'Retratação' de Lula à fala sobre Moro veio com operação da PF contra PCC, diz Padilha

Por RENATO MACHADO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta quinta-feira (23) que a operação da Polícia Federal para desmantelar um plano do PCC para atacar autoridades é a "maior retratação" à fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de que queria se vingar do senador e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR).

Padilha foi questionado por jornalistas se o presidente Lula deveria e pretendia se retratar de sua fala, quando lembrou que dizia a procuradores, durante o tempo em que permaneceu preso, que pretendia "foder esse Moro".

"Acho que a maior retratação que foi feita foi a ação da Polícia Federal que protege a vida de todas as autoridades, não só do ex-juiz, do senador, mas de todas as autoridades que possam ser ameaçadas. É mais uma demonstração de ação firme por parte do governo federal, de ação firme da Polícia Federal, uma ação republicana da Polícia Federal que protege e vai salvar, proteger a vida de todos aqueles que sejam ameaçadas", afirmou Padilha.

"Qualquer cidadão ameaçado por organizações criminosas vai ter o governo federal ao seu lado, independente das irregularidades que essas pessoas possam ter cometido, das irregularidades com a justiça, das injustiças que possam ter cometido no passado, sempre terá a postura republicana e a decisão firme do presidente Lula de garantir a proteção dessas autoridades", completou

A declaração de Padilha foi dada ao sair de reunião com o ministro Fernando Haddad, na qual discutiram a participar do chefe da equipe econômica em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Padilha ser referia à operação da Polícia Federal lançada na quarta-feira (22), cumprindo uma série de diligências para desarticular um plano da facção criminosa PCC que pretendia realizar ataques contra autoridades. Um dos alvos era o ex-juiz da Lava Jato e atual senador Sergio Moro.

Foram efetuados 24 mandados de busca e apreensão, 7 de prisão preventiva e 4 de prisão temporária em Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo e Paraná. Ao menos nove foram presos, sendo seis homens e três mulheres, todos em São Paulo. Dois dos suspeitos continuam foragidos.

Os ataques contra Moro e outras autoridades, segundo a apuração, ocorreriam de forma simultânea, e os principais alvos estavam em São Paulo e no Paraná. Em São Paulo, o alvo era o promotor Lincoln Gakiya, que atua há anos em investigações sobre a atuação do PCC.

A operação aconteceu um dia após Lula ter atacado Moro, durante entrevista ao portal Brasil 247. O mandatário esqueceu que se tratava de uma entrevista ao vivo e usou um palavrão para indicar que queria se vingar de Moro, que o condenou à prisão no âmbito da Operação Lava Jato.

"De vez em quando ia um procurador, entrava lá [na carceragem da PF, em Curitiba] de sábado, dia de semana, para perguntar se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: 'está tudo bem?' '[Eu respondia:] não está tudo bem. Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro. Vocês cortam a palavra 'foder'", afirmou o presidente durante a entrevista.

Lula foi preso em 2018 e passou 580 dias na carceragem da PF em Curitiba.

Padilha também comentou as críticas feitas contra ele pelo líder do PDT no Senado e da base do governo na Casa, o senador Cid Gomes (CE). O parlamentar criticou a aliança do governo com o bloco político centrão, articulada pelo ministro das Relações Institucionais.

"Eu acho que ele (Padilha) está levando o presidente Lula para uma tragédia. Se a defesa dele é que o Centrão volte a mandar no governo, como mandou nos mandatos do (Jair) Bolsonaro e do Michel Temer, vai levar o Lula para o buraco", afirmou Cid Gomes em entrevista ao jornal O Globo.

Padilha evitou entrar em polêmicas diretas com Cid Gomes tampouco rebateu a crítica à aproximação do governo com o centrão. O ministro apenas afirmou ironicamente que costuma deixar seu "fígado na geladeira" quando sai para trabalhar.

"A política, o cargo que eu assumo, não é para função hepática, é para função cerebral. A gente faz com o cérebro e com o coração. Quando o presidente Lula me convidou para assumir o Ministério das Relações Institucionais, que com muito orgulho eu assumo esse ministério mais uma vez, eu deixei meu fígado na geladeira", afirmou Padilha.