Eleições municipais e educação
Eleições municipais e educação
Em primeiro lugar, é fora de questão que a chave para a melhoria da educação encontra-se na figura do professor. Uma cidade que quer ver suas escolas aperfeiçoadas necessita investir maciçamente nos seus educadores. Nesse sentido, é fundamental que os candidatos se comprometam e expliquem de que maneiras cumprirão o piso nacional dos professores, que atualmente é de R$ 1.451. A valorização salarial do magistério é essencial para que eles tenham melhores condições de trabalho e possam dedicar mais tempo às suas atividades em uma determinada escola. Além da questão salarial, é necessário que os candidatos apresentem de que forma garantirão um programa efetivo de capacitação dos professores, de modo a assegurar que estes possam ter tempo e condições para aprimorarem e atualizarem seus conhecimentos.
Se cabe à prefeitura garantir a valorização salarial e a capacitação dos professores, também cabe a ela assegurar que o dinheiro investido dará resultados. Por isso, faz-se necessária a avaliação permanente do corpo docente, a despeito das resistências que existem em muitos segmentos sindicais. Avaliações devem ser realizadas tanto para o estabelecimento de diagnósticos mais precisos para o enfrentamento dos problemas, quanto para valorizar aqueles professores que buscam uma capacitação contínua e logram sucesso em assegurar o aprendizado dos seus alunos. Aqueles que, porventura, mesmo diante de um quadro de valorização salarial e melhoria das condições de trabalho, não cumprem suas funções de maneira adequada, devem passar por um processo de capacitação e requalificação.
Contudo, o debate escolar não se encerra apenas nos professores. E aí, entra o segundo ponto: é necessário que os candidatos apresentem propostas no sentido de assegurar a melhoria das estruturas das escolas. Por um lado, importa saber como serão afiançados os aprimoramentos físicos dos prédios, bem como a construção e manutenção de bibliotecas, de salas de informática, de laboratórios e de quadras esportivas. Além disso, é fundamental questionar de que maneira serão superados os problemas de superlotação das salas de aula, que prejudicam o processo de ensino e aprendizagem.
Por outro lado, é necessário saber se os candidatos oferecem caminhos para a implantação do ensino em horário integral. Manter os alunos nas escolas durante boa parte do dia, garantindo que eles tenham acesso não apenas aos conteúdos escolares, mas a uma alimentação saudável – que contribua para o combate ao alarmante quadro de obesidade infantil –, e a atividades extracurriculares – como esportes, aulas de computação, música, teatro, dança – é essencial, inclusive pelo fato de que estas transformações contribuem significativamente para a redução dos altos índices de evasão escolar.
O terceiro aspecto que deve ser debatido pelos candidatos nessas eleições diz respeito a como articular a escola com a questão da cidade. Nesse sentido, faz-se necessário mobilizar para o debate os familiares e a comunidade no entorno da escola. É fundamental que as escolas criem mecanismos de aproximação com os pais, trazendo-os para o ambiente escolar – seja mediante reuniões periódicas, seja através de atividades esportivas e culturais–, e, se possível, indo ao encontro dos mesmos, caso seja necessário. Muitas vezes, as crianças apresentam dificuldades no aprendizado não por aspectos cognitivos ou por questões internas à escola, mas pela razão de enfrentarem problemas em suas casas, que podem estar relacionados a diversas causas, como dificuldades financeiras ou violência doméstica. Oferecer esse apoio e aproximação é fundamental e precisamos de debater possíveis caminhos para isso.
Além do envolvimento com os familiares, é importante que as escolas estabeleçam diálogos mais sistemáticos com a comunidade em seu entorno, representadas por associações de bairro, instituições religiosas e outras formas de vida organizativa. Este processo cria um clima de comprometimento, contribuindo para que a vizinhança valorize a escola e os alunos valorizem os equipamentos urbanísticos do entorno escolar. Seria interessante que as escolas pudessem ficar abertas aos finais de semana para que as crianças e os pais as frequentassem também nos momentos de lazer. Da mesma forma, a escola deveria levar mais seus alunos para o seu entorno, realizando atividades em parques, praças e museus, promovendo, dessa forma, uma integração maior com o espaço da cidade.
Para concluir, chamo a atenção para um aspecto fundamental: todas as mudanças no campo da educação devem ser realizadas democraticamente. Isso pressupõe um diálogo permanente com os sindicatos e outros segmentos envolvidos na atividade educacional. Aqueles que convivem diariamente com os problemas e que cotidianamente buscam soluções e alternativas para a melhoria das condições de ensino e aprendizagem – professores, diretores, e demais funcionários –, devem ser as fontes primeiras de diálogo para a construção de uma política educacional que prepare melhor as novas gerações não apenas para se saírem bem nos testes nacionais, mas para o exercício da vida democrática.
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Fernando Perlatto é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFJF, doutorando no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ) e pesquisador visitante no Institute for Public Knowledge da New York University (NYU).