Dimensão plebiscitória de disputa com reeleição começa a se impor

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 Eleições 2012 30/8/2012

Dimensão plebiscitária de disputa com reeleição começa a se impor como grande questão da campanha

Campanhas nas quais os prefeitos são candidatos à reeleição costumam, por motivos óbvios, adquirir feições plebiscitárias com base numa questão lógica de fundo: o governo que quer continuar está sendo bem ou mal avaliado? Na percepção do eleitorado, teve sucesso ou fracassou? Merece novo mandato ou é a vez da oposição?

A literatura acadêmica chama essa ideia de voto retrospectivo (que tem por oposição lógica o voto prospectivo), que se baseia nas expectativas sobre o bem-estar futuro guiadas pelas avaliações das políticas públicas do passado e de seus resultados. É em torno dessas questões incipientes que, frequentemente, as candidaturas definem seus macroposicionamentos discursivos.

É aí que entra uma segunda pergunta: como os distintos candidatos de oposição (por definição, sempre em maior número do que a candidatura da situação) disputam entre si o espólio de votos daqueles que querem mudança no governo? Como se diferenciam uns dos outros e por que critérios narrativos se apresentam como mais aptos a receber o voto de quem não quer continuidade?

Na propaganda eleitoral exibida na última sexta-feira (24/08), o fio condutor dos três principais candidatos foi a apresentação de algumas de suas realizações e de seu perfil. Essa é uma estratégia comum no início da campanha na TV, antes de outras temáticas clássicas (como saúde, educação, segurança, etc) assumirem o centro do debate. Tanto o candidato do PMDB, Bruno Siqueira (que foi apresentado novamente, agora pelo vice, Sérgio Rodrigues), quanto Margarida Salomão (PT) veicularam um breve histórico de suas trajetórias de atuação política.

Já o candidato à reeleição, Custódio Mattos (PSDB), apesar de também optar pela apresentação de sua candidatura, preferiu fazê-lo de forma a ampliar as possibilidades do voto retrospectivo. Nesse sentido listou um conjunto de realizações que considera relevantes em sua administração. Bruno e Margarida, por outro lado, sem um mandato anterior no Poder Executivo, começaram a apresentar com maior destaque seus programas de governo.

Na segunda-feira (27/8) houve novamente uma proximidade temática nos programas de Margarida e Bruno. Em ambos discutiu-se saúde, demonstrando-se, pelo emprego de uma linguagem jornalística, as deficiências da cidade no atendimento à população e, posteriormente, com os próprios candidatos apresentando algumas propostas.

Custódio Mattos enfatizou as obras realizadas - "Era Maquete, Virou Obra", afirma o slogan - e os programas geridos por seu governo (como o Poupança Jovem). O mote, que tende a se estender pela campanha, é de um candidato que argumenta ter "arrumado a casa" e que por isso merece continuar (Custódio), e de dois candidatos que defendem que a cidade está mal administrada e malcuidada e que se oferecem como a solução (Margarida e Bruno).

Nos programas de quarta-feira (29/8), Margarida teve novamente os problemas na saúde pública como discussão central. Expressões como "retrocesso", "incompetência", "modelo de gestão ultrapassado" e "sentimento de abandono" dão conta do campo semântico que foi permanentemente acionado para falar da atual administração.

Tal como ocorrera em programas anteriores, a candidata apresentou encaminhamentos com base em políticas públicas implementadas pelo PT em outros municípios. A campanha petista é aquela, dentre os primeiros colocados nas pesquisas, que mais explicitou as vinculações partidárias (o PMDB de Bruno e o PSDB de Custódio estão até agora bastante ausentes de seus respectivos programas).

Bruno, cuja temática central foi a política habitacional, até reivindicou políticas do governo federal ("nosso governo federal", ressaltou), para criticar o discurso de Custódio apresentado em programas anteriores - que apresentava casas populares financiadas pela CEF como sucessos da administração municipal ("não podemos ter vaidade pessoal de dizer que um programa desses é de uma pessoa só", disse o peemedebista).

Contudo, a menção ao governo federal, cujo vice presidente é do PMDB, não foi acompanhada de argumentos propriamente partidários, como no programa petista. Mas o tom de crítica ao atual governo foi bastante duro, tal como aconteceu com Margarida. Essa é uma das variáveis que pode oscilar ao longo da campanha: se, à frente, Bruno estiver convencido de que terá uma das vagas no segundo turno, e se sua adversária for Margarida, é de supor que amenizará as críticas a Custódio, de quem esperará apoio.

Por fim, Custódio apresentou, no dia 29, um programa bastante reativo: grande parte do tempo foi dedicada à produção de respostas às críticas ao sistema de saúde do município. Listando os investimentos do atual governo, e comparando-os ao do anterior, o argumento tucano foi o de que houve avanços e que os problemas não são específicos de Juiz de Fora: "todo mundo sabe que a saúde é um problema nacional", "saúde é o principal problema de todas as cidades", "o governo federal não cumpre sua parte".

A evolução da campanha talvez mude as estratégias retrospectiva ou prospectiva das candidaturas. Ao sabor das oscilações nas pesquisas e das tendências de chegada ao eventual segundo turno, é possível que as ênfases sejam alteradas. Mas é importante que a argumentação sobre o passado (crucial para iluminar o presente) não exima qualquer candidatura de discutir e apresentar claramente à sociedade as políticas que se pretende implementar no futuro. Resta torcer para que a campanha seja de fato um fórum útil para que os eleitores juntem essas duas pontas.

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Paulo Roberto Figueira Leal (professor da UFJF; doutor em Ciência Política pelo Iuperj) e Vinícius Werneck Barbosa Diniz (doutorando em Ciência Política pelo Iesp-Uerj)