Michelle Bolsonaro recua após defender fim de cota para mulheres na política

Por ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro aproveitou um evento do PL Mulher neste sábado (6) para defender o fim da cota de 30% para mulheres, que estimula a participação de um gênero historicamente negligenciado na cena política.

"Queremos erradicar a cota dos 30%, queremos a mulher na política pelo seu potencial", discursou Michelle, ovacionada por uma audiência de maioria feminina na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Horas depois, porém, ela voltou atrás. Em vídeo gravado nos bastidores, fez uma retificação e disse que é a favor da cota, mas sem detalhar eventual reparos à lei que obriga partidos a destinar a verba do fundo eleitoral na proporção das candidatas (nunca menos de 30%) e dos candidatos negros que lançar.

"Retificando, eu sou a favor da cota, sim. Nós teremos mulheres na política pelo seu potencial, pelo seu protagonismo", disse na gravação. "Nós não queremos apenas cumprir uma cota de 30%. Nós acreditamos no potencial de cada mulher que entra na política brasileira."

Ao lado do marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro, a presidente do PL Mulher se disse "muito feliz na primeira viagem de trabalho" no posto. "Escolhemos São Paulo, a terra do meu amor, que sempre nos recebeu de uma forma tão especial."

Após atacar no evento a cota para candidaturas femininas, ela disse que sua missão é lutar para que "mais mulheres venham pra vida partidária" e afirmou: "O PL é um partido que cuida das mulheres".

Disse ainda que "a mulher não vai entrar na política pelo poder, a mulher entra na política por uma causa". E elencou bandeiras que a sigla deve defender, da "defesa da vida desde a concepção" às liberdades religiosa e de expressão.

O evento serviu para empossar a deputada Rosana Valle no diretório paulista do PL Mulher, em cerimônia na Assembleia Legislativa do estado. Michelle comanda a aba nacional.

Em entrevista a jornalistas, Valle não quis comentar sobre a fala de Michelle a respeito das cotas. Disse que não a ouviu e precisaria estudar o assunto.

O casal Bolsonaro dividiu a mesa com outros quadros do partido, como seu presidente, Valdemar Costa Neto, e o senador Astronauta Marcos Pontes. Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente, também se juntou ao grupo.

Forasteiro partidário era o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que cobiça apoio dos bolsonaristas na próxima eleição municipal. Por ora, os humores ideológicos pendem para o deputado Ricardo Salles (PL-SP), alternativa defendida publicamente pelo colega Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O ex-ministro do Meio Ambiente chegou depois e se juntou às autoridades no tablado.

A claque era sobretudo feminina, com parte do público vestida de rosa e balançando balões rosas e lilás.

Esses ficaram numa parte de trás, assistindo aos discursos por um telão e engrossando o coro de "mito" quando Bolsonaro era citado.

Michelle foi apresentada como mãe, esposa e defensora da inclusão.