Salários baixos e falta de infraestrutura prejudicam a educação em JF
Salários baixos e falta de infraestrutura prejudicam a educação em JF
Salas sem conservação, falta de material, salários baixos e desvalorização do trabalho do professor são apontados como os principais problemas nas escolas
Repórter
11/8/2012
Dando continuidade à série de reportagens do Portal ACESSA.com, que tem como objetivo apurar possíveis falhas, problemas e apresentar propostas para diferentes segmentos que constituem a cidade, neste sábado, 11 de agosto, chega a vez da educação de Juiz de Fora.
A cidade possui 361 escolas que atendem desde a educação básica até o ensino médio. De acordo com a coordenadora do Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF), Aparecida de Oliveira Pinto, são 130 escolas da rede municipal e 180 da rede particular. Já a Superintendência Regional de Ensino (SRE) afirma que existem 49 escolas da rede estadual no município. Além destas, mais duas escolas federais oferecem ensino médio e técnico na cidade.
O Sinpro-JF responde pelas escolas municipais e particulares e, de acordo com a coordenadora do sindicato, um dos problemas principais nas escolas da rede municipal diz respeito à questão salarial. "O piso nacional, atualmente, é de R$ 1.451 por qualquer jornada. Aqui no município, um professor das séries iniciais começa recebendo apenas R$ 705,24. Ou seja, Juiz de Fora está descumprindo uma determinação nacional," ressalta Aparecida.
Na rede particular, a situação salarial é melhor, como destaca a coordenadora do Sinpro-JF. "No ensino fundamental do 1º ao 5º ano, o salário é de R$ 1.358,18 para vinte horas trabalhadas. Já a educação infantil, que trabalha com crianças de três a cinco anos, o valor é de R$ 1.331,55 pelo mesmo tempo de serviço."
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Apesar da melhoria salarial, Aparecida afirma que os professores da rede particular de Juiz de Fora sofrem com a desvalorização do trabalho. "Há algum tempo, os professores da rede privada fizeram uma greve de 24 horas para chamar a atenção para este problema que afeta a rede."
Mas, para a coordenadora do Sinpro-JF, a situação pior em Juiz de Fora está na má conservação das escolas municipais. "Existem vários exemplos no município e um dos mais graves é a escola de Rosário de Minas, que é pequena e sem ventilação. Isso porque a escola funciona dentro de uma casa. Já em outros locais, temos escolas com 500 alunos, que possuem apenas três banheiros. Isso é um absurdo."
Outro problema citado por Aparecida refere-se à superlotação das salas de aula. "Algumas salas de aula no município funcionam com até 28 alunos. Esse número é muito alto para que os professores possam alfabetizar as crianças de forma tranquila e satisfatória."
A superlotação também foi denunciada pelo coordenador do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), em Juiz de Fora, Eleandro Ferreira. "Temos um processo absurdo acontecendo na cidade, com o aval do governo do Estado, que é a chamada enturmação, que é a fusão de duas turmas em uma só sala. O limite que o Estado determina é de 35 alunos para as turmas do 6º ao 9º ano, mas, em muitos casos, esse número é bem superior."
A falta de estrutura também é apontada por Ferreira. "Nossa escolas estaduais estão sucateadas. Algumas não têm nem mesmo quadro. Outras estão com a pintura horrível e por aí vai." O coordenador do Sind-UTE em Juiz de Fora também destaca a questão salarial, que, segundo ele, está sendo mascarada pelo governo de Minas. "O governo faz inúmeras propagandas, afirmando que o professor do Estado ganha além do piso nacional, mas isso não é verdade. O que acontece é que o governo incorpora benefícios como biênio e quinquênio nos salários. O pior é que agora os professores não têm mais salários, o que ganhamos é subsídio, que foi renomeado pelo governo estadual de Modelo Unificado de Remuneração. E esta nova forma de pagamento retira todos os benefícios adquiridos durante a carreira."
Ideb
Dados do Ministério da Educação (MEC) revelam que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Juiz de Fora está equivalente ou um pouco acima do registrado no país. De acordo com o MEC, o Ideb observado em 2009 (último ano analisado pelo Ministério) apresentou melhor resultado nas escolas federais. Nas 4ª e 5ª séries, o média foi de 7,5; e nas 8ª e 9ª, a avaliação obteve 6,3. As escolas municipais obtiveram 4,6 e 3,9, do 4º ao 5º ano e do 8º ao 9º respectivamente. Já nas escolas estaduais, as avaliações foram de 5,7 para as 4ª e 5ª séries e de 3,9 para as 8ª e 9ª séries. Neste mesmo ano, o Ideb nacional de 4ª a 5ª série foi de 4,6; já o índice apresentado pelas 8ª e 9ª séries foi de 4,0.
Para o professor da faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Paulo Roberto Oliveira Dias, a realidade do ensino em Juiz de Fora é positiva. "O Ideb do município apresenta resultados significativos e eu vejo que a cidade está caminhando muito bem." O professor destaca o trabalho feito na educação fundamental, nas escolas municipais, que, segundo ele, é a fase mais importante da aprendizagem. "Eu percebo um cuidado e uma atenção especial com este período da educação e isto é muito bom, pois se a criança tiver uma base de aprendizagem forte, ela irá conseguir evoluir cada vez mais nos anos seguintes." Outro ponto destacado por Dias é a Educação de Jovens e Adultos (EJA). "Vemos um número cada vez maior de pessoas retornando às escolas. E o ensino praticado no EJA é de boa qualidade, diferente de alguns cursos que vemos pela cidade, que oferecem diploma em um tempo muito curto."
Doutor em Educação, Dias já fez vários estudos sobre a política educacional aplicada pelo governo de Minas. "Em um dos meus trabalhos, analisei que tipo de política está atrelada ao decreto do ex-governador Aécio Neves que propõe que a criança entre no ensino fundamental com seis anos. Durante o tempo que pesquisei, não observei nenhum procedimento pedagógico implantado e nem adaptações realizadas na escolas estaduais. Por exemplo, colocaram crianças de seis anos dentro das salas de aula, mas não adaptaram as carteiras. Então, os alunos ficavam com os pés pendurados, o que pode provocar problemas para a saúde destas crianças."
O professor destaca que a educação, não só em Juiz de Fora, como em todo o país, tem três problemas graves, que são: a evasão escolar, o analfabetismo e a repetência. E que as escolas têm que fazer adaptações com a realidade atual para mudar este quadro. "Minha grande preocupação na educação é o que acontece dentro das salas de aulas. Por exemplo, muitos professores trabalham com o mesmo método de ensino de décadas e décadas atrás. É preciso observar a evolução que aconteceu e acontece na sociedade. Hoje, as crianças começam a lidar com computadores cada vez mais cedo. E quando elas chegam nas salas de aula e um método de ensino antigo é repassado para elas, as crianças acabam sendo desestimuladas."
Os textos são revisados por Mariana Benicá