Reunião de Moraes com deputados tem lição de moral e menção à pecha de comunista

Por THAÍSA OLIVEIRA E CÉZAR FEITOZA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A reunião do ministro Alexandre de Moraes com a Câmara Legislativa do Distrito Federal teve lição de moral do magistrado contra a tese de apagão no dia 8 de janeiro, menção à acusação de comunista feita por radicais e mal-estar sobre o acampamento em frente ao quartel-general do Exército.

Uma comitiva de deputados distritais foi ao STF (Supremo Tribunal Federal) em 29 de março pedir para que o ministro compartilhasse provas obtidas pela Corte com a CPI dos Atos Antidemocráticos, aberta pela Câmara Legislativa do DF em fevereiro.

O encontro foi considerado crucial pelos parlamentares pelo fato de Moraes ter concordado em compartilhar as informações que não exigirem sigilo.

Segundo relatos feitos à reportagem, a agenda foi encerrada depois que a deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania) saiu em defesa de pessoas que participaram do acampamento no QG do Exército a favor de um golpe contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Moraes reagiu de forma enfática, de acordo com pessoas que estavam presentes. O ministro disse ser crime pedir o fim do Estado Democrático de Direito e que aqueles que acamparem de novo em frente a quartéis pedindo intervenção militar devem ser presos.

Antes da agenda, parlamentares de oposição ao governo Ibaneis Rocha (MDB) faziam piada justamente sobre a fama combativa do ministro e diziam que o encontro já teria sido bom se nenhum dos colegas saísse de lá preso.

Moraes, segundo relatos, também divertiu os distritais quando contou que presos pelo ataque às sedes dos Três Poderes argumentaram estarem na capital federal em 8 de janeiro para rezar nos "montes".

Nesse momento, dizem, o magistrado gesticulou e fez questão de destacar que a capital está no planalto ?e não nos montes? e rebateu a justificativa dada para a presença de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília na data.

De acordo com pessoas presentes, o ministro ?indicado por Michel Temer (MDB) ao STF? também fez graça ao contar que foi criticado pela esquerda quando era secretário da Segurança Pública de São Paulo e que agora é taxado de comunista pela direita.

Moraes arrancou elogios de parlamentares de diferentes partidos pela prestatividade e bom humor ?um dia depois, muitos ainda repetiam uma de suas falas de que um segredo entre duas pessoas só é mantido se ambas tiverem algo a perder.

"Eu quero ressaltar aqui de forma pública a maneira cortês, por que não dizer, muito urbana, com que o ministro... Até o carinho que teve com todos nós", disse o presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), em 30 de março, contando que os parlamentares foram recebidos por Moraes na porta do gabinete.

Outros momentos da reunião fechada também escaparam na última sessão da CPI.

Parlamentares contaram que o ministro rebateu a fala do relator da comissão, o deputado e policial militar Hermeto (MDB), de que o ataque às sedes dos Três Poderes foi resultado de um apagão generalizado nos governos federal e do DF.

"Ele [Moraes] falou: ?Eu no comando de uma operação dessas, com 50 homens do choque, com os escudos, com o armamento à altura do que precisaria ali, não teriam acontecido aqueles atos?", contou Vigilante na CPI após refletir se o ministro havia pedido segredo sobre alguma parte da reunião.

Hermeto também relembrou a fala de Moraes durante depoimento no dia 30. "Realmente, 50 homens bem preparados e tal? Mas a Polícia Militar sempre trabalha com o fator surpresa, ouviu, deputado Chico Vigilante?", disse Hermeto, justificando sua posição.

"O ministro Alexandre de Moraes foi muito solícito com esta CPI. Eu achei muito interessante. Inclusive ele disse que até acompanha a CPI, quando pode. Ele falou do inocente útil. É aquele cidadão que foi para lá recrutado, não sabia nem mais ou menos, mas vai ser punido", afirmou o deputado.

Segundo relatos, Moraes também elogiou a colaboração do Exército com as investigações e a postura do STM (Superior Tribunal Militar) por não ter se oposto à decisão de levar ao STF o julgamento dos militares que participaram do ataque às sedes dos Três Poderes.

O ministro foi questionado pelos deputados distritais sobre o número de seguranças do próprio Supremo no dia 8 de janeiro. Segundo relatos, Moraes justificou que havia a informação de que o acesso à Esplanada dos Ministérios estaria fechado e disse que a Corte não tem policiais de choque.

Procurada pela reportagem, Paula Belmonte negou mal-estar com o ministro. A assessoria de imprensa da distrital disse que ela é a favor da liberdade de manifestação, contra generalizações, e insiste na posição de que nem todos que estavam acampados participaram do ataque às instituições.