Um desenvolvimento arrojado e para todos (II)
Um desenvolvimento arrojado e para todos (II)
(Juiz de Fora na Economia do Conhecimento)
A economia contemporânea tem como principal recurso estratégico o conhecimento, e por isso tem sido chamada "Economia do Conhecimento", o que evidencia o papel absolutamente central do aprendizado contínuo nessa nova fase. O fator primordial para alavancar a competitividade passou a ser a inovação. O desenvolvimento da microeletrônica e das TICs – tecnologias da informação e comunicação – foi transferindo o eixo da economia dos bens industriais, típicos da 2ª revolução industrial, para os bens intangíveis cujo cerne são a informação e o conhecimento. Essa mudança radical suscitou também mudanças na gestão; houve uma desverticalização das empresas e uma fragmentação espacial da produção. A principal inovação organizacional ligada a esse novo paradigma foi a formação de redes, tanto entre instituições dentro do país, como além das fronteiras nacionais.
A possibilidade de transmissão de informações com a velocidade dos sinais eletrônicos não significa a democratização completa dos saberes. As políticas de controle da propriedade intelectual e de patentes não deixam ilusão quanto a isso. O que se difundiu e globalizou foi o uso das tecnologias, ou seja, do conhecimento codificado, mas o controle sobre o conhecimento gerador de tecnologias de fronteira continua restrito às economias centrais. A codificação do conhecimento torna possível se transformá-lo em mercadoria, em algo que pode ser transferido, comercializado, armazenado, etc.; ou seja, pode ser transmitido como uma informação. Já o conhecimento tácito, é aquele contido em um agente social ou econômico, em indivíduos e/ou instituições e requer uma interação social, como o processo de aprendizagem, para ser transferido. Por mais que aumente a codificação dos conhecimentos, ela nunca é completa, sempre haverá uma margem irredutível à codificação, que permanece nos indivíduos e nas empresas, só compartilhável através das interações humanas.
Nenhuma empresa inova sozinha; o processo de inovação é interativo e as instituições ligadas ao ensino e pesquisa, além de outras, cumprem nele um papel extremamente relevante. Dadas as características da economia globalizada, com a integração do comércio e a desintegração da produção, as maiores oportunidades surgem através da inclusão das empresas em cadeias produtivas globais. Em geral, as empresas dos países em desenvolvimento participam dessas cadeias como subcontratadas para tarefas específicas. Cumprindo essas funções, uma empresa pode se tornar imprescindível. Além disso, as inovações não se restringem às grandes empresas de países centrais. Os estudiosos do assunto chamam a atenção para o fato de que, sendo criadas algumas condições institucionais favoráveis (apoio, financiamento, parcerias geradoras de fertilização cruzada de ideias, etc), a inovação acontece, rompendo os limites da rotina. As inovações podem rejuvenescer empresas tradicionais e estão no âmago das empresas de base tecnológica.
Juiz de Fora é sede de várias instituições de ensino superior, portanto, formadoras de recursos humanos. O primeiro passo para inaugurar um novo padrão de desenvolvimento seria a busca por parcerias dos mais variados escopos, entre essas instituições e as empresas, dentro e fora da cidade, que ajudem a encontrar a melhor forma de inserção da economia local nesse novo paradigma da economia. As tecnologias circulam amplamente, mas o processo de criação de novos produtos e processos é localizado e o esforço de mudança envolve a criação de capacitação endógena na cidade.
Ao poder público no município cabe a responsabilidade de promover o ambiente institucional e os estímulos indispensáveis para desencadear esse movimento. É hora de mudança.
- Um desenvolvimento arrojado e para todos (I)
- Participação e distribuição de recursos
- A (i)mobilidade urbana
Helena Motta é graduada em Filosofia pela UFJF, mestre e doutora em Ciência Política pelo IUPERJ. Professora associada da UFJF, onde lecionou desde 1980 e aposentou-se em 2008. É integrante de um grupo de pesquisa da UFJF sobre Política Industrial e Ignacio Godinho Delgado, professor da UFJF, autor de diversos trabalhos sobre a política social brasileira e os dilemas do desenvolvimento no Brasil. Doutor em Sociologia e Política pela UFMG. Senior Visiting Fellow no International Development Department da London School of Economics (2011-2012).