Petista confia mais em instituições que bolsonarista, aponta Datafolha

Por IGOR GIELOW

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em mais um retrato da natureza da polarização brasileira, os eleitores que se dizem bolsonaristas confiam muito menos nas instituições do que aqueles que se são petistas declarados.

É o que aponta a mais recente pesquisa do Datafolha, feita em 19 e 20 de março com 2.002 entrevistas em 147 municípios do país. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.

O instituto apresentou aos ouvidos, como faz com regularidade, uma ficha pedindo para que apontassem a sua confiança em dez instituições. O resultado, com algumas variações, não mudou o cenário registrado em setembro do ano passado.

Depois, o Datafolha cruzou o resultado com a autodeclaração política dos entrevistados, que no cômputo geral desenha um quadro com 41% de petistas e 30% de bolsonaristas, incluindo nos grupos aqueles que se dizem muito afinados à orientação e os que afirmam ser um pouco.

Em apenas três itens os apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL), concordaram, de forma aproximada: no seu grau de confiança nas Forças Armadas, nas grandes empresas e nas redes sociais.

Nas outras categorias, divergências abissais sobre o que acham da Presidência, do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional, dos partidos, da imprensa, do Judiciário e do Ministério Público.

O caso dos militares, categoria que historicamente é atacada pela esquerda e que virou vilã recente dada a simbiose com o governo Bolsonaro e a presença de oficiais graduados nas tramas golpistas que antecederam o 8 de janeiro, é particularmente curioso.

No geral, colocados no centro da crise da apuração sobre a conspirata bolsonarista neste trimestre, os militares não tiveram uma grande mexida de percepção. Não confiam neles 23% (eram 21% antes), ante 76% que confiam muito ou um pouco (78% em setembro).

Questionados, bolsonaristas que não confiam nos militares são 28%, ante 71% que confiam. Petistas, 20% e 79%, respectivamente.

Sobre grandes empresas, os índices gerais de 76% de confiança e 21% de desconfiança encontram 75% e 23% entre bolsonaristas, e 79% e 19%, entre aderentes do PT.

Já as redes sociais, instrumentais para a ascensão do então obscuro deputado Bolsonaro ao poder em 2018, hoje são mais malvistas pelos seus seguidores do que pelos de Lula. Bolsonaristas repetem o índice geral de 50% de confiança ante 49% de desconfiança, enquanto lulistas são mais generosos, com 54% e 45%, respectivamente.

Aí começam as discordâncias mais profundas. Na Presidência, a presença renovada de Lula no Planalto reflete num desagrado maior por parte dos bolsonaristas (65% de desconfiança), enquanto 88% dos petistas dizem confiar. Na população como um todo, 64% confiam (22% muito) e 35%, não.

O Supremo, palco da disputa principal de Bolsonaro neste momento, o quadro é semelhante. Apesar de a corte ter tido uma melhoria na avaliação do trabalho de seus ministros, quando a questão é confiança 39% dos brasileiros não dizem ter no tribunal. Já 58% dizem ter, mas apenas 21% afirmam ser muito.

Bolsonaristas, por sua vez, dão 67% de desconfiança a 32% de confiança ao STF, enquanto petistas invertem a equação para 79% a 18%. Embora não haja cruzamentos semelhantes à época, é certo que essa visão benigna dos seguidores de Lula não era a mesma quando eram ele e o PT o centro de apurações.

No Judiciário como um todo, 68% confiam. Outros 30%, não. Aqui, a ordem da percepção de rivais muda de intensidade: 53% dos bolsonaristas dizem confiar, ante 46% que não. Já os petistas marcam, respectivamente, 81% e 17%.

O Ministério Público, por sua vez, é visto como confiável por 71%, ante 28% que dizem o contrário. Para aderentes do ex-presidente, os números são 57% e 42%, na ordem, e para quem apoia o atual mandatário, 82% e 16%.

A confiança em deputados e senadores é mais baixa: 40% dizem não confiar, ante 59% que sim ?mas só 10% apontam que confiam muito. Entre bolsonaristas, a marca é 48% a 50%, e entre petistas, 31% a 68%.

Por fim, a imprensa, alvo constante dos governos Lula e Bolsonaro. Enquanto no cômputo geral sua confiabilidade atinge 65% (20% de "muito") e 34% de menções negativas, bolsonaristas se dividem: 51% não confiam, ante 48% que sim. Já os petistas, em que pese as críticas renovadas do presidente a jornalistas, confiam mais (79%) do que desconfiam (20%).