Presidente da Alesp se diz fiel a Tarcísio, elogia Bolsonaro e promete atender PSDB e PT
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Eleito novo presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo com 89 dos 94 votos possíveis, André do Prado (PL), 53, costurou uma ampla aliança que lembra a do deputado Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados.
A diferença é que, ciente do peso do apoio de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em sua eleição, André prega fidelidade absoluta ao novo governador.
Em entrevista à reportagem, logo após ser confirmado no comando da Casa nesta quarta-feira (15), ele também busca conciliação com os adversários, como PT ("converso com todas as bancadas") e PSDB ("foram competentes", "deixaram um grande legado"), estabelecendo um trânsito político que é a marca do centrão.
O aceno à oposição ocorreu por meio do respeito à proporcionalidade das bancadas na distribuição do poder da Mesa Diretora, que é composta por oito siglas. Nenhuma mulher, porém, foi escolhida para a nova cúpula da Assembleia.
Após uma legislatura marcada por agressões entre os parlamentares e uma deputada apalpada em plenário, André foge do discurso ideológico e promete punição aos empossados nesta quarta que cometerem abusos -novas cassações, inclusive, se necessário. Mas promete ter "paciência de Jó" e "não atropelar nada".
Numa referência aos bolsonaristas, ele diz não gastar tempo em "debate na internet", mas sim visitando cidades e ouvindo as demandas.
Ao falar com a imprensa após ser eleito, ele se esquivou ao responder se apoia ou não a privatização da Sabesp, principal meta de Tarcísio --que enfrenta oposição de boa parte do Legislativo.
"Não adianta fazer um debate de uma coisa que ainda não existe, que não chegou na Casa", disse.
Questionado sobre ser bolsonarista, André afirmou ser um deputado "que tem um trabalho não de costumes ou ideologia, mas que trabalha na ponta" e "pautado pelos interesses da população".
"Eu já estou no PL há 30 anos, quando me elegi vereador pela primeira vez em Guararema (SP). Mas nós do PL temos que reconhecer que o partido só cresceu devido à vinda do presidente [Jair] Bolsonaro", disse na entrevista coletiva.
Na ocasião, André afirmou que pretende dedicar mais sessões a pautar projetos dos deputados, e não do governo, e que a Mesa ainda irá decidir como será feito o protocolo de CPIs a partir do dia 23 --questão que causa celeuma pela briga pelo primeiro lugar na fila entre base e oposição.
Em relação à eleição de 2024, André afirmou em entrevista à reportagem que o PL tem interesse em discutir a candidatura de Ricardo Salles (PL), mas não descartou o apoio à candidatura de Ricardo Nunes (MDB).*
PERGUNTA - O que o sr. vai mudar em relação ao comando do PSDB na Alesp?
ANDRÉ DO PRADO - O PSDB encerrou um ciclo, são 28 anos e eles foram competentes. Ficar sete mandatos consecutivos comandando o estado de São Paulo é sinal que tinha aprovação da população. Eles deixaram um grande legado. Porém, temos muitos desafios a serem enfrentados, como a questão da habitação, tem milhões de pessoas morando à margem de rios, encostas.
P - O sr. mesmo apoiou Rodrigo Garcia (PSDB) no primeiro turno.
AP - Quando Bolsonaro veio para o partido, eu já tinha dado a palavra e fazia parte da base do governo do Rodrigo Garcia. A gente votou nos últimos quatro anos projetos estruturantes, o estado está saneado. Porém, tem muitos desafios, desigualdades sociais, essa questão da cracolândia.
Aqui na Assembleia a gente vai manter tudo aquilo que vem dando certo, a gente vai inovar ao votar mais projetos de deputados. Vamos fazer um trabalho de articulação com o governo para diminuir o máximo possível os artigos que podem ser vetados.
P - Na Câmara, Arthur Lira (PP-AL) conseguiu também uma coalizão de apoio a ele. É parecida a situação do sr. aqui? Deve contemplar oposição e situação?
