Nunes busca apoio de evangélicos e chama Tarcísio de irmão mais velho

Por ANA GABRIELA OLIVEIRA LIMA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que busca reeleição, participou nesta quarta-feira (15) da inauguração da sede da Igreja Assembleia de Deus Ministério de Belém, na zona leste da capital paulista, acompanhado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab (PSD).

Em fala na inauguração, Nunes chamou Tarcísio de irmão mais velho, prestou reconhecimento ao trabalho de Kassab como prefeito de São Paulo e disse ser fã do pastor José Wellington, líder da denominação religiosa. Também deu parabéns à igreja por ampliar a evangelização no estado e pediu que os fiéis colocassem os políticos ali presentes em suas orações.

À Folha de S.Paulo Nunes disse que o voto evangélico é importante e tem um peso grande nas eleições, mas que a ida à inauguração não tem relação com as eleições de 2024.

Ele fez críticas a Ricardo Salles e disse acreditar que vai receber o voto de Jair Bolsonaro (PL), mesmo com a eventual candidatura do ex-ministro do Meio Ambiente na capital paulista. Afirmou ainda estar convicto do apoio do PSD de Kassab.

Nunes falou que o apoio do ex-presidente é importante para que se possa vencer o que chamou de extrema esquerda, fazendo referência a Guilherme Boulos (PSOL). Ele criticou o rival na disputa pela prefeitura e insinuou que ele tem associação com o Hamas e o Comando Vermelho, fazendo referência a fotos em que o político aparece ao lado de mulher de líder da facção criminosa.

No evento, Tarcísio chamou os presentes de escolhidos de Deus e fez um discurso religioso sobre a importância do templo para edificar os fiéis. Ao final, da plateia, um homem gritou "Tarcísio presidente".

Os políticos chegaram ao local um pouco antes das 16h e ficaram até o término da inauguração, por volta das 19h.

O novo templo estava com todos os assentos ocupados. Os fiéis combatiam o calor com leques entregues pela organização. Segundo a assessoria da igreja, o local tem 6.000 assentos, e a estimativa do público presente era de 10 mil pessoas.

Os convidados participaram do hasteamento da bandeira que deu início ao evento na companhia do presidente da igreja, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, e do vice-presidente, José Wellington Costa Júnior.

Três filhos do pastor José Wellington são políticos. Paulo Roberto Freire da Costa (PL) é deputado federal por São Paulo, Marta Maria Freire da Costa (PSD) é deputada estadual em São Paulo, e Rute Costa (PSDB) é vereadora da capital paulista.

O pastor José Wellington -que declarou voto em Bolsonaro nas eleições de 2022- admitiu no ano passado intermediar emendas para beneficiar os filhos, que foram apoiados pela igreja e tiveram acesso a milhões de reais em recursos públicos.

Durante um culto, ele explicou como prefeitos eram abordados, em vídeo publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo à época. "A emenda só vai para o prefeito por intermédio do pedido do pastor da Assembleia de Deus", disse José Wellington durante reunião com integrantes da igreja.

Apesar de não ter indicado formalmente o apoio a Nunes para as eleições de 2024, Tarcísio tem demonstrado publicamente proximidade com o prefeito. Segundo o governador, o diálogo com a gestão Nunes "é fácil".

Além de Tarcísio, o prefeito tem buscado a chancela de Bolsonaro. Apesar de demonstrações iniciais de alinhamento, o ex-presidente tem emitido sinais ambíguos em relação ao emedebista, deixando em dúvida a aliança.

Em setembro, Nunes foi criticado por bolsonaristas após dizer que não tinha proximidade nem com o ex-presidente nem com Lula. Depois da repercussão negativa, Nunes minimizou a declaração, dizendo buscar um maior contato com o político.

O prefeito tem dito desde então que busca apoio, apesar de querer governar com independência, sem pressão em seguir pautas específicas de uma parcela ou outra do eleitorado.

Bolsonaro pode apoiar Salles agora que o ex-ministro de seu governo voltou à corrida pela prefeitura. Em entrevista à Folha, Salles teceu críticas a Nunes, afirmando que Boulos é mais sincero que ele. O deputado também disse que Nunes não tem posicionamento e "vai para o lado que o vento sopra".

Assim como outros políticos na disputa, Nunes prospecta o apoio do eleitorado evangélico, que tem se tornado importante nas eleições brasileiras.

Segundo pesquisa Datafolha realizada em agosto, Nunes está em segundo lugar na corrida eleitoral, com 24% das intenções de voto. Boulos lidera a disputa, com 32%.