Governo pretende valorizar passe da Caixa diante de investida do centrão em ministérios de peso
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Diante do apetite do centrão por ministérios de peso, a ala política do governo pretende valorizar o passe da estrutura da Caixa nas negociações. Integrantes do Palácio do Planalto argumentam que o banco é um órgão de elevado orçamento e alta capilaridade, o que atende a demandas políticas de líderes da Câmara.
Embora o presidente Lula (PT) ainda não tenha decidido se dará a presidência da Caixa para o PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), a estratégia da ala política do governo é distribuir superintendências e também colocar na mesa as vice-presidências do banco estatal. As tratativas para as superintendências já foram iniciadas.
Agora, após retornar de viagem à Europa, Lula vai intensificar as negociações por trocas na Esplanada para consolidar a entrada de parlamentares do PP e do Republicanos no governo, no que tem sido tratado como uma minirreforma ministerial.
Membros do centrão dizem que não aceitarão pastas de baixo orçamento e com pouca capilaridade. Segundo relatos, a única pasta blindada pelo petista até o momento é a da Saúde, que já foi alvo do grupo liderado por Lira.
"A Saúde não sai. Não é o partido que quer vir para o governo que pede ministério. É o governo que oferece o ministério", disse Lula no último dia 13.
Para membros do PP, há uma linha de corte para entrar no governo, e a pasta que eles miram ocupar deve ser igual ou maior que o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, sobre o qual o presidente já deu declarações públicas de que não vai ceder.
Segundo um integrante do centrão, seguem essa lógica os ministérios da Saúde, da Educação e da Integração e Desenvolvimento Regional, comandados por Nísia Trindade, Camilo Santana e Waldez Góes, respectivamente. Licenciado do PDT, Góes é indicação do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Para articuladores políticos de Lula, o partido de Lira planeja esticar a corda para conseguir mais espaço no governo.
Por isso, a estratégia é colocar a estrutura da Caixa para loteamento de cargos e argumentar que o banco tem peso equivalente a esses ministérios citados.
O comando da Caixa é estratégico por ser o órgão responsável por liberar os empréstimos para o Minha Casa, Minha Vida e os pagamentos do Bolsa Família. Além disso, o banco tem superintendências regionais e 12 vice-presidências nacionais.
Um dos cenários traçados por aliados de Lula é que o petista poderia colocar uma pessoa de confiança na presidência da estatal. Um nome aventado nessa hipótese é o da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior (PT).
Mas outra ala do Planalto ainda vê como provável que toda a Caixa, incluindo a presidência, possa acabar ficando com o PP ao fim das negociações.
Para atender aos pedidos do centrão, Lula prepara uma dança de cadeiras na Esplanada. Segundo aliados dele, o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) poderá ser substituído. O presidente, de acordo com esses relatos, tem dito que, por causa do perfil acadêmico, Almeida tem apresentado um desempenho aquém do esperado.
A ministra Luciana Santos, da Ciência e Tecnologia, é citada como uma possível substituta de Almeida. Isso abriria espaço para o centrão na pasta que ela ocupa atualmente.
Entidades da comunidade científica, como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), divulgaram uma carta pedindo que o ministério não seja incluído nas "negociações de novos acordos políticos" do governo, de forma a preservá-lo "de qualquer interferência".
O PP mira o Desenvolvimento Social, e o Republicanos, o Ministério do Esporte, comandado pela ex-atleta Ana Moser.
Representantes desses partidos têm insistido nessas pastas apesar da resistência de Lula. Mesmo após reunião com Lula, Ana Moser ainda está sob risco nessas negociações da reforma ministerial.
Até o início da noite desta quinta-feira (20), ainda não havia previsão de encontro entre Lula e Lira nesta semana. No entanto, os dois devem conversar nos próximos dias para acertar os ponteiros na negociação de cargos.
Neste primeiro momento após a viagem, dizem aliados, Lula se atualizará das conversas que ocorreram em sua ausência e irá se debruçar sobre o quebra-cabeça para rearranjar o comando dos ministérios. Nas palavras de um auxiliar, o petista irá "refletir e analisar" o cenário possível.
Segundo pessoas familiarizadas com as negociações, somente na próxima semana o presidente deverá se reunir com lideranças do PP e Republicanos para dar continuidade às negociações.
Na terça-feira (18), o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) se reuniu com os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA), líder da sigla na Câmara. Os dois podem assumir ministérios e também devem voltar ao Palácio do Planalto na próxima semana.
Segundo relatos, os parlamentares saíram das conversas com a impressão de que não há nenhum ministério vetado nas negociações, exceto Saúde. A avaliação de congressistas é que, caso necessário, Lula poderá abdicar do Ministério do Desenvolvimento Social e do Esporte, mesmo após o presidente tentar blindar as pastas.
Aliados de primeira hora do presidente reconhecem que será necessário cortar "na carne" para abrigar os deputados do centrão. Nesse cenário, a expectativa é que Lula tenha de realocar ou demitir integrantes do próprio PT, ou de partidos aliados, como PSB e PC do B, para dar lugar a PP e Republicanos.
Por isso, integrantes do Palácio do Planalto têm feito uma série de desenhos em busca de uma solução para acomodar o centrão.
Em um esboço, aliados de Lula trabalham com a hipótese de ceder o Ministério de Portos e Aeroportos, ocupado por Márcio França (PSB).
A pasta, porém, também não desperta interesse do PP ?que tem focado no Desenvolvimento Social ou áreas de peso semelhante.