Ruídos entre Valdemar e Bolsonaro incluem Lula e eleições de 2024; relembre

Por TAYGUARA RIBEIRO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Desde que se filiou ao PL, o ex-presidente Jair Bolsonaro ou seus aliados tiveram diversas rusgas com o presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto.

As divergências já incluíram a escolha de candidatos para a eleição de 2024 e a reforma tributária.

O mais recente ruído ocorreu após Valdemar elogiar Lula (PT) e a escolha do ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski para ministro da Justiça.

O dirigente do PL usou as redes sociais para se defender dos ataques que vem sofrendo por parte de apoiadores de Bolsonaro. O ex-presidente não fez comentários diretos sobre as declarações de Valdemar, mas postou vídeo nas redes sociais fazendo paralelos com Lula: "Não dá para comparar, eu posso ser um cara horrível, mas o outro cara é péssimo", afirmou.

Elogios a gestões de Lula

Valdemar virou alvo de bolsonaristas por falar bem de gestões passadas de Lula, hoje seu adversário eleitoral. Uma entrevista concedida por ele em dezembro ao jornal O Diário, de Mogi das Cruzes (SP), seu reduto político, foi compartilhada no dia 12 de janeiro até por petistas.

No vídeo, Valdemar afirma que Lula tem "prestígio" e é fenômeno por "chegar aonde chegou".

O trecho da entrevista que viralizou edita recortes em que ele é elogioso a Lula, retirando os trechos em que fala bem de Bolsonaro. No vídeo das redes sociais, Valdemar diz que Lula não tem comparação com Bolsonaro e que o presidente petista é "camarada do povo". "O Lula é completamente diferente do Bolsonaro", afirma.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Valdemar disse que sua fala foi retirada de contexto, mas manteve elogios a Lula. "O que eu falei do Lula, eu falei porque é verdade. Se eu não falar a verdade, perco a credibilidade, que é o que me resta na política. Ninguém pode negar que ele foi bom presidente. Ele elegeu a Dilma [Rousseff]. Só que eu tava fazendo comparação: o Lula tem prestígio, Bolsonaro tem uma coisa que ninguém tem no planeta, carisma."

No dia 13 de janeiro, Valdemar usou as redes sociais para se defender dos ataques.

"Estão me atacando usando uma fala minha sobre o Lula que está fora de contexto. A esses, deixo um recado: quem não tem lealdade e fidelidade, tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva", afirmou.

Escolha de Lewandowski

Em 12 de janeiro, Valdemar também elogiou à Folha de S.Paulo a escolha de Lula de indicar Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça. O dirigente do partido de Jair Bolsonaro classificou Lewandowski como homem de bem e de comportamento firme.

"Lewandowski tinha tudo para ir pro Ministério da Justiça. Ele é preparado, homem de bem, homem que sempre teve comportamento firme. [Lula] Acertou, como não. Como no caso do [Cristiano] Zanin, não foi boa indicação?", disse.

O dirigente do PL foi condenado no STF no escândalo do mensalão e, à época, foi beneficiado por voto de Lewandowski. O então ministro do Supremo mudou posicionamento que havia feito pela condenação de Valdemar pelo crime de formação de quadrilha. Ao alterar o entendimento, houve empate em relação a esse crime, o que beneficiou o à época réu. Ele acabou condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva e cumpriu pena no caso.

Parte dos bolsonaristas tem atacado a nomeação de Lewandowski por suas decisões no STF favoráveis a Lula e ao PT e seu histórico garantista no Judiciário.

Apoio a Nunes

Valdemar reafirmou em dezembro que o PL e Bolsonaro vão apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à Prefeitura de São Paulo, apesar de gestos do ex-mandatário na direção contrária.

O ex-presidente chegou a dizer dias antes "Salles prefeito". Naquela semana, Valdemar minimizou a declaração sobre o plano do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) de concorrer ao cargo.

Valdemar é aliado de Nunes e ofereceu a Salles a opção de se desfiliar caso ele queira concorrer à prefeitura. Salles, porém, tem dito a pessoas próximas que não pretende deixar a sigla e que ainda confia na bênção de Bolsonaro para encabeçar uma chapa do PL na corrida eleitoral.

Candidaturas em capitais

Em novembro, Bolsonaro afirmou que o PL tem enfrentado problemas para definir nomes para as eleições de 2024 e que, por vezes, tem que "engolir" o candidato de Valdemar e vice-versa.

"Nós temos tido problemas. Vários nomes para disputar a prefeitura na mesma cidade. Isso não é fácil", disse. "Na medida do possível, eu me coloco no lugar dele [Valdemar], ele se coloca no meu lugar, e para nós podermos crescer temos que abrir mão. Então, por vezes, eu engulo o candidato do Valdemar, depois ele engole um candidato meu."

Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, Valdemar e Bolsonaro divergem sobre candidaturas em algumas das capitais.

O acordo é que Bolsonaro terá preferência sobre os arranjos no Rio de Janeiro e Valdemar em São Paulo. Nas demais cidades, a definição se dará por meio de pesquisas.

Em João Pessoa, Bolsonaro prefere o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, cuja cerimônia de filiação foi prestigiada por Valdemar. O dirigente partidário, no entanto, aposta no deputado federal Cabo Gilberto (PL-PB).

No Recife, o ex-presidente quer lançar o ex-ministro do Turismo Gilson Machado. Por não haver outro nome competitivo, Valdemar tende a apoiar a escolha.

Reforma Tributária

Valdemar disse em julho que Bolsonaro errou "na comunicação" quando se declarou contra a reforma tributária e que o PL ainda poderia mudar de posição no Senado, na época.

A postura foi na contramão da votação na Câmara, quando o partido e o ex-presidente se posicionaram contra a medida. De 99 deputados da sigla, 20 votaram a favor.

Diante de uma proposta que contou com o apoio massivo na Casa, a derrota caiu no colo do ex-presidente, que Valdemar disse acreditar poder mudar de opinião diante da votação.