Alvo da PF assessora os Lira há 20 anos, perdeu eleição e encaixou parentes em órgão loteado

Por MARCELO ROCHA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Um dos nomes mais próximos de Arthur Lira (PP-AL) e alvo em investigação da Polícia Federal sobre desvio de verbas da Educação, Luciano Cavalcante começou a trajetória de assessor parlamentar em 2003, no gabinete de Benedito de Lira (PP-AL), conhecido como Biu de Lira e pai do atual presidente da Câmara dos Deputados.

Cavalcante foi nomeado secretário parlamentar em março daquele ano, quando Benedito, hoje prefeito de Barra de São Miguel (AL), iniciava o segundo mandato como deputado federal.

O assessor ficou na Câmara por oito anos e se transferiu para o Senado com o próprio Benedito, eleito para representar Alagoas naquela Casa. Foi designado no início de 2011 para a função de assistente parlamentar no escritório político do então senador.

Em 2016, ano de eleições municipais, Cavalcante se desligou do Congresso e se lançou na política. Concorreu, pelo mesmo partido dos Lira, ao cargo de vice-prefeito em Atalaia (AL). A chapa, encabeçada por Zé do Pedrinho (PSDB), não foi eleita.

Cavalcante, então, retornaria à Câmara no início do ano seguinte, desta vez para atuar no gabinete de Arthur Lira, então líder do PP.

Foi exonerado da liderança do Progressistas, atualmente sob o comando de André Fufuca (MA), em meio aos desdobramentos da operação deflagrada pela PF na semana passada. O ato foi publicado no boletim administrativo da Câmara de segunda-feira (5).

Alvo também da apuração da PF, a esposa de Cavalcante, Glaucia, esteve vinculada ao gabinete de Lira em 2015 e 2016, na função de secretária parlamentar.

Depois, passou a exercer função comissionada, com salário de R$ 13,3 mil (remuneração bruta de abril deste ano), na CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), órgão federal sob a influência do PP.

Além da esposa de Luciano, o irmão, Carlos Jorge Cavalcante, ocupa o cargo de superintendente da CBTU em Maceió (AL).

A CBTU, que abriga os aliados de Lira na mira da PF, também esteve no centro do caso que resultou em uma denúncia contra Lira aceita pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em um primeiro momento, mas revertida pelo próprio tribunal nesta terça-feira (6), após mais de dois anos e meio parada.

Procurado por intermédio de seu assessor de imprensa, Lira não se manifestou sobre a relação da família com Cavalcante.

Lista **** O auxiliar do presidente da Câmara é suspeito de envolvimento em desvios em contratos de kits de robótica custeados com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), viabilizado pelas emendas de relator, usadas como moeda de troca no governo Jair Bolsonaro (PL).

A investigação teve origem em reportagem da Folha publicada em abril do ano passado sobre as aquisições dos kits de robótica por prefeituras municipais em Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa pertencente a aliados do presidente da Câmara.

Os agentes federais suspeitam que Cavalcante e a esposa dele, Glaucia, sejam beneficiários da propina distribuída pela organização criminosa.

A PF chegou até Luciano Cavalcante e Glaucia ao investigar movimentações financeiras da Megalic, uma das empresas que ganhou os contratos dos kits de robótica sob suspeita de desvios.

A apuração policial descobriu que o empresário Edmundo Catunda repassou R$ 550 mil à empresa que construiu a casa em que mora Cavalcante. Catunda é de uma família alagoana aliada do presidente da Câmara e um dos sócios da Megalic.

Na imagem abaixo, Edmundo Catunda e Arthur Lira em reunião em Alagoas

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a PF também suspeita que duas empresas ligadas às pessoas apontadas como entregadoras de dinheiro supostamente desviado de contratos para compra de kits de robótica custearam a compra de um apartamento para Cavalcante.

De acordo com o advogado André Callegari, que defende o auxiliar de Lira, não houve ainda acesso integral aos autos do inquérito e diligências já realizadas, o impede qualquer manifestação, "uma vez que "não se sabe a motivação da operação deflagrada".

"Assim, qualquer manifestação defensiva nesse momento se mostra precipitada", afirmou em nota.

Na semana passada, após a eclosão do caso, Lira afirmou não se sentir atingido pela operação da PF que mira seus aliados. Em entrevista à GloboNews, ele disse que não tem "absolutamente nada a ver com o que está acontecendo".

"Não posso emitir nenhum juízo de valor. O que eu posso dizer é que eu, tendo a postura que tenho em defesa das emendas parlamentares que levam benefícios para todo o Brasil e toda a população, não tenho absolutamente nada a ver com o que está acontecendo e não me sinto atingido nem acho que isso seja provocativo", afirmou Lira na ocasião.

No ano passado, quando Lira disputou a eleição para renovar o mandato deputado federal, Cavalcante cedeu um carro de sua propriedade -um VW Amarok, cor preta, ano 2020- para ser usado na campanha do presidente da Câmara.

O valor da doação foi estipulado em R$ 4.000, segundo a prestação de contas eleitoral apresentada à Justiça Eleitoral pela campanha de Lira. Cavalcante é atualmente filiado à União Brasil, de acordo com informações do Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas. É presidente estadual da legenda.