Ato político de Michelle tem choro de Bolsonaro e fala transfóbica de senador
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ato político que marcou a posse da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no comando do PL Mulher teve fala transfóbica do senador Magno Malta (PL-ES) e piada do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sobre declarações preconceituosas de seu colega de Câmara Nikolas Ferreira (PL-MG), além de choro do ex-presidente ?Jair Bolsonaro fez uma participação em vídeo.
Michelle recebeu o cargo de presidente do PL Mulher da deputada federal Soraya Santos (PL-RJ). As duas foram as únicas mulheres a discursar na abertura do evento. Por outro lado, cinco homens fizeram pronunciamentos: Bolsonaro (em vídeo); Valdemar Costa Neto, presidente do PL; Magno Malta; Altineu Côrtes, líder do PL na Câmara; e Jorginho Mello, governador de Santa Catarina.
Depois das falas iniciais, ocorreram debates temáticos apenas com mulheres.
A ex-primeira-dama é considerada uma aposta do PL para a eleição de 2026. Valdemar, no entanto, afirmou à imprensa que ela não tem pretensões de se candidatar a nenhum cargo.
O PL também avalia que a ex-primeira-dama poderá atuar para aumentar o número de mulheres filiadas à legenda. Para isso, ela deverá fazer caravanas pelo país. Em seu discurso nesta terça-feira (21), Michelle disse que dará o melhor de si "para o crescimento efetivo da participação da mulher na política brasileira".
No ato político, Magno Malta fez uma fala transfóbica. No palco e ao lado das demais autoridades, o senador afirmou que mulheres são mais fortes do que os homens porque "mulher tem útero".
"Mas tem uma coisa que as faz assim: mulher nasceu com uma peça a mais. Os homens são mais fracos porque têm essa peça a menos e nunca vão ter, nem com cirurgia nem querendo nem com ideologia. Mulher tem útero. [Homens] nunca terão", afirmou.
As declarações ocorrem duas semanas após o deputado Nikolas Ferreira colocar uma peruca e fazer um discurso também transfóbico no plenário da Câmara dos Deputados.
Na ocasião, Nikolas disse que mulheres têm perdido espaço para "homens que se sentem mulheres". "Eles estão querendo colocar uma imposição de uma realidade que não é a realidade", afirmou o deputado no Dia da Mulher.
Nikolas foi criticado por parlamentares e sofreu uma reprimenda pública do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ele também virou alvo de notícias-crimes enviadas ao STF (Supremo Tribunal Federal) e teve um pedido de cassação protocolado no Conselho de Ética da Câmara.
Como a Folha mostrou, apesar da articulação de partidos políticos para cassar o deputado bolsonarista, líderes partidários afirmam que a perda de mandato é improvável. Na avaliação desses líderes, deve receber uma advertência, censura ou, no máximo, suspensão pela fala.
Esse caso foi tratado em tom de ironia e piada pelo deputado Eduardo Bolsonaro no evento do PL Mulher. No momento em que Nikolas foi chamado ao palco para se juntar às autoridades, Eduardo pegou o microfone das mãos de Valdemar e disse: "Deputado Nikolas vai definir agora o que é uma mulher".
Valdemar e demais pessoas presentes no evento riram da intervenção. "Muito boa", disse o presidente do PL.
Valdemar já havia saído em defesa de Nikolas nas redes sociais. Dois dias após o parlamentar ter feito o discurso transfóbico, Valdemar disse que o deputado tem apoio da direção nacional do partido, que ele deve ser respeitado e que "a liberdade de expressão e suas prerrogativas parlamentares serão sempre defendidas" pela legenda.
Bolsonaro teve uma participação por vídeo nesta terça. Ele viajou aos Estados Unidos no final de dezembro, poucas horas antes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumir o mandato. Assim, ignorou o rito democrático de transmitir simbolicamente o poder a seu sucessor.
O ex-presidente afirmou que o Brasil vive hoje um "momento difícil" e chorou ao falar que gostaria de estar no país.
"Hoje é um dia muito especial. Estamos aí com o PL Mulher. Obviamente que eu gostaria de estar presencialmente neste evento ao lado da minha esposa e da minha família. Mas a vida se faz de momentos felizes e tristes e tudo passa para ensinamentos para nós", afirmou Bolsonaro, com a voz embargada.
"Creio eu que esse momento difícil para todos nós brasileiros teria que ser dessa forma. Por vezes temos que sofrer para darmos valor a aquilo que está ao nosso lado e por vezes nós desprezamos."
Em sua fala, o ex-mandatário disse ainda que o PL é um grupo "bastante homogêneo que tem um ideal de fazer o Brasil justo e liberto".
Ele também desejou força às mulheres, em especial Michelle, para "juntos pavimentarmos o futuro do nosso país". E deu um recado aos presentes, afirmando que não é para o "ego subir à cabeça", ao citar "alternativa de poder".
JOIA SÃO AS MULHERES QUE INSPIRAM, DIZ MICHELLE
Michelle, que sofreu desgaste nos últimos dias em razão do caso envolvendo as joias enviadas pela Arábia Saudita, se esquivou de responder sobre o caso. O estojo com colar, brincos, anel e relógio, avaliado em cerca de R$ 16,5 milhões, foi retido em 2021 pela Receita com uma comitiva do governo Bolsonaro no aeroporto de Guarulhos (SP).
Ao ser questionada pela Folha se ela teria tratado das joias com o marido durante sua viagem aos Estados Unidos na última semana, Michelle respondeu: "Sabe qual é a joia prioritária desse dia? São as mulheres que inspiram e que fazem acontecer".
A primeira-dama voltou a fazer essa comparação em seu discurso. "Em provérbios 31:10 diz que mulher virtuosa, ela é mais preciosa do que pedras preciosas. E hoje, a única joia aqui presente são vocês. Mulheres que inspiram, mulheres que fazem a diferença, mulheres que trabalham na promoção do ser humano e que mudam realidades", disse.
Ao se dirigir a uma pastora que estava na plateia, afirmou que "você, sim, é uma joia preciosa".