PF investiga se Abin sob Ramagem atuou por interesses de filhos de Bolsonaro

Por BRUNO BOGHOSSIAN

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A investigação da Polícia Federal sobre a atuação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) encontrou indícios de que a agência atuou para fornecer informações sobre investigações em andamento para Jair Renan e Flávio Bolsonaro, filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Irregularidades na Abin, entre elas o uso do software espião FirstMile, estão na mira da operação Vigilância Aproximada, que investiga uma "organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial".

No caso de Jair Renan, a Abin teria atuado para ajudar o filho do presidente que era alvo de investigação pela PF sobre as relações com empresas que mantinham e tinham interesse em contratos com o governo federal.

Agentes da Abin tentaram atrapalhar a investigação e coletar informações com o objetivo evitar "riscos à imagem" de Bolsonaro.

Um policial federal lotado na Abin chegou a seguir um dos alvos da investigação, que desconfiado acionou a Polícia Militar.

O policial foi ouvido pela PF e confirmou que trabalhava diretamente com Ramagem e que recebeu a missão de levantar informações sobre o caso investigado.

Flávio Bolsonaro, por sua vez, teria sido beneficiado com a atuação da Abin para levantar informações contra auditores da Receita Federal.

O filho de Bolsonaro à época era investigado no caso da rachadinha da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e tentou apontar para irregularidades na Receita como forma de anular a apuração.

Após uma reunião das advogadas de Flávio com Bolsonaro, agentes da Abin teriam produzido relatórios sobre com o senador deveria atuar para se livrar das investigações.

"Defender FB no caso ALERJ demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB", trazia no título um dos relatórios produzido por integrantes da Abin.

No documento, encaminhado para a defesa de Flávio Bolsonaro por mensagem de aplicativo, eram apontados caminhos a serem seguido pelo senador para desmontar as acusações que pesavam contra ele.

A operação desta quinta (25) é a segunda fase da Última Milha, deflagrada em outubro de 2023 para apurar o uso do software espião FirstMile.

Com base em documentos apreendido na primeira fase e nas quebras de sigilo, a PF investiga se a Abin durante o governo Bolsonaro utilizou o software espião FirstMile e produziu relatórios sobre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e políticos adversários do ex-presidente da República.

Entre alvos estariam os ministros do STF, Gilmar Mendes, e políticos como o atual ministro da Educação Camilo Santana (PT), então governador do Ceará. As autoridades teriam sido alvos de uma estrutura paralela dentro da Abin, integrada por policiais federais e oficiais de inteligência próximos ao então diretor da agência, Alexandre Ramagem.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, documentos em posse da Polícia Federal indicam que funcionários da Abin lotados no CIN utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro --a ferramenta invadia a rede de telefonia nacional.

O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por Ramagem.

A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar "atividades de inteligência" destinadas "ao enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado" e assessorar órgãos competentes sobre "atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosa".

O centro foi desmontado pela reestruturação promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação da PF que mirou o software espião.