PSDB-SP elege Vinholi como presidente em meio a racha entre grupos de Doria e Leite

Por CAROLINA LINHARES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O PSDB de São Paulo elegeu, na quarta-feira (6), o ex-deputado e ex-secretário Marco Vinholi para comandar a executiva estadual do partido. A realização da reunião, contudo, é contestada por uma ala da sigla.

Ligado a João Doria (ex-PSDB, que anunciou sua desfiliação no fim de 2022) e a Rodrigo Garcia (PSDB), Vinholi volta ao cargo que ocupou de 2019 a novembro de 2023. Hoje ele é um dos diretores do Sebrae-SP.

A escolha de Vinholi em uma reunião virtual que teve a presença de 97 dos 105 membros do diretório estadual enfrenta oposição do atual presidente estadual da sigla, Paulo Serra, que é prefeito de Santo André e ligado ao governador Eduardo Leite (PSDB-RS), integrando o setor que rivalizou com Doria. Serra também preside a federação PSDB-Cidadania em São Paulo.

A primeira questão a ser enfrentada por Vinholi é definir um rumo na eleição da capital paulista, que divide o PSDB entre os que defendem uma candidatura própria, os que querem apoiar a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) ou ainda apoiar Tabata Amaral (PSB).

À Folha de S.Paulo Vinholi diz que a decisão do partido a respeito da capital será tomada "o mais rápido possível", mas evitou apontar um caminho. A janela de migração partidária teve início nesta quinta (7) e vai até 6 de abril.

"Estou assumindo hoje num diálogo intenso com as lideranças do partido", diz Vinholi. Ele afirma que vai ouvir líderes locais e nacionais, inclusive Leite, a respeito da eleição na capital. A direção nacional do PSDB já determinou que as principais cidades do país devem ter candidato próprio.

"O caso de São Paulo, pela importância da cidade, temos que ouvir todas as lideranças", afirma.

Opositor de Vinholi, o ex-senador José Aníbal assumiu o comando do PSDB na capital na semana passada e defende que o partido tenha protagonismo na eleição, ou seja, trabalha pela candidatura própria --apesar da falta de nomes competitivos na legenda.

O diretório municipal estava sem liderança desde que o então presidente, Orlando Faria, deixou o posto e embarcou na pré-campanha de Tabata.

Boa parte dos tucanos, incluindo a bancada de vereadores, vai apoiar Nunes, já que sua gestão é a de Bruno Covas (PSDB), eleito em 2020 e que morreu no ano seguinte. O PSDB está entranhado na prefeitura com uma série de cargos. Alguns tucanos defendem ainda que, caso a candidatura própria naufrague, o partido apoie Nunes, mas com a condição de ocupar a vice na chapa, posto já previsto para o PL de Jair Bolsonaro e cobiçado por outras siglas.

Vinholi afirma ainda que o PSDB pretende lançar de 70 a 100 candidatos no estado neste ano. Em 2020, o PSDB elegeu 172 prefeitos, chegou a 238 em 2022 e hoje tem cerca de 30.

Fragmentado e diminuído após a derrota no estado em 2022, o PSDB buscou uma unificação e conseguiu apresentar uma chapa única para o novo diretório paulista, eleito no último dia 25.

Mas, na etapa seguinte, em que os membros do diretório elegem a nova executiva, voltou a haver impasse entre os grupos de Vinholi e Paulo Serra --reproduzindo a divisão que o partido enfrenta desde as prévias de 2021 entre Doria e Leite.

Serra controlava o PSDB-SP devido a uma intervenção de Leite que destituiu Vinholi, ato que, de acordo com tucanos, tirou a harmonia do partido no estado e complicou a escolha de um novo presidente. O gaúcho foi presidente nacional do PSDB ao longo de 2023, o que representou a derrocada do grupo ligado a Doria.

Em 2026, Paulo Serra vislumbra concorrer ao governo paulista, enquanto Vinholi pretende ser candidato a deputado federal.

Desde o dia 25, a escolha do novo presidente foi adiada duas vezes, e a reunião desta quarta também chegou a ser cancelada por Serra, mas os membros do diretório resolveram entrar na sala virtual ainda assim e votaram pelo não adiamento, elegendo Vinholi em seguida.

Tucanos paulistas acreditam que a polêmica vai ser levada à executiva nacional, comandada por Marconi Perillo.

A executiva escolhida na reunião contempla grupos diversos do PSDB-SP, inclusive o de Paulo Serra --o tesoureiro Luiz Oliveira é ligado ao prefeito. A secretaria-geral segue com Carlos Balotta, e o primeiro vice-presidente é Alexandre Araújo, prefeito de Aguaí.

Em um aceno a Leite, Vinholi defende o apoio ao tucano para concorrer à Presidência da República em 2026. O PSDB entende que a candidatura presidencial é crucial para que o partido não perca ainda mais espaço no Congresso e, para isso, também orienta o lançamento de candidatos próprios nas maiores cidades do país, com o objetivo de promover a sigla e Leite nas eleições municipais deste ano.

Ainda assim, parte dos tucanos em São Paulo, como Aníbal, resiste a Vinholi, relembrando, por exemplo, a acusação de fraude em filiações de prefeitos para as prévias em 2021 e também a debandada de prefeitos durante sua gestão, após a derrota de Rodrigo em 2022.

Já aliados de Vinholi acusam o ex-governador e hoje deputado Aécio Neves (MG) de tentar interferir em São Paulo para barrar seu nome. Aécio faz oposição interna ao time de Doria, que tentou expulsá-lo do PSDB em 2019.