Lula volta a acusar EUA de manipulação da Lava Jato em visita a refinaria símbolo da operação
IPOJUCA, PE, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta quinta-feira (18), em referência à Lava Jato, ainda que sem mencioná-la explicitamente, que tudo que aconteceu no Brasil foi "uma mancomunação" de alguns juízes e procuradores brasileiros "subordinado ao departamento de Justiça dos Estados Unidos que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras".
A fala foi feita durante visita para anúncios de investimentos na refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, a 43 km do Recife.
"Tudo o que aconteceu nesse país foi uma mancomunação entre alguns juízes desse país, alguns procuradores desse país, subordinado ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos que queriam e nunca aceitaram o Brasil ter uma empresa como a Petrobras".
"Eles não queriam que a gente tivesse a Petrobras em 1953", afirmou logo após a fala sobre os estadunidenses. Lula também afirmou, no discurso, que o Brasil tem "uma elite com complexo de vira-lata, subordinada aos interesses dos outros e com pouco interesse nesse país".
"Somente cinco anos depois [de deixar a Presidência] começou o processo de denúncia contra a Petrobras, que, na verdade, não era contra a Petrobras, se quiser apurar corrupção, apura-se. O que não pode punir é a soberania do país e da sua empresa mais importante que é a Petrobras", afirmou.
A refinaria foi um dos símbolos do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato e teve peso importante no maior prejuízo já registrado pela estatal, em 2014, fruto de baixas contábeis em investimentos que não tinham viabilidade econômica.
O empreendimento, lançado em 2005 em parceria com a estatal venezuelana PDVSA, sob o governo de Hugo Chávez, não foi completamente terminado e, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), já gerou perdas de aproximadamente R$ 15,5 bilhões, operando com menos da metade da capacidade projetada.
Ela esteve na sentença condenatória de Lula em primeira instância no caso do tríplex, em Guarujá (SP), assinada pelo então juiz Sergio Moro no âmbito da Operação Lava Jato e que foi depois anulada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Moro afirmou na sentença condenatória que o petista havia recebido vantagem indevida pela OAS, participante de consórcio para construção da refinaria com a Petrobras.
Após deixar a magistratura e se tornar ministro de Jair Bolsonaro (PL), o hoje senador pela União Brasil foi declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal em sua atuação nos processos de Lula e teve suas decisões anuladas.
Lula foi à região anunciar investimentos ao projeto, previstos pelo novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e pelo Plano Estratégico da Petrobras, de 2023 a 2027.
O projeto de expansão do chamado trem 2 da refinaria acrescenta capacidade de refino de 150 mil barris de petróleo, com a produção de 300 milhões de litros de diesel ao ano. Ele foi aprovado ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), após dificuldade na venda do ativo por não estar concluído.
A primeira unidade da refinaria, com capacidade para refinar 115 mil barris de petróleo por dia, está em operação desde 2014. A Petrobras chegou a negociar o ativo durante a gestão Bolsonaro, mas não conseguiu concluir a venda. A avaliação da empresa é que a obra inacabada acrescentava riscos para eventuais compradores e, em novembro de 2020, sua conclusão foi aprovada pelo conselho de administração. Com a mudança de governo, a venda está descartada.
Pela manhã, Lula cumpriu agenda em Salvador. Depois, deixou a Bahia rumo a Pernambuco, onde vai dormir nesta quinta. Na sexta, terá compromisso no Recife, onde participa da passagem de chefia no Comando Militar do Nordeste --e em seguida segue rumo ao Ceará para o lançamento da pedra fundamental do campus do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) em Fortaleza.
A viagem pelos três principais estados do Nordeste abre a série de roteiros que Lula promete fazer neste ano pelo Brasil. O presidente disse publicamente que quer viajar mais pelo Brasil em 2024, após priorizar a agenda internacional em 2023, o primeiro ano do mandato atual.
Em Ipojuca, Lula estava acompanhado da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), que tem feito acenos ao presidente em indícios de uma possível aproximação futura. Também estavam presentes a senadora Teresa Leitão (PT-PE), a prefeita de Ipojuca, Célia Sales (PP), e o prefeito do Recife, João Campos (PSB).