Ministro de Bolsonaro quer PP na oposição a Lula, mas aliados de Lira veem partido independente

Por THIAGO RESENDE E JULIA CHAIB

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Apesar de o presidente licenciado do partido, Ciro Nogueira, querer que o PP seja oposição ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), as bancadas da sigla na Câmara e no Senado devem assumir postura de independência ao novo governo.

Aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), querem inclusive deixar a porta aberta para uma aliança futura com Lula no decorrer do governo petista. Lira e Lula têm trocado acenos, negociado concessões e se aproximado desde o resultado das urnas.

A transição para o lulismo, porém, precisa ser gradual, na avaliação de integrantes do partido. PP e PT já firmaram alianças no passado.

Líderes do PP pretendem reunir os parlamentares apenas em 2023 -depois que Ciro deixar a Casa Civil do governo Jair Bolsonaro (PL).

Ex-aliado de Lula, Ciro embarcou no bolsonarismo quando o atual mandatário abriu espaço no governo para cargos de indicação política e deixou o centrão controlar a divisão de emendas parlamentares.

Com a derrota de Bolsonaro na corrida pela reeleição, o ministro da Casa Civil segue defendendo a atual gestão e prometendo levar o PP para a oposição de Lula.

Ainda em abril deste ano, o ministro afirmou que ele se posicionaria contra o petista e trabalharia para que esta posição fosse referendada pelo partido, mas ponderou que a decisão seria da sigla.

"O senador Ciro Nogueira provavelmente vai voltar para o Senado e estará na oposição. E vou defender que o PP permaneça na oposição, mas é uma definição do partido", afirmou à Folha de S.Paulo, em abril. Ele sustenta até hoje esta posição.

Embora Ciro siga no discurso de polarização a Lula, membros do partido são unânimes em dizer que, ao reassumir o PP, ele não irá impor uma decisão e, portanto, respeitará a realidade política diversa dos parlamentares, deixando espaço para a ala lulista. Ou seja, o PP deve ser independente ao novo governo.

Pilar da base política de Bolsonaro, a trinca composta por PP, PL e Republicanos tem tomado rumos diferentes para a relação com o governo Lula.

O PL, de Valdemar Costa Neto, que abrigou Bolsonaro na disputa à reeleição, anunciou que será oposição a Lula -apesar de essa visão não ser unânime dentro da bancada de 99 deputados eleita em outubro.

Na semana passada, o Republicanos declarou que assumirá uma postura independente em relação ao governo petista. O partido, portanto, não irá "se negar ao diálogo e à colaboração" nas pautas de interesse da nova gestão.

Aliados de Bolsonaro foram eleitos pelo Republicanos. É o caso da ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (DF), do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (RS).

No caso do PP, já havia um racha dentro da sigla, principalmente, por causa da força de Lula no Nordeste. Uma ala do PP em estados como Bahia, Paraíba e Pernambuco já estava alinhada à candidatura do petista.

O PP elegeu 47 deputados para a legislatura que começa em fevereiro -perdeu espaço em relação à composição atual da Câmara, mas ainda deve ser a quarta maior bancada.

Entre os eleitos, 20 são da região Nordeste. Lira está nesta lista. Os bolsonaristas, como Delegado Fabio Costa (AL) e Clarissa Tércio, são minoria. A ala ligada aos deputados reeleitos Aguinaldo Ribeiro (PB) e Eduardo da Fonte (PE) já se aproximou do lulismo.

Os pepistas da Bahia também integram esse grupo. É o caso do vice-governador da Bahia e deputado eleito, João Leão, além de Mário Negromonte Jr.

No Senado, serão seis representantes do partido, o que significa a sexta maior força na Casa. A bancada, nesse caso, é mais bolsonarista.

Ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (MS) foi eleita pelo partido, que conta ainda com o retorno de Ciro ao Senado e também com Luis Carlos Heinze (RS), outro aliado de Bolsonaro.

O PP no Sudeste também tem se alinhado a governadores bolsonaristas. É o caso de Tarcísio, Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, e Cláudio Castro (PL), eleito no Rio de Janeiro.

Mas deputados do PP dizem que, diante do apoio do PT à reeleição de Lira, há uma ponte a ser construída com o novo governo, que começa com uma posição de independência da bancada.

Hoje o PP tem, além da Casa Civil, o cargo de líder do governo na Câmara, de Ricardo Barros (PR), e também indicações no segundo escalão de Bolsonaro -Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

A ala lulista do partido está de olho nesses postos de estatais. O grupo mais pragmático do PP, por outro lado, quer uma relação pacífica com Lula para manter os privilégios na distribuição das emendas de relator -principal mecanismo de negociação política entre o Executivo e o Congresso.