Bolsonaro mira Lula em 1º discurso na volta ao Brasil e diz que petista não fará 'o que bem quer'
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (30) que a atual legislatura no Congresso Nacional está melhor que a anterior e por isso não vão permitir que o governo Lula faça "o que bem entender com o destino da nossa nação".
Bolsonaro também disse que Luiz Inácio Lula da Silva está "por pouco tempo no poder".
"Eu lembro lá atrás quando alguém criticava o parlamento, Ulysses Guimarães dizia: 'espera o próximo'. Dessa vez, o próximo melhorou e muito. O parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que, por ora, pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa nação", afirmou.
Bolsonaro deu as declarações ao chegar para evento na sede do PL, em Brasília, seu primeiro compromisso após retornar dos Estados Unidos. Ele vai encontrar com correligionários, entre eles o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.
Também o aguardava na sede do PL a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o secretário de Relações Institucionais do partido, general Walter Braga Netto, que foi candidato a vice na sua chapa nas últimas eleições presidenciais.
Bolsonaro desembarcou na manhã desta quinta-feira (30) em Brasília, após uma temporada de 89 dias nos Estados Unidos. O ex-presidente chegou por volta de 7 horas, em um voo comercial que havia partido de Orlando no fim da noite de quarta.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal preparou um esquema de segurança especial para a chegada do ex-presidente.
O ex-mandatário deixou o aeroporto e seguiu direto para a sede do PL, para encontrar correligionários. A pedido de Jair Bolsonaro, o evento não foi aberto à imprensa.
"Na semana que vem, Jair Bolsonaro assume formalmente a função de Presidente de Honra do Partido Liberal e deverá despachar normalmente em seu escritório", informou o PL em nota.
Ainda no aeroporto de Orlando, pouco antes de embarcar, o ex-presidente havia afirmado que não pretende liderar a oposição ao governo Lula.
"O PL detém quase 20% das bancadas da Câmara e do Senado. Digo: não vou liderar nenhuma oposição. Vou participar com o meu partido, como uma pessoa experiente, 28 anos de Câmara, quatro de presidente, dois de vereador e 15 de Exército, para colaborar com aqueles que assim desejarem", afirmou ele à rede de TV.
À reportagem ele não respondeu sobre a intimação feita pela Polícia Federal para depor sobre o caso das joias presenteadas pela Arábia Saudita.
Bolsonaro partiu para os Estados Unidos no dia 30 de dezembro, às vésperas do fim do seu mandato presidencial. O objetivo era não precisar passar a faixa para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ignorando dessa forma o ritmo democrático de transferir simbolicamente o poder a seu sucessor.
O então presidente já vinha mantendo uma postura de reclusão após a derrota no segundo turno das eleições, com poucas aparições públicas. Alimentava assim sentimento e esperança golpistas entre seus apoiadores, em particular nos acampamentos em frente a quarteis do Exército em diferentes partes do país.
Durante sua temporada nos Estados Unidos, Bolsonaro ficou hospedado na região de Orlando, inicialmente na casa que pertence ao ex-lutador de MMA José Aldo. Costumava sair para conversar com apoiadores que se aglomeravam em frente à residência. O ex-mandatário também participou de eventos políticos conservadores.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, os gastos com dinheiro público da viagem do ex-presidente já se aproximavam de R$ 1 milhão ainda em fevereiro.
O retorno de Bolsonaro ao país acontece em meio à polêmica das joias vindas da Arábia Saudita, caso que vem provocando desgaste à imagem do ex-presidente, que também pode ser responsabilizado judicialmente.
Nesta quarta-feira (29), o ex-presidente e seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, foram intimados pela Polícia Federal a depor sobre o caso. Os depoimentos foram marcados para o dia 5 de abril.
Por meio de seus advogados, Bolsonaro entregou na sexta-feira (24) à Caixa Econômica Federal em Brasília parte das joias que recebeu de presente da Arábia Saudita em 2021. O kit inclui relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário, todos da marca suíça de diamantes Chopard.
No mesmo dia, um kit de armas foi entregue à Polícia Federal, também por determinação do TCU (Tribunal de Contas da União).
O tribunal ainda determinou que o conjunto de joias e relógio avaliado em R$ 16,5 milhões que seria para a ex-primeira-dama, retido pela Receita no aeroporto de Guarulhos (SP) em 2021, também seja enviado à Caixa.