Em Juiz de Fora, senador haitiano defende retirada das tropas

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Em Juiz de Fora, senador haitiano defende retirada das tropas

Em Juiz de Fora, senador haitiano defende retirada das tropas

Jean Charles Moise quer conscientizar os brasileiros para a necessidade da retirada das tropas de paz da ONU do Haiti

Raphael Placido
Repórter
15/4/2013

Em crise desde a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 2004, que se agravou com um terremoto em 2010, o Haiti convive, há quase 10 anos, com tropas militares da ONU ocupando o país. O contingente de "capacetes azuis" é formado por militares de vários países, sobretudo brasileiros. Boa parte deles saiu dos quartéis de Juiz de Fora.

Por isso, a cidade foi uma das escolhidas pelo senador haitiano Jean Charles Moise para sensibilizar os brasileiros e divulgar a desejo da população local da retirada das tropas. Na manhã desta segunda-feira, 15 de abril, ele esteve na Câmara Municipal, onde conversou com os jornalistas. Além de JF, ele também vai visitar Brasília e São Paulo. 

Originalmente, a Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH) tinha quatro principais objetivos: estabilizar o país; pacificar e desarmar grupos guerrilheiros e rebeldes;ajudar no desenvolvimento institucional e econômico do Haiti e promover eleições. O senador, entretanto, garante que isso não acontece, sendo desnecessária a presença dos militares. "Hoje, apenas 5% dos haitianos defende a manutenção das tropas. A ONU gasta 900 milhões de dólares por ano para manter os militares aqui. Com esse dinheiro, podemos formar e aumentar o contingente da Polícia Nacional, e ainda sobraria bastante para gastar em saúde, educação e infraestrutura", explica o Moise. Ele também critica duramente as ações e omissões dos militares, e acusa um contingente do Nepal de ter trazido o cólera ao país. A doença já matou mais de 7 mil haitianos. "As tropas não fazem nada. Elas ocupam as ruas com tanques, mas, quando há algum problema, não respondem. Eles não ajudam na agricultura, na educação, na saúde... Mas há relatos de estupros e enforcamentos. É isso que as tropas fazem", reclama.

Acompanhado do vereador Betão (PT) e de um tradutor,Jean Charles Moise agradeceu a acolhida que recebeu na cidade e ressaltou a importância dos brasileiros para uma maior discussão sobre a necessidade da retirada das tropas. "O povo haitiano não pode realizar essa luta sozinho. Essa presença impede nossa evolução e atinge nossa dignidade como povo. Se não houver uma manifestação total no Haiti em todo o mundo, os militares não vão deixar o país. Hoje, há uma maior sensibilização das pessoas para a retirada das tropas e a diminuição da influência externa, sobretudo dos EUA e do Canadá. É isso que justifico minha presença aqui", afirma.

Senador defende autodeterminação na reconstrução do Haiti

Crítico feroz de Michel Martelly, atual presidente do país, e que era cantor antes de assumir o cargo, Moise reconhece que a situação atual do Haiti ainda é muito complexa. "Nosso atual presidente não tem uma vontade concreta para resolver a situação. Ele foi praticamente imposto pelos EUA e está levando o país à catástrofe. Além disso, a comunidade internacional não respeitou boa parte das promessas feitas após o terremoto. Acho que vai levar muito tempo para o país se reconstruir", lamenta.

O país, localizado no Caribe, na América Central, convive com conflitos desde sua independência. Primeiro país latino-americano a proclamar sua independência, após uma rebelião de escravos, o Haiti se desvencilhou da França em 1804, após pagar uma indenização à antiga colônia. "Nossa miséria começou neste momento", afirma Moise. Segundo ele, para que os haitianos atinjam índices de crescimento econômico e social semelhantes aos que acontecem na maioria dos países latino-americanos, é necessário haver, acima de tudo, estabilidade política. "Precisamos que os haitianos tomem sua responsabilidade de trabalhar na melhoria da infraestrutura e educação do país, promovendo a reforma agrária e incentivando o turismo. Isso vai facilitar a circulação de dinheiro e gera empregos, sendo o motor do crescimento econômico", explica.