Miriam Belchior supervisiona vitrines do PT em Casa Civil empoderada
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de quase dez anos distante da Esplanada, a ex-ministra Miriam Belchior retornou ao centro do governo federal como secretária-executiva de uma Casa Civil empoderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Como secretária-executiva do ministro Rui Costa (PT), Miriam recebeu a missão de acompanhar as metas e cobrar prioridades dos 37 ministérios de Lula.
Entre outros pontos, Miriam tem o desafio relançar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ação que ela já supervisionou no governo Dilma Rousseff (PT), sem repetir falhas registradas pelo programa no passado.
Vitrine dos anos Lula e Dilma, o PAC é defendido por petistas como impulsionador do crescimento econômico por meio do investimento em grandes obras de infraestrutura.
Mas o programa também conviveu com problemas como atrasos, falta de conclusão das obras, elevação dos preços durante a execução, abandono por parte das construtoras e aceleração de gastos públicos.
A reformulação do novo PAC, cujo nome oficial ainda não foi definido, está em discussão com a equipe da Casa Civil. A ideia é que o relançamento ocorra até os cem dias do governo Lula 3.
Em gestões passadas do PT, Miriam foi secretária na SAM (Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento) e conselheira da Petrobras.
Como ministra do Planejamento (2011-2015), Miriam teve como uma das suas tarefas tocar o polêmico projeto da hidrelétrica de Belo Monte, na região Xingu, que opôs governo e ambientalistas e até hoje é alvo de críticas.
Miriam também foi presidente da Caixa Econômica Federal (2015-2016). Ficou no posto por menos de um ano e meio, até o impeachment de Dilma. Sua posse foi marcada por protestos de servidores contrários à possibilidade de abertura de capital do banco, como foi defendido à época pela então presidente da República.
Integrantes do governo descrevem Miriam como de perfil técnico, com uma visão geral de várias pautas do Executivo, além da experiência de quem já ocupou um cargo no primeiro escalão e sabe como funciona o jogo político.
Além disso, a secretária-executiva da Casa Civil tem acesso direto ao presidente da República. Segundo relatos, foi o próprio Lula que a convenceu a assumir o cargo. Ela participou da formulação do plano de governo da chapa Lula-Alckmin.
Durante a transição, chegou a ser cotada para assumir novamente o ministério do Planejamento. A pasta, contudo, acabou sendo ocupado pela emedebista Simone Tebet.
Se não foi alçada a ministra, Miriam esteve à frente da disputa interna no governo sobre qual pasta ficaria com o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos). O programa era cobiçado por Tebet, mas a ação de petistas históricos ?em especial Rui e Miriam? manteve a estrutura sob o guarda-chuva da Casa Civil.
Durante a eleição, Miriam falou ao jornal Folha de S.Paulo que o programa de concessões vai continuar, mas será diferente.
"Vamos continuar fazendo concessões nas áreas de rodovias, ferrovias, aeroportos, mas compondo isso com obras públicas. Não é a lógica de que só o investimento privado vai resolver nossos problemas", afirmou em junho do ano passado.
Miriam também defendeu a criação do ministério da Gestão e Inovação dos Serviços Públicos, que diluiu algumas funções que eram do Planejamento.
No segundo dia de governo, ela participou e discursou na posse de Esther Dweck no ministério da Gestão, onde dividiu o palco com duas mulheres de quem é próxima: tanto a nova ministra como a ex-presidente Dilma.
Em seu discurso, Miriam puxou um "viva a presidenta Dilma" a um auditório cheio, que acompanhou com palmas; elogiou a "capacidade criativa de trabalho" de Esther e destacou a criação da pasta ?"tema, para mim, muito caro".
"É a primeira vez que divido um espaço institucional com a presidenta Dilma, ela merece muito a recepção extremamente calorosa. Viva a presidenta Dilma", disse a secretária-executiva.
A proximidade entre Dilma e Miriam ficou especialmente marcada durante o processo de impeachment. Miriam foi uma das primeiras testemunhas de defesa a prestar depoimento na Comissão Especial do Impeachment no Senado.
Coube a ela a defesa dos créditos suplementares apontados como irregulares pelos adversários da petista.
"O que eu posso assegurar, pela minha experiência de quatro anos de ministra, em que editamos mais ou menos 70 decretos de suplementação por ano, é que toda a governança desse processo é extremamente robusta, contando com pareceres técnicos e jurídicos, com equipes de servidores públicos federais", disse Miriam à época.
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RAIO-X
MIRIAM BELCHIOR, 65
Formada em engenharia de alimentos e mestre em administração pública, foi ministra do Planejamento e presidente da Caixa Econômica Federal na gestão Dilma Rousseff (PT). No primeiro governo de Lula (PT) participou como assessora especial do presidente e subchefe de Avaliação e Monitoramento da Casa Civil. No segundo mandato do petista, foi responsável por monitorar as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Tem longa trajetória no PT, oriunda de movimentos sociais no ABC paulista. Foi casada por dez anos com Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André assassinado em 2002. É atual secretária-executiva da Casa Civil.