AP - Usando o regimento da Casa, sempre que possível vou usar a proporcionalidade. A minha candidatura partiu com apoio do governo, apoio dos deputados do PL e aí depois eu fui fazendo uma estratégia de todos os partidos para respeitar a proporcionalidade.
Foi assim com PT, PSDB e mantive firme nessa mesma estratégia. Coloquei praticamente todos os partidos com quatro ou mais deputados na Mesa.
O PP não é a maior bancada na Câmara. Aqui, a maior bancada é o PL. Então, lá teoricamente não seria ele [o presidente], mas devido à força política que ele tem, conseguiu construir os acordos políticos com todas as bancadas.
P - Como conseguiu o apoio do governador se não o apoiou desde o primeiro turno?
AP - O PL era para ter a vice do Tarcísio e abriu mão para agregar o PSD na coligação. Eu tinha um compromisso com Rodrigo Garcia. Isso tudo conversado com o governador Tarcísio, falando: temos esse compromisso, mas, caso Rodrigo não vá para o segundo turno, estamos na sua campanha no dia seguinte.
P - Muda algo na dinâmica da Casa um presidente de um partido diferente do governador?
AP - Não, o PL será base do governo Tarcísio, principal partido da base, pelo número de deputados que tem a nossa bancada.
P - Questionado se é bolsonarista, o sr. disse que não é um deputado de ideologia e costumes...
AP - enho respeito total a quem defende as pautas, porque tudo é benéfico. Estamos vivendo uma transformação no nosso país, as pessoas se posicionam o que elas são a favor, são contra.
É que nunca militei nessa área. Como fui prefeito, vereador, o meu tempo não é debate na internet, o meu tempo é olhar, ir lá na cidade de Itaquaquecetuba, que precisa fazer casas, precisa ter emprego. São pautas mais relacionadas a questões práticas.
P - Essa pauta ideológica dominou a política brasileira nos últimos quatro anos, com a chegada de Bolsonaro. O governador foi eleito com essa base. Por que o governador não apoiou um nome do PL que seja bolsonarista?
AP - Porque se a Casa pende só para um lado não vai ter a governabilidade e segmentos da sociedade não serão representados. Como venho de uma ala moderada, converso com todas as bancadas. Minha votação, inclusive, com 89 votos, foi por conta disso. O governador, sabendo do meu histórico, percebeu que serei um presidente que trabalhará para todos e terá bom senso de fazer com que projetos do Executivo possam tramitar mais rapidamente na Casa para serem aprovados.
P - Como o sr. vai lidar com a bancada de mulheres e de negros, dados os embates passados?
AP - A minha paciência vai ser de Jó, para ouvir, para esperar. Não tenho pressa, nós temos tempo. Não vou atropelar nada. Tenho que respeitar, porque é a voz da sociedade representada através desses deputados. Não posso jamais calar nenhum deputado.
P -Disse que iria coibir abusos entre deputados. Como será isso?
AP - Todos os deputados estão mais maduros, esses quatro anos amadureceram muito. A gente vai cumprir o regimento. Quando [alguém] praticar excessos, como presidente tenho que manter a ordem da Casa. E se passar do limite temos instrumentos para ser avaliada a atitude de cada deputado, tivemos deputados cassados e suspensos [na legislatura passada].
P - Não é um tabu mais cassar deputado?
AP - Não é tabu, fizemos uma cassação [de Arthur do Val por fala sexista em relação a ucranianas] de maneira muito natural, porque achamos que foi cometido um excesso brutal, uma desonra muito grande principalmente com falta de respeito a mulheres do nosso estado.
P - Falando na eleição de 2024, o deputado Ricardo Salles se coloca como candidato a prefeito, o que gera uma saia justa com parte do PL, que está propensa a apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Como o sr. se coloca nessa questão?
