Chefe do Ministério Público de MG defende empresário após carona em jatinho
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - Chefe do Ministério Público de Minas Gerais, o procurador-geral Jarbas Soares Júnior saiu em defesa do amigo, o empresário Lucas Kallas, do setor de mineração, que lhe concedeu uma carona de jatinho de Miami, na Flórida, para Belo Horizonte (MG).
O caso poderá ser investigado após um grupo de nove promotores do Ministério Público de Minas Gerais pedir à Corregedoria-Geral que apure a carona, ocorrida em julho do ano passado.
A carona foi revelada pela revista Piauí em 10 de maio deste ano. Jarbas, segundo a reportagem, foi para os Estados Unidos em voo de carreira. Ele e o procurador-geral são amigos.
"Empresário do meu convívio pessoal, meu amigo da área familiar, semanal. Meu amigo que tenho na mais alta conta. Não é a personalidade referida na matéria, como se fosse um bandido", disse, ao ser questionado por um conselheiro na segunda (15) durante sessão do Conselho Superior do Ministério Público, presidido por ele.
"Lucas Kallas foi indicado recentemente e tomou posse pelo presidente da República para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico da República [o Conselhão]", afirmou o procurador-geral, em mais elogios ao amigo.
Acrescentou que ele integra o Conselho de Gestão Estratégica da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) e o Conselho da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. "Além disso, tem uma creche que atende cerca de 500 crianças por mês."
"Então, na verdade, trata-se de uma pessoa, cidadão, que a matéria, por um interesse ou outro, que ainda não consegui decifrar, tenta atingir", disse Soares sobre a reportagem.
E prosseguiu: "No caso, as empresas do meu amigo Lucas Kallas pagam impostos pelo menos de umas 300 vezes por ano maiores do que a discussão judicial que ele tem", defendeu o procurador, sobre o passivo financeiro com o Poder Público citado na reportagem.
A revista diz que que Kallas tem débito com o fisco e que responde a processos na Justiça Federal.
"Então tenta-se criar um clima de compadrio e de coisas erradas. Na verdade, é um empresário da minha convivência, da minha amizade, como tantos outros que tenho."
Ainda segundo a reportagem, Kallas foi preso pela Polícia Federal em 2008, quando era dono de uma construtora, por suposto envolvimento em um esquema de desvio de recursos públicos por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Soares alegou que estava passando férias com o amigo nos Estados Unidos. A mulher do procurador também estava no jatinho.
Segundo a assessoria de imprensa do MP-MG, a representação está em tramitação desde terça-feira (16) na corregedoria do órgão, que deverá concluir análise preliminar sobre o pedido nos próximos dias. A assessoria disse ainda que Soares não se manifestará até que esta etapa seja concluída.
A assessoria de Kallas afirmou que o empresário não vai se pronunciar.
A corregedoria, conforme definição do próprio Ministério Público, é o órgão fiscalizador da conduta dos membros e dos servidores da instituição. O pedido de apuração afirma que a carona não se adequa a princípios éticos e morais.
O pedido de abertura de apuração feito pelos promotores questiona princípios éticos e morais. "Ressalte-se que não se está a indagar a relação de amizade entre os envolvidos, pois se trata de informação pública e notória", alega o pedido de abertura de apuração.
A solicitação de apuração aponta ainda para o exemplo que pode ser passado pelo comportamento do procurador-geral. "Tal fato não pode ser normalizado internamente pelos integrantes do Ministério Público porque materializa claro e iminente desprestígio a cada um que se mostrar indiferente a ele."
Ao final, o pedido requer que sejam identificadas possíveis compras de passagens com recursos do MP-MG para os Estados Unidos e, ainda, se foram emitidos bilhetes com trecho de ida e volta ou somente de ida, e se houve cancelamento posterior.
Solicita também informações sobre possível emissão de passagens para pessoas que não são do MP-MG, além da averiguação se foram fechados acordos entre a instituição e o Grupo Cedro, de Kallas.