Expectativa por cassação de Moro e por eleição extra afeta disputa à Prefeitura de Curitiba

Por CATARINA SCORTECCI

Ministério Público pede cassação de Moro por abuso de poder econômico

CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - A hipótese de uma nova eleição ainda em 2024 para uma cadeira do Paraná no Senado, em uma eventual cassação de Sergio Moro (União Brasil), já mobiliza políticos e embaralha a disputa pela Prefeitura de Curitiba, marcada para outubro.

O ex-juiz da Operação Lava Jato é alvo de uma ação de investigação judicial eleitoral encabeçada pelo PT e pelo PL e, se condenado, pode perder o mandato, o que geraria a convocação de uma eleição suplementar no Paraná para definir um substituto.

Mas o julgamento do caso pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) estadual ainda não tem data para acontecer e qualquer decisão da corte regional ainda seria analisada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em grau de recurso.

A despeito disso, partidos já se articulam nos bastidores tanto para a virtual eleição ao Senado quanto para a disputa municipal na capital do Paraná. Alguns nomes flertam com as duas vagas. É o caso do ex-deputado federal Paulo Martins (PL), que em 2022 ficou em segundo lugar na disputa ao Senado.

Com apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador do Paraná Ratinho Junior (PSD), ele fez 29,1% dos votos, contra 33,5% de Moro, e superou nomes mais conhecidos da política paranaense, como Alvaro Dias (Podemos), que ficou em terceiro lugar e não conseguiu a reeleição.

Martins saiu daquela eleição como um nome forte da direita em Curitiba e tem se apresentado como pré-candidato à prefeitura. Nesta semana, foi nomeado assessor especial de Ratinho Junior, de quem é amigo.

Se Moro perder o mandato, contudo, Martins também seria o nome natural do PL para a vaga ao Senado. O nome de Michelle Bolsonaro (PL) também tem sido ventilado por aliados do ex-presidente no Paraná, mas a própria ex-primeira-dama não deu sinais até agora de que poderia trocar de domicílio eleitoral para tentar a vaga hoje do ex-juiz.

No PT, há mais de um nome tanto para a eventual eleição ao Senado quanto para a prefeitura. A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, aparece como possibilidade para o pleito fora de época, assim como o deputado federal Zeca Dirceu, líder do partido na Câmara dos Deputados.

Zeca Dirceu também flerta com a vaga para a prefeitura de Curitiba, ao lado de outros nomes do PT, como o da deputada federal Carol Dartora, mas a legenda pode desistir da candidatura própria e aprovar uma aliança com o PSB, com o deputado federal Luciano Ducci na cabeça de chapa.

O deputado estadual Requião Filho (PT) diz que é provável que o partido aprove a união com o PSB para o pleito municipal, o que ele critica, alegando que se trata de uma imposição nacional. Ele já foi cotado para a prefeitura, mas, insatisfeito dentro do partido, diz que não pretende mais deixar o nome à disposição.

Requião Filho ainda reconhece interesse pela cadeira no Senado, na hipótese de cassação de Moro, mas declara que não encontrou respaldo da sigla. "O partido deixou claro que o PT tem dono e que eu não teria espaço para disputar a vaga", diz ele.

Políticos filiados ao PSD, MDB e PP também já se colocam na pré-campanha da eleição suplementar ao Senado, enquanto suas legendas fazem costuras para a prefeitura.

Desde meados do ano passado, o deputado federal licenciado Ricardo Barros (PP), secretário na gestão Ratinho Junior, se diz abertamente pré-candidato à vaga de Moro. Enquanto isso, articula uma aliança com Eduardo Pimentel, atual vice-prefeito de Curitiba e pré-candidato do PSD para a prefeitura em outubro.

Barros quer a filha, a deputada estadual Maria Victoria (PP), na chapa de Pimentel, como candidata a vice-prefeita. O PSD é o partido do atual prefeito, Rafael Greca, que está em seu segundo mandato.

Outros partidos ?como o Novo e a União Brasil, que abriga Moro? permanecem discretos no debate sobre a possibilidade de uma eleição extra ao Senado e publicamente apresentam nomes só para a Prefeitura de Curitiba.

A principal liderança do Novo no Paraná é o deputado federal cassado Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato e aliado do ex-juiz. Deltan foi considerado inelegível pelo TSE no ano passado, mas ele tem insistido na pré-candidatura à prefeitura.

A estratégia é fazer o registro na disputa e aguardar a nova análise da Justiça Eleitoral. Outro plano estudado pelo Novo é lançar a advogada e empresária Fernanda Dallagnol, esposa do ex-procurador.

Mais votado da bancada do Paraná na Câmara em 2022, Deltan é considerado um nome forte pelos adversários, e a entrada do casal nas eleições de 2024 teria potencial para mexer no tabuleiro das alianças.

Na União Brasil, o nome da deputada federal por São Paulo Rosangela Moro, casada com o ex-juiz, aparece nos bastidores como uma possibilidade para o Senado, mas aliados acreditam que uma nova transferência de domicílio eleitoral, agora de volta para o Paraná, poderia ser um obstáculo.

Em Curitiba, o deputado estadual Ney Leprevost tem se colocado até aqui como o pré-candidato do partido à prefeitura.