AP - O PL hoje é protagonista em qualquer cidade do estado de São Paulo. Aqui [na capital] é uma cidade que o PL vai trabalhar muito para fazer a maior parceria possível. Agora, hoje tem um grupo que defende a manutenção e apoio ao prefeito Ricardo Nunes e tem um grupo que acha que já temos tamanho suficiente para lançar candidaturas a prefeito. E o Ricardo Salles é um dos deputados mais votados de São Paulo e do Brasil.
P - O sr. parece simpático a essa ideia.
AP - A gente tem que pensar o seguinte dentro do partido: quando um nome desse tem a coragem de colocar o nome à disposição, nós temos que ir avaliando se o nome dele é viável. É uma pessoa muito preparada, ele já demonstrou que tem capacidade. É um nome que tem o direito de pleitear isso. No momento correto, o partido vai se reunir para definir qual a melhor estratégia aqui para São Paulo.
Até o posicionamento do nosso ex-presidente Jair Bolsonaro, tudo depende muito disso. A gente vai aguardar para que, no momento correto, a gente possa entender qual é o melhor quadro para disputar a eleição em São Paulo ou declarar apoio ao atual prefeito Ricardo Nunes.
P - Qual o peso de Bolsonaro hoje?
AP - Se fizer uma pesquisa hoje, a polarização ainda existe. A população está esperando muito do atual governo federal para saber como vai ser a realidade do país. Bolsonaro foi um ganho muito grande para o PL. Estamos trabalhando para ver a melhor forma possível de ele nos ajudar em 2024. E, em 2026, está muito cedo. Depende muito do que acontecer no governo federal.
P - Ele pode se tornar inelegível?
AP - A lei que vai falar, eu não posso fazer pré-julgamento. Para isso existe o TSE, o Supremo. São eles que vão falar. Nós gostaríamos que não, porque é um forte candidato, seria nosso candidato em 2026 novamente.
P - Ele deveria voltar dos EUA?
AP - Não sei qual é o planejamento dele, é uma decisão muito pessoal.
P - A respeito dos gastos da Alesp, há uma previsão de aumentar os gastos de comunicação e há um setor, o Núcleo de Avaliação Estratégica, que é visto como um cabide de emprego. Tem planos para reduzir custos?
AP - O que a gente puder economizar, vamos trabalhar para isso. O Orçamento da Alesp é quase de R$ 1,5 bilhão. Proporcionalmente ao Orçamento do estado, dá 0,47%. É o menor de todo o país. Tem estados que gastam até 5%. Eu vou tomar pé de cada despesa e contrato para reavaliar. Queremos estudar a questão do NAE para que ele possa dar mais resultados para a sociedade.
P - Por que o sr. mantinha Renato Bolsonaro, irmão de Bolsonaro, como seu assessor na Alesp por três anos se a reportagem do SBT comprovou que ele trabalhava na loja dele de móveis em Miracatu (SP)?
AP - Essa denúncia foi muito injusta. O Renato era uma das pessoas que mais trabalhava no meu gabinete. O próprio Ministério Público pediu o arquivamento. Nós apresentamos provas do trabalho que ele desenvolve, ele não era fantasma. Os funcionários têm uma carga horária a ser cumprida, não importa se no meio do dia ele vai visitar a loja. Tem sábado e domingo que ele trabalha, me representa diversas vezes.
P - A Secretaria de Administração Penitenciária chegou a apurar uma visita do sr. a uma penitenciária em Pontal (SP), onde um parente do sr. estava preso, quando as visitas não eram permitidas por conta da Covid.
AP - Eu recebi na época uma denúncia de maus-tratos. Respeitei todos os protocolos da Covid quando adentrei lá, e percebi que a denúncia não era real.
P - Ter um parente preso lá foi coincidência?
AP - É um primo de terceiro grau por parte da minha esposa.
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RAIO-X - ANDRÉ DO PRADO, 53
Deputado estadual do PL, cumpre seu quatro mandato consecutivo, tendo sido eleito presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo. Começou na política como vereador em Guararema (SP), com 23 anos. Foi vice-prefeito, secretário da Saúde e, em 2004, foi eleito prefeito da cidade.