleito à presidência da Câmara.

Além de hostilizarem Lira, apoiadores de Bolsonaro também xingaram jornalistas em frente ao local do jantar. O líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (PL-TO), teve de interromper sua entrevista em razão de interferências do grupo.

No jantar desta terça, havia uma centena de parlamentares do PL. Segundo o partido, seria para dar boas vindas aos novos deputados e senadores.

O partido, com Bolsonaro filiado, elegeu a maior bancada das duas Casas: 99 deputados e 14 senadores.

O encontro começou às 20h, e o mandatário chegou cerca de meia hora depois. Já Lira apareceu no local por volta das 21h. O chefe do Executivo foi exaltado por seus apoiadores ao deixar o jantar, após ficar cerca de uma hora, mas não chegou a cumprimentá-los.

Quando deixou o local, Lira não foi hostilizado, mas foi questionado por apoiadores sobre o que achava dos atos antidemocráticos em frente aos quarteis. Ele estava acompanhado de Carla Zambelli (PL-SP).

Desde que perdeu a eleição, Bolsonaro optou pela reclusão no Palácio da Alvorada, onde tem concentrado reuniões e despachos.

De acordo com aliados, ele ainda está decepcionado com a sua derrota. O jantar do PL nesta terça-feira foi o segundo evento ao qual Bolsonaro compareceu nos últimos 30 dias.

O primeiro foi no sábado (26) para uma cerimônia militar, mas permaneceu em silêncio. O evento, ao contrário do jantar do PL, foi público e ele também fora recepcionado por apoiadores.

O chefe do Executivo deixou o isolamento do Palácio da Alvorada e foi à formatura de aspirantes a oficial-general na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em Resende (RJ). Além de não discursar no encerramento do evento, como tradicionalmente fez durante seu mandato, Bolsonaro também interagiu pouco com os demais convidados.

Assim como no último sábado, nesta terça Bolsonaro também não discursou. Ele tirou muitas fotos com os presentes, segundo participantes do encontro, e estava bem-humorado.

De acordo com o deputado federal Wellington Roberto (PL-PB), não se falou em PEC da Transição no encontro ou em eleição à presidência das Casas.

Já o líder do partido na Câmara, Licoln Portela (PL-MG), disse que o clima foi de confraternização. Sentaram-se perto do presidente, segundo ele, a deputada Bia Kicis (PL-DF), o governador eleito de Santa Catarina, Jorginho Mello, entre outros.

Questionado sobre o motivo da vinda de Lira, que é de outro partido, Portela disse: "Se você fosse candidata à presidência da Câmara dos Deputados, você não estaria aqui?".

Ele também minimizou o apoio de petistas à reeleição de Lira na Casa. "Dificilmente um presidente da Câmara governa sem ter que conversar com todos os segmentos. Então é natural que faça as composições que precisa fazer".