Aldo dá indireta a Lula, e Nunes cita presunção de inocência para defender ato de Bolsonaro

Por CAROLINA LINHARES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao tomar posse nesta segunda-feira (19) na Prefeitura de São Paulo, o ex-ministro e ex-deputado Aldo Rebelo discursou a respeito do papel do Brasil nos conflitos mundiais, numa espécie de recado ao presidente Lula (PT), envolto em uma crise diplomática após comparar a ofensiva militar de Israel em Gaza ao Holocausto.

"O Brasil está vocacionado ao caminho da conciliação e do entendimento. [...] O Brasil tem que ser sempre o caminho da solução, o Brasil não pode ser parte do problema", disse, mencionando os conflitos EUA versus China, Rússia versus Ucrânia e árabes versus judeus. Nesse momento, a plateia o aplaudiu.

Na cerimônia, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) deu posse a Aldo na Secretaria de Relações Internacionais e a José Renato Nalini na Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas.

O prefeito, por sua vez, aproveitou o evento e suas falas para calibrar sua associação com o bolsonarismo, depois de ter declarado que vai à manifestação a favor de Jair Bolsonaro (PL) no próximo dia 25.

Em seguida, porém, questionado por jornalistas, voltou a sair em defesa do ex-presidente. "O que eu escutei do vídeo dele [Bolsonaro] é que ele está fazendo um evento, uma manifestação pública, que é um ato da democracia", disse Nunes. "A gente precisa verdadeiramente ser democrata. A presunção da inocência está prevista na Constituição."

Líderes do MDB marcaram presença em peso na posse de Aldo, além de políticos de partidos diversos, o que deu à cerimônia o ar de frente ampla que Nunes busca para diluir Bolsonaro como seu principal apoiador. Os emedebistas defenderam a reeleição do prefeito e pregaram não serem de direita ou esquerda.

"Nos tornamos a capital mundial da vacina", discursou o prefeito, afirmando que não falou na capital oxigênio ou outros insumos na pandemia ?uma contraposição a Bolsonaro. "Aqui a gente não prega ódio, a gente prega resultado e cuidar das pessoas", emendou.

Como noticiou a coluna Painel, a pré-campanha de reeleição do prefeito vai se ancorar no MDB e na defesa da vacina para se diferenciar de Bolsonaro.

Nunes também alfinetou seu adversário Guilherme Boulos (PSOL) ao dizer, por exemplo, que veio da periferia e não se mudou para lá por oportunismo eleitoral.

"Aqui temos segurança jurídica, as pessoas sabem que podem investir porque nós temos segurança jurídica, nós respeitamos a lei", disse também em crítica ao psolista.

O evento reuniu uma série de nomes relevantes da política, além de bolsonaristas. Como mostrou o Painel, a campanha do prefeito colocou como estratégia inverter a crítica de que "Nunes apoia Bolsonaro" para "Bolsonaro é quem apoia Nunes".

Entre as autoridades presentes estavam o ex-presidente Michel Temer (MDB); o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI); o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP); o ex-secretário Fabio Wajngarten; o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB); os deputados federais Paulo Bilynskyj (PL-SP), Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e Paulinho da Força (Solidariedade-SP); os secretários estaduais Gilberto Kassab (PSD) e Sonaira Fernandes (Republicanos); os governadores Helder Barbalho (MDB-PA) e Paulo Dantas (MDB-AL); os ex-ministro Celso Lafer e Moreira Franco; o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo; além dos demais secretários municipais e vereadores.

Com discursos dos líderes do MDB, que marcaram presença em peso, a cerimônia reforçou o vínculo do prefeito com o partido e serviu de resposta às criticas pela bolsonarização de Nunes.

Temer, por exemplo, afirmou que os "conceitos de direita e esquerda estão superados". O ex-presidente chamou Nunes de "prefeito de hoje e prefeito de amanhã", em referência à reeleição.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a entrada de Aldo na gestão Nunes reconfigura o secretariado com vistas à eleição municipal e ajuda o prefeito a acenar ao bolsonarismo e sinalizar amplitude em seu arco de apoiadores.

Ex-ministro dos governos Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT) e ex-deputado federal (1991-2015), Aldo militou no PC do B e hoje é filiado ao PDT, mas pediu licença do partido para integrar a gestão do emedebista, já que a legenda apoia Guilherme Boulos (PSOL) na eleição municipal.

Ao mesmo tempo, Aldo tem boa relação com Bolsonaro e atualmente tem a simpatia dos bolsonaristas por defender bandeiras nacionalistas, a defesa da Amazônia e ter boa interlocução com os militares.

Aldo foi autor da lei que declarou o dia 20 de novembro como data de homenagem a Zumbi dos Palmares e foi relator do Código Florestal.

Em um sinal da aproximação entre Aldo e Bolsonaro, o ex-presidente publicou neste sábado (17) um trecho de uma entrevista em que o ex-ministro diz que não se pode "atribuir nenhum tipo de seriedade" à tentativa de golpe bolsonarista que está no alvo do STF (Supremo Tribunal Federal).

No vídeo institucional da prefeitura para apresentar a biografia de Aldo, foi mencionado seu bom trânsito entre políticos de esquerda e de direita. "Agora Aldo volta a integrar uma frente ampla", disse a narração.

Em seu discurso, Nalini afirmou que Nunes foi pioneiro em criar uma Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas e que o estado atual é de emergência climática no mundo.