Tarcísio e Nunes aceleram parceria em revitalização do centro de olho em eleição
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entusiastas da reeleição de Ricardo Nunes (MDB) apostam na parceria com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para reverter o desgaste do prefeito de São Paulo com a deterioração do centro e transformar a região em vitrine eleitoral no ano que vem.
Entre auxiliares do emedebista, o apoio do governador na campanha eleitoral é considerado crucial, principalmente diante do impasse em relação à aliança com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na prática, a avaliação tanto no entorno de Nunes como no de Tarcísio é que o governador já demonstrou sua preferência pelo prefeito e vem atuando a seu favor.
Pesquisa Datafolha de agosto mostrou que Nunes está em segundo lugar, com 24% das intenções de voto, atrás de Guilherme Boulos (PSOL), com 32%. Tabata Amaral (PSB) marca 11%, e Kim Kataguiri (União Brasil) soma 8%.
Mais do que subir no palanque e declarar publicamente seu voto, aliados de Nunes dizem que a ajuda mais valiosa de Tarcísio neste momento é justamente a de viabilizar projetos conjuntos, como o de revitalização da avenida São João e do largo do Paissandu.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o plano apelidado de "Broadway paulistana" ou "Times Square paulistana" (devido à possibilidade de instalação de painéis eletrônicos), envolve a permuta e venda de prédios públicos para transformar a região degradada em um polo cultural e hoteleiro. A ideia é criar um movimento de turistas e melhorar a segurança.
Secretários estaduais e municipais responsáveis pelo projeto dizem esperar que a recuperação dos edifícios do corredor turístico esteja em andamento no ano que vem, ou seja, a tempo de se tornar um ativo na eleição.
A prioridade dada à revitalização do entorno da avenida São João vem após o desgaste na parceria Nunes/Tarcísio em relação à cracolândia e num contexto em que a violência se tornou a principal preocupação do morador da capital.
Em janeiro, ao assumir, o governador anunciou de forma conjunta com o prefeito uma série de medidas para conter o problema. Nove meses depois, 68% dos paulistanos consideram que as ações deflagradas pela prefeitura e pelo governo na cracolândia foram insuficientes, conforme mostrou o Datafolha.
Em julho, Tarcísio chegou a sugerir a mudança da cracolândia para o Bom Retiro, mas Nunes disse não ter sido consultado, o que evidenciou um desarranjo entre os aliados.
Auxiliares de Nunes afirmam que o momento agora, a um ano da eleição, é o de criar uma percepção positiva da gestão com uma série de entregas --e que a parceria com o Palácio dos Bandeirantes colabora com isso.
Nesse sentido, o projeto da "Broadway paulistana" teve seu ritmo acelerado nas últimas semanas. Integrantes da gestão de Nunes ponderam, porém, que as ações de recuperação do centro já estavam planejadas desde o início do mandato e não têm relação com o calendário eleitoral.
Eles admitem, no entanto, uma estratégia de visibilidade. De acordo com os auxiliares do prefeito, intervenções pontuais na região central têm menor poder de transformação e são pouco notadas. Por isso, a ideia é organizar e articular várias ações na mesma área no mesmo período, ampliando o impacto positivo.
Para viabilizar o corredor cultural, governo e prefeitura chegaram a um acordo que envolve a troca de prédios públicos.
A prefeitura vai entregar ao estado o antigo Cine Marrocos e um galpão vizinho a ele -que junto do antigo Hotel Esplanada devem ser vendidos ou concedidos para a instalação de hotéis e um espaço de convenções.
Em troca, dois imóveis do estado no centro, as sedes da EMTU e do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo, seriam transferidos para a prefeitura, que estuda trazer a Secretaria de Educação para a região central.
No longo prazo, o governo Tarcísio pretende mudar a sede do Executivo estadual para o parque Princesa Isabel, também no centro.
Para além da cooperação no centro, Tarcísio e Nunes têm dados sinais públicos de aproximação. Durante a greve dos transportes na capital, no último dia 3, governador e prefeito atuaram em dobradinha ao classificar o movimento como ilegal e político.
Tarcísio afirmou que a paralisação foi sequestrada por interesses políticos e ideológicos. Na mesma linha, Nunes associou a greve ao adversário PSOL, buscando carimbar o selo de radical e baderneiro em Boulos.
Apesar de não ter declarado apoio explícito ao prefeito, Tarcísio vem fazendo uma série de elogios ao aliado. No último dia 30, ao lançarem juntos uma campanha de vacinação, o governador afirmou que era "muito fácil" trabalhar com Nunes.
"É fundamental governo e prefeitura alinhados. E é muito fácil trabalhar com o Ricardo. Foi um presente que eu recebi, um presente mesmo. E tem sido uma satisfação trabalhar com você, Ricardo, muito obrigado por tudo que você tem feito por nós", declarou o governador.
Tarcísio repetiu o discurso do mês anterior, quando enalteceu Nunes durante um evento no Palácio dos Bandeirantes.
"Como tem sido fácil, como tem sido gostoso, trabalhar com Ricardo Nunes. Tem muita coisa pra gente fazer aqui na nossa cidade de São Paulo e as tarefas do governo do estado ficam mais fácil quando a gente tem essa parceria sólida", afirmou.
Aliados do prefeito apontam ainda que Tarcísio é uma ponte entre Nunes e os eleitores bolsonaristas. Com uma aliança ampla de partidos do centro à direita, Nunes quer concentrar em sua candidatura toda a oposição a Boulos, mas tem como obstáculo o vaivém com Bolsonaro e o eventual retorno de Ricardo Salles (PL) à corrida municipal.
O Datafolha também mostrou que o endosso de Tarcísio é mais desejável para Nunes do que o do próprio ex-presidente. No total, 68% dos paulistanos dizem que não votariam de jeito nenhum em um nome apoiado por Bolsonaro. Em relação ao governador, cai para 46% o percentual de quem não votaria no candidato indicado por ele.