O "tempo da pol?tica" chegou

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O "tempo da pol?tica" chegou
 Eleições 2012 15/8/2012

O "tempo da política" chegou - a importância do horário de propaganda gratuita de TV e rádio

Embora a campanha eleitoral deste ano tenha começado oficialmente no dia 6 de julho, para muitos eleitores, a percepção de que o "tempo da política" chegou ainda está por vir: o horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE) na televisão e no rádio, que se inicia na próxima terça feira, dia 21 de agosto. No caso da TV, um dos motivos de sua relevância nas campanhas é a virtual onipresença desse meio de comunicação nos lares brasileiros.

De acordo com o IBGE, há mais casas com aparelhos de televisão em cores do que com geladeiras, alcançando em torno de 98% das residências. E o rádio também continua chegando a segmentos do eleitorado que dificilmente seriam atingidos com a mesma eficácia por outras estratégias.

Para ilustrar a possível audiência da propaganda eleitoral deste ano pode-se recorrer à campanha presidencial de 2010, em que quase metade dos eleitores com ensino superior chegou a assistir a pelo menos um dos programas. Na população geral, mais de 34% acompanharam o horário eleitoral. Esse número é alto o bastante para ser impossível superá-lo com quaisquer atividades presenciais de campanha (como comícios e similares).

Além disso, os espectadores da propaganda eleitoral, mesmo quando não definem o voto apenas em função dos programas, recebem ali subsídios informativos importantes para o processo de tomada de decisão. E, uma vez tomada uma posição, tendem a agir como multiplicadores em suas famílias e redes de relações sociais.

Em 2012, nas segundas, quartas e sextas, dois períodos de 30 minutos estarão reservados nas grades das emissoras de televisão para a propaganda dos/as candidatos/as à prefeitura: os dois blocos em horário nobre (de 13h às 13h30min e de 20h30min às 21h). Nas terças, quintas e sábados, nos mesmos horários, acontece a divulgação das candidaturas dos/as vereadores/as. A dinâmica eleitoral na TV se encerra a três dias do primeiro turno, em 4 de outubro – data-limite depois da qual também ficam impedidos os debates, os comícios e as reuniões públicas.

Os seis candidatos à Prefeitura de Juiz de Fora certamente têm consciência da centralidade desse espaço. Numerosas eleições recentes (inclusive a última disputa municipal, em 2008, e a última nacional, em 2010) evidenciaram grandes movimentos no eleitorado depois do início do HGPE. Em ambos os casos, todas as pesquisas de opinião demonstraram que houve significativa transformação nas intenções de voto depois do início dos programas.

Em 2008, poucas semanas após iniciar-se a exibição de propaganda na TV e rádio, Margarida Salomão saiu da terceira posição para a liderança da disputa. Houve grandes fatos políticos no período? Não. Houve grandes eventos de rua? Não. A única variável a explicar a rápida ascensão da candidata petista foi a evidenciação, nos programas, de que ela poderia encarnar o desejo de mudança de uma grande fatia do eleitorado que, até aquele momento, não tinha encontrado ainda um nome capaz de representar essa bandeira.

Em 2010, fenômeno semelhante. Nas pesquisas que antecediam o HGPE, Dilma e Serra encontravam-se muito próximos, quase em situação de empate técnico. Bastaram algumas semanas de programas na TV e no rádio para que Dilma disparasse e Serra caísse nas pesquisas. Interpretação majoritária entre os analistas: muitos eleitores queriam votar na continuidade do governo Lula, só não sabiam até aquele momento quem seria o candidato/a de Lula.

Os primeiros programas de Dilma dedicaram-se, obsessivamente, a colar sua imagem à de Lula e repetir à exaustão de que ela era sua candidata. Resultado: sobretudo nas regiões com eleitores menos escolarizados, Dilma alavancou seu crescimento após o início da propaganda televisiva e radiofônica.

Nas eleições municipais que se avizinham, portanto, a análise dos programas será um bom indicador das estratégias gerais das candidaturas, do cenário da disputa, dos posicionamentos de uns em relação aos outros, dos rumos que cada força política pretende imprimir à campanha. É essa análise que faremos, a cada semana, em artigos sobre os programas noturnos de televisão dos seis candidatos à prefeitura de Juiz de Fora em 2012. Bem-vindos à reflexão conjunta sobre o HGPE: a campanha está de fato começando e a comunicação é uma de suas arenas decisivas.


Paulo Roberto Figueira Leal (professor da UFJF; doutor em Ciência Política pelo Iuperj) e Vinícius Werneck Barbosa Diniz (doutorando em Ciência Política pelo Iesp-Uerj)